Capítulo XXXVI - A Odisseia do Coelho Dourado

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2103 E.L., Dia 164.

— Majestade! — chamava Jeon Na Wang, o Comandante da Guarda Imperial, com o olhar agitado vagando pelas águas turbulentas do Nurmul. — Majestade! Pode me ouvir?!

A Guarda Imperial vasculhava a margem oeste do Nurmul e seus arredores há quase uma hora, buscando pelo Imperador Conclamado. Mas até agora não havia conseguido encontrar qualquer rastro dele. Ele não poderia ter morrido, poderia? Não, isso era impossível. A deusa Mulrahee o favorecia. Ela jamais permitiria semelhante tragédia, ainda mais em seus domínios, ainda mais depois de salvar todo um exército por ele. O Imperador tinha que estar vivo!

Talvez a correnteza o tenha arrastado para mais longe, cogitou o comandante, culpando-se por não ter ignorado as ordens de Sua Majestade, permanecendo na Margem Leste junto a ele durante a travessia das tropas e voltou a chamar:

— Majestade! Responda, por favor!

Dessa vez, no entanto, algo que não o constante rugido do rio o respondeu:

— Aqui, sabu-nim¹

Era a voz do Imperador.

— Majestade…? — A atenção do comandante se focou na parte lamacenta da margem, junto à água, pois a voz parecia próxima demais para vir da mata. Achava difícil que Sua Majestade pudesse estar ali. Com a correnteza estando tão forte como estava, uma vez que ele conseguisse alcançar a margem, faria muito mais sentido galgá-la e esperar junto às árvores. Mas qual não foi a surpresa de Jeon Na Wang ao ver o Imperador ali, agarrado a algumas raízes? — Majestade!

O comandante se apressou para ajudá-lo a subir. Cinco dos oito oficiais que avistaram a comoção também correram para ajudar, enquanto os outros se espalharam para cumprir a ordem pré-estabelecida de avisar ao restante dos times de busca e ao time de apoio que a procura havia terminado. Logo todos se reuniriam ali, à sombra das árvores.

— Está com uma cara péssima, sabu-nim — observou o Coelho de Ouro ao agarrar o braço que o comandante lhe estendia, mais se içando que se deixando puxar para fora das águas, o que suscitou uma leva de expressões aliviadas nos rostos dos oficiais e os fez se absterem de ajudá-lo.

Confiavam na força dele.

Mais que confiar, aqueles homens contavam com a força do Imperador Conclamado. Todo o Exército Imperial contava, agora mais do que nunca graças à dimensão do apreço que a Senhora da Fortuna demonstrou ter por ele no Vale de Uktara. Jung Kook sabia disso, assim como sabia que a verdadeira razão para muitos lordes de Kim e até alguns de Jeon terem decidido aderir à causa não era o fato de haver um regicida-fratricida, um ofensor da Casa de Dameolin no Trono de Jade, mas sim porque era ele, Jeon Jung Kook, o Favorito de Mulrahee, um sangue imperial considerado detentor de grande força, inteligência e até beleza, um diplomata e um guerreiro de destaque, o arquétipo de Imperador que eles pensavam desejar, a erguer armas contra o Usurpador.

Estes lordes de Kim e Jeon viam em Jung Kook alguém que poderia liderá-los não só no campo de batalha, como na política, alguém que estaria alinhado com seus interesses e que governaria do jeito certo, do jeito deles, e consideravam sua insurgência contra o Sopro da Lua uma chance de unificar o poder, a riqueza e o exército de Park, acabando com o monopólio que Min e Jung detinham sobre as matérias-primas provenientes do solo desde a fundação do império, e quiseram aproveitá-la. Era por isso que eles lutavam e por isso tinham-no feito Imperador. Porque desejavam elevar a si mesmos.

A ganância deles se equiparava à do próprio Usurpador.

Nenhum lorde de Jeon poderia abandonar Jung Kook a essa altura da guerra, pois isso significaria o fim deles também. Mesmo assim, se ele mostrasse vulnerabilidade agora não só abalaria mais a moral dos soldados, já estremecida pela recente derrota, como decerto desencadearia uma cascata de problemas com o Clã Gris, a começar pela paralização da tomada da Margem Leste.

Outlander || YoonjikookOnde histórias criam vida. Descubra agora