Só 296 km

10- O amor é uma faca de dois gumes.

Já fomos tão íntimos, mas tudo sumiu de uma hora para outra. Noah estava sentado em uma ponta do sofá, com as pernas viradas para mim. Eu me sentei na outra, ficando encolhida de frente pra ele. Esperei por dois minutos, mas nenhum de nós falou alguma coisa.

- Posso?- ele levantou o olhar para mim.

- O que?

- Explicar o meu lado da história.

Não sei se é uma boa ideia, não sei o que eu quero descobrir ou se quero descobrir alguma coisa. Do jeito que está já dói o suficiente, creio que nada do que Noah disser será capaz de diminuir a dor. Acabei balançando a cabeça afirmando, pior do que está não fica.

- Foi a minha mãe, ela me sequestrou- ri, porquê Noah foi péssimo em inventar uma mentira- Sina...

- Sua mãe te sequestrou?

- Exatamente, ela contratou dois caras enormes para me tirarem daqui, porquê ela sabia que eu não iria embora por conta própria.

- Você tinha dezoito, podia muito bem decidir...

- Eu não podia nada, acredita em mim! Eu tentei sair, mas eu nem sabia pra onde ela tinha me levado! Quando eu tentei te ligar ela me falou que... que você tinha morrido, e eu surtei- limpei uma lágrima que escorreu na minha bochecha, eu me odiei por estar acreditando nele- passei dias chorando direto, me culpando porquê, teoricamente, você morreu vindo atrás de mim.

- Bem fanfic isso né?

- Era a minha mãe, eu acreditei porquê era a minha mãe, eu não sabia que ela era capaz de mentir sobre uma coisa dessas. E ela falou que o Josh tinha dito, eu pensei que...- Noah passou as mãos no cabelo- tentei voltar para... sei lá, mas Wendy encheu minha cabeça com ideias contrárias. Eu não tinha mais o que fazer aqui, Josh provavelmente ia me matar, eu não ia conseguir fazer nada nessa cidade sem te imaginar do meu lado. Eu morri com você.

- O curso- bom, já que estávamos ali resolvi deixar tudo claro- você disse pra mim que não tinha feito o teste.

- Eu não fiz, minha mãe mandou minhas fotos pra eles e eu passei. Não te falei nada porquê eu não ia, eu nem cogitei a possibilidade de ir sem você.

- Você devia ter me contado.

- Eu devia ter feito tanta coisa!- ele começou a chorar e abaixou a cabeça.

Levantei e peguei água na cozinha, antes de voltar para a sala eu me apoiei no balcão e respirei fundo. Não duvido que Wendy tenha inventado isso tudo para o filho, mas...

- Eu sei que é uma loucura, e muito difícil de acreditar- Noah entrou na cozinha e caminhou devagar na minha direção, deslizei o copo para ele e me afastei- mas você precisa entender que também foi muito ruim pra mim.

- Não pior do que pra mim- falei baixo e ele riu.

- Você acha que foi fácil né? Sina, você estava morta! Eu passei a porra de cinco anos achando que o amor da minha vida estava morta! Toda vez que eu ia dormir eu ficava me perguntando se você tinha sentido dor, ou se ficaria me olhando lá do céu! Eu só não acabei comigo porquê... não sei, pensei que você não gostaria se eu fizesse alguma coisa.

- Não mesmo- abaixei a cabeça.

Noah bebeu um gole d'água e colocou o copo na pia, o silêncio era ensurdecedor e estava me matando. Eu tinha muitas perguntas, mas eu também estava com medo das respostas.

- O que aconteceu com o amor?- perguntei em um sussurro, mas Noah levantou a cabeça e sorriu fraco.

Ele se aproximou de novo, colocou as mãos no bolso e tirou sua carteira dali. Ele colocou na minha frente, segurei receosa e abri. Uma foto minha. Eu. Na carteira. Não sei o que isso significava, ele tinha uma foto minha na carteira e casou com uma cartela do meu remédio no bolso.