Um grande salão rubro com um trono dourado. Braseiros tombados, espalhando brasas incandescentes pelo piso escuro e chamuscando o tapete que se estendia das portas fechadas aos degraus aos pés do trono.
Dois corpos estavam estirados diante das portas, ambos degolados. Outro se estendia de bruços sobre o tapete, a meio caminho do trono. Poças de sangue se alargavam em derredor deles, sua cor quente colorindo a fria do piso, sua cor viscosa e fluída se confundido com a rica e seca do tapete.
Gotas rubras pontilhavam o caminho até o pedestal régio.
Sangue escorria pelos degraus, sangue do homem caído aos pés do trono. Uma coroa alta e tão dourada quanto o assento real jazia a poucos centímetros da cabeça dele. Ele resfolegava, mostrando que ainda estava vivo, ainda. Uma das mãos dele repousava sobre um degrau, a outra sobre o feio ferimento que ele tinha no abdômen, incapaz de estancar o sangramento com seus dedos frouxos. Seu olhar empoçado, mescla de incredulidade, culpa e pesar, observava os corpos dos homens.
Um acesso de tosse o acometeu, e havia sangue nos lábios dele.
As portas do salão se escancararam, e gritos —
— um berro feminino, uma nota visceral;
— Kim Min Kyu!
— seguiram o ranger do metal, atraindo o olhar do homem a jazer diante do trono.
Pelo menos, uma dúzia de pessoas adentrava o salão, e três corriam na direção do pedestal real. Uma mulher e dois homens, todos cobertos de vestes elegantes como aquele a quem acorriam. Não demoraram a alcançar os degraus, mas apenas dois deles ousaram subi-los e tocar o homem. O outro soltou a espada que trazia e se deixou cair de joelhos, unindo as mãos junto ao peito e chorando.
A mulher se jogou no chão ensanguentado e puxou o moribundo para seu colo, para dentro de seu abraço, iniciando uma prece:
— Min Kyu-yah... Grandioso Dameolin, por favor, não o leve também. Tenha misericórdia!
— Eoma mama¹... — O olhar de Kim Min Kyu rolou da face empoada cortada de lágrimas da mãe para a naturalmente descorada do rapaz que se mantinha a sua direita, pressionando seu ferimento com ambas as mãos. — Yoon Gi-yah...
— Não desperdice forças, hyungnim — pediu Yoon Gi. Apesar do tom seco, preguiçoso e quase indiferente, a expressão de dor em seu rosto e as lágrimas que derramava cuidavam bem de mostrar como se sentia. — Nam Joon-ah foi buscar ajuda, os médicos hão de estar aqui logo.
— Temo que... o esforço de nosso pequeno irmão tenha sido inútil...
— Não se atreva a fazer tal insinuação. Não na presença da Imperatriz Viúva, não sendo quem é. — O tom de Yoon Gi se fez ríspido. A imperatriz-mãe meneou a cabeça, desesperada, e recostou a bochecha aos cabelos do filho, murmurando mais preces e chorando mais nervosamente. — Não tem direito de morrer assim, não tem direito de morrer nunca.
— O respeito que dispensava ao nosso pai... Nem de longe o percebo em suas palavras...
— O respeito não vem com o título, hyungnim. Se quer que eu o trate como o Imperador deve se comportar como tal. O Imperador não aceitaria morrer em meio a essa desonra. Ele se agarraria a vida como as raízes se agarram às margens de um rio caudaloso, resistiria à correnteza que se esforça para arrastá-lo ao Além-Vida e retornaria ainda mais forte, pronto a dar cabo de quem ousou lhe impor semelhante afronta. Então, cale a maldita boca e se preserve!
— Yoon Gi hyung! — O rapaz ajoelhado de fronte aos degraus meio bradou, meio soluçou.
— Está tudo bem, Ho Seok-ah... — Min Kyu abriu um sorriso vermelho. — Yoon Gi-yah está certo... Um imperador de verdade não aceitaria... essa desonra. Não, um imperador de verdade nem... nem mesmo a teria sofrido...
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Outlander || Yoonjikook
RandomA vida de Park Ji Min se resume a fazer seus deveres acadêmicos - que consomem quase todo o seu tempo -, comer e dormir. Suas amizades são mantidas por encontros de corredor, raras visitas em casa, ligações e mensagens. Vivendo entre o silêncio da c...