12- Tenho pena de nós.

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Tenho um dia reservado para ir no cemitério, Marco Urrea merecia a atenção que não tem da sua família. Normalmente eu mandava a floricultura colocar três flores brancas onde o homem está enterrado, mas agora que saí de casa e fiquei duzentos e noventa e seis quilômetros longe, eu posso ir no cemitério.

- Não vai trabalhar hoje?- passei na sala para ir para cozinha e vi meu irmão jogado no sofá.

- Estou morrendo- ele disse com a voz fanha, com morrendo ele quer dizer gripado.

- Devo me preocupar?

- Não, Any está vindo cuidar de mim.

- Estou saindo- avisei e ele deu um pulo do sofá.

Peguei um rolo de papel higiênico, o termômetro, soro para o nariz e um par de meias. Meu irmão mais velho vira um pequeno bebê quando está doente, e eu fico com o papel de irmã mais velha, gosto disso. Empurrei ele de novo no sofá, deixei todos os seus suprimentos necessários em cima da mesinha de centro e me abaixei na frente dele.

- Você vai sair mesmo?- Josh perguntou depois de tossir.

- Sim- coloquei as meias em seus pés e me levantei- você não está com febre, vai ficar tudo bem.

- Quem me garante?- ele fechou os olhos e depois abriu só um olhando para mim, nós rimos.

- Eu te garanto.

- E quem é você?

- Sina.

- Sina...- bufei, eu realmente acredito que sou a mais velha dessa relação.

- Sina fedida pé de chulé- ele riu depois que eu repeti o apelido que me dera quando éramos crianças.

- Amo tu- ele beijou a minha mão e eu beijei a sua testa.

- Amo tu.

[...]

Escolhi a dedo as rosas brancas, peguei as mais bonitas que encontrei na floricultura. Enquanto eu pagava, o cheiro das flores tomou conta do meu nariz, era muito bom. Eu conhecia muito bem o cheiro das coisas. A comida queimada do meu irmão, o cheiro horroroso que fica lá em casa quando não tiramos o lixo. E tem um perfume que eu também conheço bem, e senti assim que o sininho da loja tocou.

Artemísia e limão siciliano.

- Bom dia- a atendente se dirigiu ao Noah, porquê eu tinha certeza que era ele.

- Bom dia- agora eu tinha certeza, aquela voz rouca só ele tem- preciso de rosas brancas, as mais bonitas que vocês tiverem.

- Como essas?- ela apontou para a minha mão, só pode ser brincadeira, eu já tinha planos para passar despercebida pelo Noah.

- Exato- vi Noah olhando para mim- bom dia!

- Bo-bom dia- engoli seco, será que toda vez que eu saísse de casa Noah estaria onde eu fosse?- coincidência não?

- Eu chamo de destino baby- olhei feio para ele.

- Amigos não tem apelidos desse tipo.

- Nós temos- ele sorriu.

Olhei para frente, a funcionária nos encarava entretida com a nossa conversa. Tirei meu cartão da máquina e agradeci a mulher, Noah colocou a mão no meu ombro quando passei por ele, mas não parei. Abri a porta e destravei meu carro, nem me dei o trabalho de entrar, pois tinha um carro parado atrás do meu. Me encostei na porta e cruzei os braços, uma hora ou outra o dono apareceria, eu não estava com pressa.

- Nossa...- Noah saiu da loja- prendi seu carro?- ele passou a mão no rosto- foi mal.

- Seu...- sem xingamentos, sou uma pessoa centrada- tire o carro.

Só 296 kmOnde histórias criam vida. Descubra agora