Havia cerca de meia-hora, quarenta minutos no máximo, que haviam deixado o Templo de Mulrahee. Ji Min cantarolava distraidamente, brincando com algumas mechas do próprio cabelo. Um sorriso bem-humorado pintava sua face, e Jung Kook, dividido entre seguir a lebre e observar o esposo, se alegrava e se orgulhava de ter colocado aquele sorriso nos lábios dele, por vê-lo perdurar por tanto tempo também, pois isso mostrava que seu Chin Tae estava confortável, apesar do frio que os cercava e do medo que ele tinha de cavalgar.
Se soubesse de antemão que ver a si mesmo retratado por suas mãos como tributo de agradecimento à deusa deixaria Chin Tae tão feliz, Jung Kook teria feito com que ele o acompanhasse para ver o esboço de prata tomar forma nas paredes de pedra.
Ji Min, por outro lado, preferia a surpresa que sentiu ao se deparar com sua versão de olhos flamejantes, vestida dos sentimentos benévolos e das bençãos inesgotáveis que marcavam seu pyeongsangbok imperial e envolta em chamas que se confundiam com seus cabelos pronta à ideia de vê-la nascendo, porque saber que Jung Kook o amava e o queria exatamente como a bagunça nem humana nem divina que era, não que apenas a aceitava por amor, o teria feito chorar horrores do início ao fim do trabalho. Estaria todo feioso e catarrento agora — feioso segundo suas próprias noções de estética ao menos, porque, para Jung Kook, seu Chin Tae era e sempre seria tão lindo quanto a mais bela pintura.
Ambos foram tirados de seus respectivos devaneios quase ao mesmo tempo, cada um sentindo à sua própria maneira várias presenças nas cercanias. De imediato, a lebre parou, cheirou o ar e retrocedeu apressada, saltando direto para o colo de Ji Min — um senhor indício de que coisa boa não vinha pela frente. Ji Min a pegou no susto, e Jung Kook puxou as rédeas de Sin Cheol. Sem as instruções da lebre de nada adiantaria continuar andando. No instante seguinte, a maior parte dos donos das presenças que sentiam se mostrou a eles: homens e mulheres vestindo couro cru e peles de animais. Todos armados com facas e espadas de ferro, muitas das quais com emendas tortas. Uns dois possuíam lanças que deviam ter sido furtadas do Clã Gris em algum passado distante. Eram dezenove sem contar os seis que permaneciam ocultos entre as pedras, certamente com bestas apontadas na direção deles.
Batedores dos Clãs Bárbaros.
— Olha só pra isso! — Um dos homens deu um passo à frente, exibindo um largo sorriso de dentes podres. — A gente queria carne pra sopa e esbarrou num banquete!
— Não vamos passar fome nem tédio hoje! — festejou outro, lambendo os lábios.
— Carne de cavalo fica ótima quando preparada direito — comentou uma das mulheres, rolando seu olhar sinistro de Sin Cheol para Chin Tae. — De dameoline também…
Ji Min estremeceu, e Jung Kook alisou o polegar em sua cintura a fim de acalmá-lo.
— Calma lá, pessoal — pediu o homem que parecia ser o mais velho do grupo, dado ao aspecto grisalho de sua barba e cabelos ralos e às muitas rugas que trazia no rosto. — Assim eles vão pensar que somos um bando de animais selvagens! — A atenção dele se focou em Ji Min e Jung Kook, o sorriso que lhes mostrava era gentil. — O que dois nobres senhores fazem tão longe de casa? Perderam-se de seus companheiros por acaso? Digam-nos para onde iam, e podemos levá-los até eles. Basta que nos entreguem o cavalo e a lebre de bom-grado para termos um acordo…
Ji Min abriu a boca para argumentar — aquele não podia ser o único caminho, certo? —, mas Jung Kook foi mais rápido ao dizer duramente:
— Não desperdice suas palavras com este mentiroso, Chin Tae-yah. Os Clãs Bárbaros nunca poupam ninguém. Ele só está interessado em aumentar a pilhagem.
A gentileza do sorriso do velho foi substituída por um divertimento perverso.
— Vejo que não foi um dameoline desavisado que pegamos, afinal? Pena que não foi inteligente o suficiente para evitar o nosso território. — Ele se virou para Ji Min. — O jovem senhor tem razão, Chin Tae-yah. Isso não acaba com vocês indo embora. Temos mesmo o costume de matar aqueles que atravessam nosso caminho no ato, porque homens regulares não nos interessam, mas vocês… vocês são tão bonitos que fazem parecer que os deuses foram injustos com a maioria de nossas mulheres. — Alguns dos homens deram risadinhas, apontando as cicatrizes nos rostos de algumas mulheres e os dentes tortos de outras e receberam socos e tapas delas. O sorriso do velho se encheu de malícia, não seria exagero dizer que comia Ji Min com os olhos. — Vocês fazem parte da pilhagem e irão nos aquecer pelo restante da caçada, talvez até depois se se mostrarem suficientemente obedientes.
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Outlander || Yoonjikook
DiversosA vida de Park Ji Min se resume a fazer seus deveres acadêmicos - que consomem quase todo o seu tempo -, comer e dormir. Suas amizades são mantidas por encontros de corredor, raras visitas em casa, ligações e mensagens. Vivendo entre o silêncio da c...