Só 296 km

1- O amor é uma doença.

Vou me apresentar: Sina, vinte e três anos, paulista, meu irmão gosta do adjetivo "loba solitária". Não gosto, mas não posso dizer que é mentira. Do jeito que ele fala parece uma coisa ruim...

- Coelhinho, sai da toca!

Odeio quando ele fala isso. Josh é meu melhor amigo, o único também, só tenho ele há cinco anos. Meus pais aparecem algumas vezes, estão aproveitando a aposentadoria. Não julgo, pois eu faria o mesmo.

Pego meu celular, quando olho as horas, tenho vontade de matar meu irmão:

- Que merda Joshua! Nove horas da manhã!

Me arrasto até a sala, com o minha calça larga de pijama que passa dos meus pés e me faz tropeçar no meio do corredor. Entrei na sala e encontrei meu irmão com uma magrela desnutrida sentada no seu colo. Passo reto para a cozinha, não sou obrigada a vê-los esfregando seus narizes.

- Vamos sair para correr, quer vir Si?

- Passo- respondo baixo enchendo minha garrafa de água.

- Essa é sua irmã?- o palito com pernas vem até mim na cozinha e passa a mão no meu cabelo- que linda!

Que falsa! Essa deve ser a terceira que fala isso para mim só essa semana, e vai ser a terceira a escutar a mesma coisa:

- Qual o nome dessa?- me jogo ao lado de Josh no sofá- tem cara de Verônica.

- Flávia- ela força um simpatia- "tudão", me empresta um dinheirinho?

Tudão?

- Quanto você quer meu amor?

- Só cem reais, estou querendo sapatos novos.

- Vou pegar a minha carteira- sério?

- Ok, chega- levantei e segurei o graveto, digo, o braço da mulher até que ela estivesse fora do apartamento- até nunca mãos- fechei a porta e me encostei nela para que meu irmão não pudesse sair.

- Que merda foi essa?- ele perguntou indignado.

- Para de ser idiota Kyle, ela só quer seu dinheiro igual todos as outras!

Josh bufou e segurou meus braços, me pressionando mais contra a porta.

- Dá pra você parar de tentar me fazer infeliz?? Não é só porquê a sua vida é uma merda que a minha precisa ser também!

- Você parece um mané! Não é só porquê elas são bonitas que são boas pessoas!

- Eu odeio o Noah sabia? Que raiva! Ele acabou com a sua vida, te deixou uma mulher chata e amarga! Se não fosse ele você ainda seria a minha irmãzinha feliz!

Só consegui me soltar dele e declarar antes de sair:

- Certas verdades não precisam ser ditas Joshua Kyle- corri para o meu quarto e tranquei a porta.

Os meus lençóis já estão acostumados a serem amassados, xingados, e depois abraçados com força. Acontecia o tempo todo, não que eu gostasse, mas era necessário.

A dor precisa ser sentida.

Chorar me alivia e jogar meu travesseiro na parede várias e várias vezes também. Os pensamentos são sempre os mesmos: por que ele foi? Se cansou de mim? Não importa mais, ele foi embora...

- Pronto?- a voz de Josh sai mais alta que o meu choro quase inaudível.

- Agora não Josh.

- Você nem tomou seu café, vem logo Si.