24- Eu realmente estou rezando na língua errada.

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Os últimos dias não estavam sendo muito legais. Algo piorou em mim desde a última vez que encontrei com Noah em Caconde, e eu me senti completamente sem rumo no dia seguinte. Talvez fosse a minha ficha de "Você perdeu, siga infeliz como tem que ser" estava caindo. Eu precisava me conformar que o amor que um dia foi meu, agora era de outra.

Meu irmão não ficava muito em casa, ele e Any sempre estavam saindo ou, quando tinham outros planos, na casa dela. Nunca soube se agradecia ou reclamava, porquê de repente, tinha muito gente ao meu redor, e agora eu estava sozinha de novo. Foi pior do que eu pensava. Voltei ao fundo muito rápido, a queda foi pior e eu não devia ter aprendido a voar.

As palavras estavam me sufocando, as lágrimas também, apesar delas saírem frequentemente sem que eu ao menos percebesse. Decidi procurar por socorro, como eu devia ter feito cinco anos atrás. Como eu me sentia incapaz de dirigir, pedi para que Heyoon me levasse até o consultório da doutora Lavínia, já que era caminho para a escola de dança onde ela trabalhava.

- Tem certeza que não quer que eu te espere aqui?- ela perguntou quando parou o carro ao lado do prédio.

- Tenho, volto de Uber.

- Não, eu busco você, daqui a uma hora.

- Yoon...

- Não. Sem discussão- ela segurou meu braço e suspirou- o que o Noah fez com você Si?

- Ele me amou- sorri fraco e saí do carro- como ninguém fez até hoje.

Peguei o elevador para subir, eu iria de escada se tivesse forças para caminhar. Acho que além de triste, eu estava doente também. Uma gripe, inflamação no pulmão, não sei... mas eu não estava normal. Nunca fui. Ir ao hospital não era uma opção, já era um desafio muito grande sair de casa e ir até o consultório da minha psicóloga.

- Fiquei feliz quando você ligou- Lavi abriu a porta e eu a abracei rapidamente- aconteceu alguma coisa?

Demorei um pouco para conseguir falar, deitei na grande cadeira e me encolhi um pouco, até que as palavras e frases foram ficando organizadas na minha cabeça. Respirei fundo antes de começar:

- Como "desama" alguém?- perguntei e encarei a médica, que se segurou para não rir.

- Você não quer "desamar" o Noah, tenho certeza.

- Não quero, mas se eu soubesse um jeito, eu faria. Por que eu não consigo olhar pra ele sem lembrar das coisas lindas que ele me dizia e de como elas me faziam bem. Eu não consigo não sorrir quando vejo seu sorriso, ainda é o mais bonito que eu já vi e ainda faz com que eu sinta meu coração esquentando. Eu lembro de como era ter ele comigo, me fazendo sorrir o tempo todo e rir de suas piadas idiotas. Eu fui pra tão longe atrás dele, mesmo sem saber, e parece que agora que o encontrei nós... nós nunca estivemos tão separados. Está me quebrando.

‐ Si... Você já experimentou se afastar dele?

- Já, e foi horrível- ri desesperada- sabe o que mais? Eu sinto que foi pior. Não sei o que fazer. Eu preciso de um foguete.

- O que?- nós rimos, e o clima suavizou um pouco.

- Um foguete, vou levar vários litros de café, meus livros, um cobertor quentinho e...

- Noah?- engoli seco- você levaria o Noah?

Eu levaria. Eu fugiria com ele para qualquer lugar. Queria que quando entrassemos em nosso foguete rumo a lugar nenhum, todos os nossos compromissos, problemas e tudo ruim ficassem para trás. Meu Deus, eu precisava de um remédio...

- Eu vou te dar um companheiro novo, ok? Pode tomar agora, eu imagino que você esteja precisando, não é?- afirmei balançando a cabeça.

Tomei o comprimido e me deitei de novo, tudo estava me deixando muito cansada. Conversei um pouco com Lavínia, até mesmo sobre a vida dela, e descobri que nós duas tínhamos medos parecidos. Ela não queria se machucar, eu também não. Mas diferente dela, eu já estava ferrada. Acabei a aconselhando dizendo que valia a pena, minha aparência podia não dizer o mesmo, mas eu estava certa da minha afirmação.

