25- Por que eu chorei pra caramba

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Éramos só nós dois, café e um coberto. Bom, só eu estava usando o cobertor, mas sempre foi assim. Noah não gostava de coisas o prendendo, nem nada muito doce ou muito salgado. Ele era equilibrado com quase tudo, menos com sua própria cabeça. Eu sabia que nós dois estávamos em uma guerra interna, cada um com um caos na cabeça.

Do lado de fora pareciamos bem, o remédio que minha psicóloga havia passado ainda estava fazendo efeito, me deixando mais cansada que antes e com sono. Aquele sono precisava sumir dali, porquê eu precisava deixar que todo meu corpo e minha cabeça aproveitassem a paz que Noah me trazia.

- Ok, existem muitas "Linseys" no Instagram, mas eu encontrei uma que tem a conta privada, a foto de perfil que não mostrava seu rosto direito, o que já não se encaixa como foto de perfil- ri e ele enfiou mais um cookie na boca.

- Eu posso ver? Talvez eu consiga reconhecer.

Noah se aproximou mais, deixei minhas pernas caírem e dei espaço para que ele pulasse para o meu lado. O observei mexer em seu celular, revezando a atenção para seu rosto e sua mão. Ele sempre chamava minha atenção de diferentes maneiras, seu jeito sensível e carinhoso fazia com que eu me sentisse protegida, mesmo que às vezes sua intenção nem fosse me fazer bem.

- Olha, "Linsey Albuquerque"- forcei a visão para tentar ver a pequena foto de perfil, mas o sol da imagem não ajudava em nada- tem a frase de uma música, uma câmera e "soulth".

‐ Sul, então ela mora no sul?

- Pode ser sul de qualquer coisa- Noah levantou a cabeça, só aí percebi o quanto estávamos próximos.

- Ela não é daqui- eu não tinha a intenção de que minha voz saísse tão baixa quanto saiu- acho que ela mora no sul do país... talvez.

- Talvez- vi ele olhando para minha boca, virei o rosto e voltei a olhar para o seu celular- bom, então eu vou pro sul atrás dela.

- Assim do nada?- ri e ele jogou os ombros.

- Assim do nada. Sou livre e desimpedido, eu posso viajar quando eu quiser.

‐ E casado- Noah bufou e revirou os olhos- o que é? Até parece que você não lembra, sempre anda com a aliança no...- olhei para sua mão, nem sinal da aliança- cadê?

- Eu perdi- riu e deitou no sofá, dei um tapa em sua barriga e seu corpo se contorceu enquanto ele gemia- porra Sina, quer me matar??

‐ Sua mãe vai te matar quando não encontrar sua aliança no lugar onde devia estar- tirei o cobertor de cima de mim e saí do sofá, entrei na cozinha para beber água e Noah me seguiu.

Eu não devia ter sentido o que senti quando o vi sem a aliança. Foi como se, por um instante, pudessemos ser nossos de novo. A esperança ressurgiu em mim e fez meu coração bater mais forte, mas a noção falou mais alto. Não era a aliança que o fazia casado, sim a porcaria de um papel e a porcaria da mãe dele.

- Eu realmente perdi o anel, e por mais que eu esteja muito feliz com isso, não foi proposital.

Noah se defendeu e sorriu, abaixei a cabeça e ri baixinho da sua cara de quem aprontou. Eu ainda sentia que éramos os mesmos adolescentes de antes, com alguns anos a mais de idade, mas o mesmo desejo de antes, ficarmos juntos. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas eu sentia que nossa história não tinha acabado, não tínhamos nem começado.

Eu queria mais.

‐ O que você está pensando?- ele perguntou baixo depois de alguns segundos de silêncio.

- Como estaríamos agora se você não estivesse casado.

- Felizes- balançou a cabeça confirmando sua própria fala‐ você não precisaria ir ao psicólogo, não teria ficado cinco anos dentro de casa com medo de sair, medo de ser machucada de novo como eu te machuquei. Seríamos felizes Si, tenho certeza.

Só 296 kmOnde histórias criam vida. Descubra agora