Só 296 km

3- Uma triste existência.

- Quer me contar?- apoiei meu queixo em seu ombro e alisei suas costas- já faz uma semana que você está estranho...

- Ah meu Deus, você realmente está precisando de um banho!- Noah levantou meu braço e cheirou minha axila coberta pela blusa- vai lá, entro daqui a pouco.

O beijei e fui para o banheiro, era mais legal tomar banho com ele... Quando eu estava sozinha, me pegava pensando na minha vida, em nossas vidas. Todo o meu futuro era planejado com Noah nele, não de um jeito possessivo ou doente, só como alguém que ama e quer ele por perto.

Em alguns momentos cheguei a pensar que não teríamos um futuro juntos, já que ele sempre teve o sonho de estudar fotografia fora do Brasil. Estranhei Noah não ter conseguido passar em uma para ir pra Inglaterra, mas ele disse que mesmo que tivesse ganhado não iria.

Porque eu não estaria lá.

E eu realmente não iria, às vezes penso que fui feita de um molde quebrado, sou toda errada. Sou como um daquela animais criados em aquários, não sabem viver em mar aberto nem em sociedade com outros animais. Todos tentavam me tirar desse aquário, mas Noah fazia diferente.

Ele entrou no aquário comigo e disse que sairíamos de mãos dadas.

Mas não foi assim...

- Noah, pode pegar minha toalha de cabelo, por favor?- gritei desligando o chuveiro.

A casa estava em silêncio, esperei por dois minutos e nada. Não vou negar que pensei no pior, quando o assunto era Noah tudo me levava ao desespero.

- Noah?- me enrolei na minha toalha e saí do banheiro.

Noah não estava na sala, nem na cozinha, nem no quarto, muito menos no andar de cima ou no escritório. Liguei para a portaria, o porteiro disse que ele tinha passado por lá. Larguei o interfone e corri os olhos pela casa, avistei só um envelope no sofá. Minhas mãos já estavam tremendo quando o abri:

"Foi o melhor jeito que encontrei, estou indo para a Inglaterra com a minha mãe. Sinto muito Si, não consigo abrir mão do meu sonho por você. Tentei somar as duas coisas, não posso trocar um futuro por uma vida incerta com você. Pode ficar no apartamento, não quero nada. Foi bom passar esse ano com você, mas preciso pensar em mim.

Noah."

Coloquei o papel do meu lado, meu olho já estava encharcado pelas lágrimas. Nunca diga a uma pessoa que se sente insuficiente que ela realmente é insuficiente. Eu não fui suficiente para fazer ele ficar.

Naquele dia meu porteiro ligou para o meu irmão, pois ele ouviu meus gritos e meu choro alto. Naquele dia eu liguei para o Noah várias vezes, mas ele obviamente não atendeu. Josh pegou o celular de mim e me impediu de ligar de novo, eu deixei, estava muito confusa e triste para brigar com ele.

A partir daquilo, eu me tornei uma triste existência.

- Eu não vou Any, não adianta- entrei no banheiro e vesti uma roupa.

- Tenta Sina, eu te conheço pouco mas sinto que vai ser bom pra você- bufei e abri a porta já vestida.

- Casamento? Quem sou eu pra fotografar casamento?

- Sua sensibilidade para fotografia vai além da sua trágica história de amor- ela sorriu.

Eu ainda acreditava. Por mais que tudo virasse contra mim, tudo me mostrasse o contrário, eu ainda acreditava do amor e gostava de ver. Um casamento, por mais que seja sempre a mesma coisa, sempre me tira lágrimas de emoção. Seria bom sentir alguma coisa de novo, mesmo que fosse uma pontinha de inveja além do prazer de fotografar.