Noah era uma das poucas coisas que me fazia sorrir durante os tempos difíceis, sempre tinha algo no nosso passado que me deixava alegre e emocionada. Nossos toques, as declarações. Graças à Deus Noah sempre deixou bem claro o quanto me amava, então eu tenho muito para lembrar sobre nós. Doía, mas era uma dor boa.

Decidi não ligar para Heyoon quando a consulta acabou, o remédio que tomei me deixou levemente tonta, mas eu ainda estava com o controle sobre mim mesma. A única coisa que eu não tenho controle é sobre o meu destino, e quem tem, devia estar querendo brincar com a minha cara.

- Si?- virei para trás, em meio a tantos barulhos na rua, eu reconheci a voz dele- tudo bem?

Noah não esperou que eu respondesse, se aproximou se mim e colocou as mãos em meus ombros. Seus olhos mudaram de curiosidade para pura preocupação quando ele me estudou. Eu estava com olheiras, meu cabelo estava amarrado de qualquer jeito e minha pele devia estar mais branca, já que eu não tomava sol havia um bom tempo.

- Eu te liguei pra caramba, mandei mensagens até pro seu irmão, você sumiu...

- Eu esqueci que tinha um telefone- tampei o rosto com as mãos e abaixei a cabeça, ele estava contando comigo para encontrar a irmã e eu o abandonei- desculpa, eu não... só... você encontrou alguma coisa sobre a Linsey?

- Então, eu estava indo na sua casa te dizer que eu tive uma ideia. A casa onde eu morei quando criança ainda é da minha mãe, consegui pegar a chave e eu acho que...

- Que?- sorri fraco, suas mãos me apertaram um pouco mais- o que?

- Eu te deixei assim?- aquilo me destruiu, mais do que eu já estava destruída- foi o que você viu em Caconde? Eu te falei pra ir embora Si. Aquilo vai acabar logo, tá bom? Te prometo.

Não tive tempo de responder, ou ao menos explicar que eu estava daquele jeito porquê sentia muita saudade dele, Noah me abraçou forte assim que terminou de falar. Meu corpo estava fraco, então eu praticamente me derreti em seus braços. O carinho que ele fez em minha cabeça deu vontade de chorar, mas eu estava feliz demais para chorar.

Era tudo o que eu precisava.

- Vamos tomar um café? Hm?

- E a Sabina?- levantei a cabeça e vi ele revirando os olhos- Noah, não haja como se ela não fosse importante.

- Ela não é, pelo menos não do jeito que você pensa que ela seja- me garantiu ele, sorrindo com seus olhos brilhantes- vamos fazer assim, você parece cansada. Vou te deixar em casa e levo o lanche para lá, pode ser?

- Noah...

- Sina Maria Deinert Beauchamp, será que você poderia deixar eu tentar concertar o estrago que fiz na sua vida?

Volte pra mim.

- Café sem leite, odeio leite- ele sorriu de orelha a orelha e eu não consegui não sorrir também, como eu não podia tê-lo para mim como antes, sua compainha seria quase suficiente.

- Vamos.

- Vou de Uber, te espero lá.

- Na...

- Eu vou de Uber. Te espero lá- repeti firme, ele levantou os braços se rendendo e, de quebra, ainda deu uma reboladinha singela- nossa, que vergonha.

- Vergonha por quê?- nem olhei, mas soube que ele ainda estava rebolando no meio da rua e me afastei, sem deixar de achar graça naquela situação.

Lavínia me deu um remédio, mas eu encontrei um bem melhor...

- Nos vemos lá- Noah beijou minha bochecha quando o carro chegou- você vai querer um... café preto, pouco açúcar e não muito quente.

- Muito bem- entrei no carro e ele saiu correndo, provavelmente para o seu carro- ok Deus, eu realmente estou rezando na língua errada...

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Oooooooi
Estou no fundo do poço, mas pelo menos o capítulo ficou legal
Pequeno, mas legal
O que acharam?
Amo vcs!
Bjos, Mary🖤☀️

Só 296 kmOnde histórias criam vida. Descubra agora