13- A vida é uma caixinha de surpresas.

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Deus, ou o destino, ou os cosmos, alguém lá de cima tem planos bem estranhos para mim. Noah estava agora do meu lado, nós dois com um copo de café em cima da bancada na nossa frente. Ou é brincadeira com a minha cara ou é um sinal muito nítido de que preciso do Noah comigo.

- Terminou a faculdade?- ele perguntou depois de tomar mais um gole de café.

- Fiz EAD, foi horrível- ele riu fraco- mas consegui terminar.

- Ótimo- Noah sorriu- você ainda curte correr por aí?

- O que?

- Eu lembro que você gostava de correr sem rumo, para qualquer lugar e por vários minutos. Ainda gosta?

- Nunca mais fiz- ele juntou as sobrancelhas- eu não... não saí de casa.

- Por cinco anos??

O grito do Noah chamou atenção, ele pediu desculpas e terminou seu café. Tirou a carteira do bolso em um movimento rápido e colocou algumas notas de dinheiro em cima do balcão. Peguei meu copo antes que Noah me puxasse para muito longe, quase derrubei o café descendo da banqueta onde eu estava sentada.

- Te tranquei em casa por cinco anos?!- ele perguntou alto demais quando saímos da cafeteria.

- Ninguém me trancou em casa- fiquei sem saber o que fazer, Noah andava de um lado para o outro enquanto passava as mãos no rosto, nunca tinha o visto tão agitado- Noah...

- Que vontade de morrer!- ele berrou e olhou para cima.

- Para com isso Urrea- tentei acalmá-lo falando o sobrenome errado de propósito, mas não deu muito certo.

- Eu estraguei a sua vida, minha mãe estragou a nossa vida... Sou uma máquina de caos??

- Calma Noah- joguei meu copo na lata de lixo e segurei os braços do homem agoniado- não foi... não foi culpa nossa, e já passou.

- Passou. Passou muito, muito tempo- ele limpou brutalmente uma lágrima que caiu do seu olho- eu fui idiota e perdi você Sina! Nos cinco anos que você ficou... você não saiu de casa- ele sussurrou, fechei os olhos sentindo meu coração apertar.

- Eu não quis sair de casa, não foi culpa sua- minha mão se movimentou de cima para baixo no braço dele, Noah estava mais forte, mas não tive tempo para ficar pensando em como ele estava mais bonito.

Ou mais atraente. Mais velho. Mais gostoso...

Meu Deus!

- Noah- abri os olhos, tentando ao máximo passar um pouco de tranquilidade para ele, mesmo não sentindo nenhuma- não vamos conseguir andar para sempre se ficarmos sempre olhando para trás.

- Eu...- ele respirou fundo.

- Vamos ficar bem ok?- me aproximei mais, tinha muita gente olhando e eu queria falar mais baixo- entre no seu carro, me siga até a minha casa.

- Desculpa estragar tudo.

- Eu já tinha terminado o meu café.

- Estou falando de nós. Desculpa por acabar com a gente- dei-lhe um sorriso triste, não sei esconder dele os meus sentimentos.

- Vamos- acariciei de novo seu braço e ele sorriu.

[...]

Paramos na frente do prédio, Noah parou seu carro do lado do meu. Soltei o volante e me encostei no banco, vi Noah fazer o mesmo depois que virei a cabeça para olhá-lo. Eu não queria o convidar para entrar, já estávamos juntos há muito tempo e eu precisava ficar sozinha. E, o motivo maior, Josh estava em casa. Então ali eu devia me despedir do Noah.

Então por quê eu não fiz? Por que eu não falei "Tchau" e entrei na garagem? Não consegui tirar os olhos dele. Seus olhos estavam brilhando, mas era culpa das lágrimas. Eu queria poder limpar suas lágrimas, assim como ele fez comigo várias vezes. Eu queria mais tempo com ele, queria não me sentir a pior pessoa do mundo por amar um homem casado.

Eu quero o meu garoto.

- Pegue- estiquei meu braço para a janela dele e entreguei a rosa branca que tinha sobrado.

- Obrigado- ele sorriu- quando vamos nos encontrar de novo?

- Nos vemos por aí- liguei o carro- a gente sempre se encontra mesmo.

Sorri para ele antes de entrar na garagem. Uma coisa de cada vez, agora eu preciso me esforçar pra não chorar. Não aguento mais, quero saber o dia que o sol vai voltar a brilhar para mim. Quero correr por aí, quero ficar com o cara que meu coração chama. Quero ser feliz.

E sinto que parte dessa felicidade está diretamente ligada ao Noah.

- Com quem você estava conversando?- Josh abriu a porta do apartamento antes que eu pudesse pegar a chave na bolsa.

- Um amigo- eu não menti, Noah e eu só podíamos ser amigos agora.

Passei por ele e deixei minha bolsa no sofá, as coisas da Any estavam na sala mas ela não estava ali. Ignorei o fato e bebi água na cozinha, eu estava sentindo que meu irmão estava sentindo alguma coisa, só fiquei esperando as perguntas.

- Como uma pessoa que nunca mais saiu de casa, tem ranço de seres humanos e é uma loba solitária fez amizades?- terminei de beber a minha água e virei para Josh, ele tentava não parecer interessado na minha "amizade", mas é transparente demais para conseguir esconder isso.

- A vida é uma caixinha de surpresas Joshua.

- Mas você não é. Você é bem previsível, na verdade- abaixei a cabeça, eu não podia contar a verdade e não queria mentir- Sina?

- Sim...

- Você está deixando Noah quebrar seu coração de novo?- engoli seco e levantei a cabeça.

Não encontrei julgamento nos olhos do meu irmão, e sim compreensão. Nós dois sabemos que se as coisas derem errado pra mim de novo, é para os braços dele que eu vou correr. Josh só está querendo se preparar psicologicamente para aguentar meu drama, entendo ele, mas infelizmente não vou poder ajudar. Se eu me ferrar de novo, eu mesma vou cuidar disso.

- Não se preocupe com isso- minha resposta fez o loiro arquear as sobrancelhas- está... tudo bem.

- Quem me garante?- revirei os olhos.

- Eu te garanto- Josh colocou a mão ao redor da orelha esperando que eu falasse o que ele queria ouvir- Sina fedida pé de chulé.

Ele riu e passou os braços ao redor do meu corpo, mesmo não sabendo o que estava acontecendo dentro de mim, ele soube me acalmar naquele abraço. Me separei dele quando ouvimos Any cantarolando na sala, Josh sorriu e agarrou meu pescoço com o braço. Ficamos ouvindo a Any cantando, Josh quase babava enquanto a voz da garota fazia carinho em mim.

- Somos sua família agora- Josh disse baixinho.

Não. Não são. Essa é a família dele, não a minha. Eu sei muito bem que é a minha família, mas agora ele faz parte de outra família.

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Esse capítulo ficou meio... bléh, mas o próximo...🙊
O que acharam?
Amo vcs!
Bjos, Mary🖤☀️

Só 296 kmOnde histórias criam vida. Descubra agora