— Alteza! — Uma voz sem características, porém familiar alcançou Ji Min, que não olhou para trás ou tampouco se deteve, avançando mais rápido por um peristilo pontuado de largas colunas. — Por favor, espere por mim, Alteza!
A construção à sua direita, as colunas, o teto e o chão… embora todos parecessem feitos de mármore numa primeira olhada, quase desapareciam quando observados com atenção e deixavam entrever nuvens brancas. No entanto, nem isso, nem o fato de estar mais flutuando que andando, nem mesmo a cálida luz que oirava tudo ao seu redor pareceram estranhos a Ji Min. Estava sufocado demais para se importar com detalhes tão triviais, sufocado demais para se ater a chuva fina que acompanhava seus passos, regando os belos jardins que se estendiam para além da imensa galeria de colunas.
— Como Rhali pode ser tão cruel? — Jogou a pergunta no ar, sentindo-se a ponto de explodir de tanta impotência. Sua voz era a sua e era outra, nenhuma, tal qual a de quem o seguia. — Por que a Grande Mãe fecha os olhos para seus desmandos? Eu não consigo entender!
— Não seja tão duro, Alteza — pediu quem o perseguia pela galeria, ao chegar ao seu lado. Vestia-se como um erudito da Era Joseon, mas não era uma pessoa, não exatamente. A silhueta variava entre a de um ser humano e a de um porco-espinho, e um porco-espinho bem grande! A pelagem era marrom e semissólida, e os espinhos pareciam lanças de ouro. Ambos irradiavam pequenos rastros de energia, que se transformavam em pequenas representações das mais variadas sortes de coisas e seres antes de se desfazerem a olhos vistos. O rosto ora era uma máscara, ora a real cara de um porco-espinho. Fazia com que Ji Min se recordasse dos antigos deuses egípcios, mas não o surpreendia. Nem mesmo suas próprias mãos, impregnadas de microerupções solares pelo que vira de relance, o surpreendiam! — Sua Majestade, a Rainha Rhali, apenas prioriza o equilíbrio do mundo.
— Equilíbrio?! — Seu nível de irritação alcançou o teto, e o brilho dourado que o cercava se expandiu, anulando a verdadeira cor do ser à sua frente. — Permitir que todo um clã seja exterminado por um homem que se julga a mais especial das criaturas? Onde há equilíbrio nisso?!
Os ombros do porco-espinho arriaram.
— Existem coisas que nem mesmo nós podemos mudar, Alteza.
Ji Min se viu ainda mais frustrado, quase à beira da dor física. Sentia-se sufocado, era insuportável.
— O que torna algo passível de nossa intervenção e o que o faz intocável? Mesmo após tantos anos, ainda desconheço a resposta. Às vezes, tenho a impressão de que sou o único membro da Corte Celeste que a desconhece.
— Isso não é verdade, Alteza.
O homem tentou tocá-lo, mas Ji Min se afastou dele.
— Por que a Grande Mãe me trouxe para cá? Por que me privar da companhia das pessoas que amo, se Ela não pretendia ouvir mais minhas palavras? Por favor, me diga!
— Tenta colher romãs em um arbusto de mirtilos, meu príncipe. — Uma terceira voz descaracterizada atraiu sua atenção à parte do corredor que havia deixado para trás. Outro ser meio humano e meio animal, um coelho branco cujas vestes azuis exibiam as insígnias reais, se aproximava deles. Uma porção de brincos feitos inteiramente de água pendiam das longas orelhas dele, como diamantes, a parte interna delas e os olhos dançavam, revestidos de água que brilhava como brutos blocos de safiras. — Afinal, o Mestre das Formas não é o Senhor das Luzes.
Ji Min suprimiu um suspiro de desânimo, desejava que fosse Dameolin ali. Mas claro que o Rei Benevolente não iria pessoalmente, nunca ia, ao menos não para ele. Gostaria de entender o porquê da relação deles ter mudado tanto desde sua chegada à Corte Celeste. Quando eu estava longe, a Mãe se mantinha perto de mim, e quando perto cheguei, Ela pôs todo um mundo de distância entre nós.
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Outlander || Yoonjikook
RandomA vida de Park Ji Min se resume a fazer seus deveres acadêmicos - que consomem quase todo o seu tempo -, comer e dormir. Suas amizades são mantidas por encontros de corredor, raras visitas em casa, ligações e mensagens. Vivendo entre o silêncio da c...