Só 296 km

39- Não tenho medo de nada quando você está perto.

2...

Fiquei na orla por alguns segundos procurando Noah pela praia, eu tinha medo de ficar sem ar por causa da alergia porquê não tinha levado meu remédio. A alergia era o menor dos meus problemas, eu não estava preocupada com ela. A única coisa que me preocupava era saber o que ia acontecer com a minha vida, e tudo dependia do que Noah tinha para me dizer. Meu coração errou as batidas quando vi Noah no mar, ele estava prestes a pegar uma onda, o olhei no exato momento que ele ficou de pé na prancha e mostrou seu outro talento secreto.

De repente, senti vontade de estar mais perto. Vi uma mochila preta em cima de um pano azul meio distante do mar, era a única bolsa abandonada no lugar, tive certeza que era de Noah. Sentei ali e cruzei as minhas pernas sem tirar os olhos do mar onde Noah estava, ele era a única coisa que me chamava atenção. Tirei minha câmera da mochila e tirei uma foto dele, encaixando seu corpo com a paisagem no fundo. Ele sentou na prancha enquanto esperava outra onde, até que eu vi pelo visor da câmera que ele estava olhando para mim também.

Fiquei nervosa. Abaixei minha câmera e assisti o homem se aproximar, ele balançou a cabeça para tirar o excesso de água e passou a mão no cabelo. Jacob fincou sua prancha na minha frente e se aproximou ainda mais de mim, ajoelhando na frente de sua mochila e procurando alguma coisa nela. Eu estava imóvel, só esperando qualquer coisa que ele tivesse para me dizer. Sua total falta de palavras me incomodava, mas ao mesmo tempo me deixava calma. Ele estava ali, e não tinha medo de estar perto de mim. Era assustadoramente... calmo.

— Toma- ele me entregou uma garrafa de água e uma cartela do meu remédio para alergia.

Fiquei olhando para a sua mão sem acreditar no que eu estava vendo, meus olhos logo ficaram cheios d'água rapidamente, não aguentei e comecei a chorar. Era aquilo que eu precisava ver, um gesto claro de que ele estava ali por mim, simples assim. Noah não precisava me dizer aquilo, eu sabia. Tinha certeza de que se eu não aguentasse as mudanças, eu poderia contar pra ele sem pensar duas vezes.

— Lembra do meu sonho? "Surfar no Rio de Janeiro, com a minha garota me olhando.", você ainda lembra?

Levantei a cabeça, mas com os olhos fechados. Senti Noah se aproximar e beijar minhas lágrimas, acabei chorando ainda mais. Eu já chorei muito nessa vida, mas aquele choro foi diferente. Foi um divisor de águas. A última vez que eu chorava pensando na dor que passou, eu não ia mais chorar pelo passado.

— É melhor tomar o remédio logo, meu amor. Não queremos que você fique roxa por não conseguir respirar- Noah disse com a boca ainda no meu rosto, abri os olhos quando ele se afastou de mim.

Ele voltou correndo para o mar e logo estava surfando de novo, tomei o meu remédio e guardei a cartela de novo dentro da bolsa do Urrea. Fiquei de pé e sequei meu rosto, tirei minha blusa e fiquei só com a parte de cima do meu biquíni azul. Noah costumava gostar dele quando éramos mais jovens, e pelo jeito que ele me olhou antes de ficar em pé na prancha, ele ainda gostava. Tive certeza de que lá no fundo nós ainda éramos os mesmos, pelo menos na nossa antiga inocência. Era a única coisa que eu queria manter do nosso passado.

Nada de dor.

Nada de saudade.

Nada de quilômetros de distância.

[...]

— Você veio dirigindo?- Noah perguntou quando voltou do mar e sentou ao meu lado, balançei a cabeça confirmando sua pergunta— ok... Foi tranquilo?

— Sim- sussurrei, eu estava muito concentrada nele e não conseguia pensar direito.

— Isso é bom, Sina- ele sorriu para mim, e só para mim, pra mais ninguém— Josh?