26- Ele não precisa aparecer para mexer comigo

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Resolvi sair para tomar café fora depois de ficar dois dias inteiros dentro de casa. Assim que abri a porta, vi o senhor José regando um buquê na mesinha do corredor. Tirei meu óculos de sol e sorri para ele, o homem me entregou o regador e riu do ponto de interrogação que devia estar na minha testa.

- O que é isso senhorito?

- Isso é seu senhorita, estou te fazendo um favor- eram gardênias amarelas, Noah atacara novamente- aqui, acho que você já demorou demais para responder.

Peguei o envelope da sua mão, entramos juntos no elevador e me despedi dele quando saí do prédio. Deixei a carta guardada em minha bolsa e fui para uma cafeteria perto de casa. Pedi um brownie e café puro, sentei sozinha e observei os olhares das pessoas sobre mim. Elas pareciam estar com pena, e eu li o pensamento de uma senhora, que dizia: "coitada, levou um bolo". Talvez eu realmente estivesse esperando alguém, mas não do jeito que ele poderia vir. As palavras de Lavínia rodaram na minha cabeça naquela momento:

"Lembre que você não quer ter o papel de amante na vida dele."

Não quero mesmo não, não é pra mim. Comecei a rir quando uma pequena ponta de felicidade me invadiu, se antes me olhavam com pena, agora estavam com medo.

[...]

Meu irmão não estava em casa quando voltei, sentei no sofá com a carta de Noah na mão e respirei fundo antes de abrir.

"Eu estou indo para o Rio Grande do Sul, vou comprar as passagens daqui a três dias. Vou estar te esperando ao amanhecer de sábado se você decidir ir. Não vou tentar nada, não vou fazer nada, mas preciso da sua ajuda, só você viu a Linsey de verdade. Se não quiser eu entendo, não te culpo. Espero você, bjo. Noah"

Noah Urrea consegue fazer minha cabeça fervilhar apenas com uma carta. Se aquilo estava ali há dois dias, Noah estaria me esperando no dia seguinte, então eu tinha menos de um dia para decidir. Sim, eu tinha que pensar para decidir. A ideia da viajem era tentadora, passar mais tempo com Noah sempre era bom.

- Coelhinha?- me assustei quando senti um toque no meu ombro, olhei para Josh e ele riu- em que mundo você estava?

- É... você não estava trabalhando?- me recompus e mudei de assunto, meu irmão surtaria se soubesse que eu considerava a possibilidade de viajar com Noah.

- Fui levar a Any na casa de uma amiga e voltei para ficar com você- recebi um beijo na bochecha e me encolhi no peito, seus braços me rodearam e eu respirei fundo- o que está te incomodando?- não consegui responder- foi o Noah, né? Ele apareceu aqui de novo?

- Ele não precisa aparecer para mexer comigo.

- Você deixa, não devia deixar.

- Eu deixo Josh, mas isso não me torna burra ou idiota. Eu deixo porquê tenho esperança que um dia vai parar de doer e vai me fazer bem. Eu deixo porquê se um dia as coisas mudarem eu vou estar aqui, esperando por ele, e tudo vai ficar bem. Eu espero, porquê se eu perder por ter desistido, nunca vou me perdoar.

Levantei a cabeça e olhei para ele, Josh sorriu fraco e beijou minha testa. Deitei de novo em seu peito e fiquei ali, pensando no que eu mesma tinha falado. Eu iria me arrepender se não viajasse com Noah, e sou eu quem controla meu próprio corpo e minha mente, só ia acontecer o que eu permitisse.

Noah Urrea

- Muito obrigado.

Saio do cartório quase dando pulos de alegria. Jogo os papéis no banco do carro, eles se misturam com as passagens que comprei na agência de viagens. Ir para Caconde era sempre deixar parte do meu coração na capital, com a loira que chorou e sofreu por minha culpa.

Só 296 kmOnde histórias criam vida. Descubra agora