33 Perdido...

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Samuca,

Pô, eu tava ligado já nas intenções do meu irmão com a Eloá, não sou nenhum otário. Saquei o jeito que eles se olhavam naquele mesmo dia em que levei ela comigo na casa dele. Sabia que houve um envolvimento, mas não botei fé por conhecer muito bem meu irmão e saber que pra ele, era só mais uma e que não ia dar em nada mais sério.

Devido a eu ter curtido muito a mina, achei que o Donga não ia atravessar. Só achei mesmo...

Jamais imaginei ele agindo na trairagem comigo. A gente é sangue do mesmo sangue, pô.

Sempre tive admiração pelo Saulo, aquele bagulho de irmão mais novo, sabe como? De querer copiar o que o irmão mais velho faz e pá.

A gente se criou praticamente sozinhos, os dois, porque a coroa só trabalhava pra trazer o alimento. Meu irmão tomava conta de mim. Sempre fomos unidos pra caralho. Tem nossa irmã, Manu, mas por ela ser mais nova, e por ficar mais com minha avó, não convivia tanto com a gente.

Eu e ele criamos um vínculo maior e talvez por sermos homens, isso se intensificou.

Quando ele retomou o morro, eu estava lá. Ainda era molecote, mas estava sempre junto dele. Sempre fomos fechamento um do outro. Só que o Donga é foda, tem o ego grandão e gosta de tacar na cara as paradas.

Ele banca minha mãe e minha irmã, e não posso negar que sempre me deu de tudo também. No entanto, sempre fiz os corres pra ele para merecer o meu. Nunca fui encostado.

Nossa treta vem de uns meses atrás, devido ao meu vício. Ele descobriu, ai veio pirar, esfregar na minha cara que a casa era dele, o dinheiro era dele. Mandei ele se foder e meti o pé. Aluguei um quarto numa pensão aqui do morro e moro lá já tem seis pra sete meses.

Minha mãe quem sofre com essa história, coitada. Por ela eu continuava em casa. Mas sou orgulhoso, não volto atrás.

Também não quero viver na sombra do Saulo. Quero conquistar o meu sem depender dele e não ter que aturar desaforo.

Tá certo que estou no erro por ter me deixado levar pelo vício. Ele me vê com um filho, e eu, independente de qualquer coisa, tenho ele como um pai. O que avacalha, é essa soberba dele de achar que manda na minha vida.

Mó palhaçada flagrar os dois de cachorrada no banheiro. Pilantragem do caralho!

Aqui esse tipo de coisa não passa batido. E ele sabe.

Por ele ser quem é - e por ser meu irmão -, claro que não dá em nada. Vai dar o que pro fodão?

Ele é pura arrogância, pô!

Perdi a cabeça, mas jamais tiraria a vida dele por boceta. E também eu e a Eloá não tínhamos nada. Fiquei afinzão dela, até pensei que poderia evoluir pra um lance mais sério, mas tá na cara que ela gamou no meu irmão.

Que se fodam eles!

No meu carro, analiso o estrago do meu rosto no espelho do retrovisor.

Minha cara está inchada e cheia de sangue. Um corte, não muito fundo, arde no canto do meu lábio.

O cuzão pesou a mão.

Da em nada...levou também.

Sempre brigamos e ele sempre leva vantagem. Dessa vez perdi a razão e bati tanto quanto. Ou mais.

Nem esperava por isso, na moral. Não pensei antes, agi movido pelo instinto do momento.

Tem uma camisa velha no banco de trás. É tu mesmo!

Molho ela com a água de uma garrafinha que fez aniversário no suporte entre os bancos. Passo a ponta do tecido preto e molhado no rosto, secando com a ponta oposta.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora