— NÃO! — Esse berro irrompeu no pequeno apartamento, despedaçando o silêncio mortuário que dominava cada um dos cômodos e despertando Eun Yang Soon e Park Soo Bong do misto de medo, derrota e impotência que infestava os pensamentos deles.
Depois de se entreolharem por um momento, sem acreditar no que haviam acabado de ouvir, ambos saltaram das cadeiras e se desembestaram cozinha afora. Do quarto. O berro viera do quarto.
Foram encontrar Ji Min de pé junto à janela, ao fundo do lugar. Dois animaizinhos de pelagem alaranjada saltitavam ao redor das pernas dele, tentando lhe chamar a atenção, mas sem sucesso. Ele se vestia de seda e ouro como o mais abastado dos nobres, o extremo oposto das roupas simples que usava em seu retorno anterior. Contudo, encarava o vidro com uma expressão aérea, vertendo lágrimas em silêncio. Pior, muito pior que o pedido choroso de alento que fizera ao chegar há quase duas semanas.
— Minnie? — chamou Yang Soon, aproximando-se devagar do dongsaeng. — Jiminnie?
— Dói em algum lugar? Você se machucou? — Soo Bong se preocupou, correndo até o irmão. Hesitou no meio do caminho, com medo dos animaizinhos (que só então reconheceu serem filhotes de raposa) o morderem, mas ao ver que o ignoraram, mais interessados em chamar a atenção de Ji Min do que em qualquer outra coisa, prosseguiu, tomando uma mão dele nas suas. O olhar se cravava no rosto dele, suplicante. — Por favor, Ji Min-ah…! Fale com a gente…!
— “Nosso deus só nos dá o que pedimos” — Ji Min repetiu as palavras que dissera na noite anterior, pouco antes de desaparecer diante dos olhos de ambos. Depois fungou, derramando mais lágrimas, desolado. — Eu pensava que isso se resumisse ao que eu desejo pra minha vida, mas não é verdade. Não pra mim. Não enquanto eu estiver preso ao meu propósito.
— Que propósito, Ji Min-ah? — indagou Soo Bong, agoniado. — Do que você está falando?
— Park Soo Bong-ssi.
— O quê?! — Soo Bong se voltou na direção de Yang Soon, encontrando o olhar dele flechado nas suas mãos. Ou melhor, na mão que segurava. Havia uma aliança de ouro no quarto dedo dela. Seus olhos se arregalaram. — Ji-! Ji Min-ah…?!
Yang Soon se interpôs entre Ji Min e a janela, segurando os ombros dele para conseguir sua atenção e perguntou:
— O que aconteceu do outro lado, Minnie?
Ji Min comprimiu os lábios e desviou os olhos dos do melhor amigo, recuando do toque dele e de Soo Bong para se abaixar e apanhar os filhotes de raposa no colo. Ele parecia desconcertado, arredio até. Estava claro que preferia se embolar sob o edredom ou fugir para chorar no banheiro a falar sobre o que havia acontecido do Outro Lado. O mesmo, exatamente o mesmo que tinha feito há onze dias.
Yang Soon cerrou os punhos. Havia respeitado o silêncio de Ji Min da outra vez — algo que causasse onze dias de lágrimas deveria ser delicadíssimo —, porém não mais. Ele havia sumido de novo, e sem estar dormindo! Exceto pela franja que permanecia a lhe acortinar os olhos castanhos, o cabelo dele batia no queixo, apesar de tê-lo cortado rente à cabeça há apenas dois dias! Estava óbvio que o tempo no mundo d’Os Sonhos estava passando muito, mais muito mais rápido que ali. Se não fizesse nada, Ji Min iria atingir a velhice antes do Natal! Ele precisava contar o que estava havendo, já!
Ele percebeu sua obstinação irritadiça — e a agonia de Soo Bong, prestes a explodir de nervoso — e disse vacilante, alternando o olhar entre ambos:
— Eu vou contar, só… Só deixa eu me trocar primeiro, ok?
— Trocar…? — Soo Bong quase engasgou com a palavra, piscando freneticamente atrás dos óculos sem lentes antes de abrir os olhos até o limite e berrar, como um maldito histérico:
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Outlander || Yoonjikook
RandomA vida de Park Ji Min se resume a fazer seus deveres acadêmicos - que consomem quase todo o seu tempo -, comer e dormir. Suas amizades são mantidas por encontros de corredor, raras visitas em casa, ligações e mensagens. Vivendo entre o silêncio da c...
