83 Afronte!

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Eloá,

— Duda, o que eu faço, amiga? — lanço meu olhar para ela, irradiando fúria, incrédula pela ousadia da Jessy em aparecer aqui. 

— Como ela entrou? Por que o Donga permitiu esse desaforo? — atiro as perguntas, esperando que a Duda tenha respostas que me ajudem a não dar um jeito de ir embora agora mesmo.

Definitivamente, não estou preparada para estar no mesmo ambiente que a suposta amante do Donga. Não é nada fácil vê-la. Estou muito furiosa!

— Você não vai fazer nada, só ignorar! — Duda prende meu braço, seus olhos em rígida indução. — Ela está com a Manuela, irmã do dono do camarote, por isso entraram facilmente! Provavelmente ele nem sabia que elas viriam! Vem, vamos lá para trás respirar um pouco!

Ela me conduz para os fundos. Aqui o ar é mais límpido, tem menos concentração de pessoas e minha respiração, antes bloqueada, se torna mais fácil. 

Meu sangue borbulha, só pelo fato de essa piranha estar no mesmo lugar que eu. Meu tempo de ser tolerante com ela já passou.

Não sei o que sou capaz de fazer se ela se insinuar para o Donga!

Temi muito esse momento, esse descontrole causado pelo ciúme. Acredito que o tempo de convivência com ele me deixou assim — possessiva!

Se não posso se quer conversar com outros homens, por que ele pode permitir a entrada de sua amante no camarote em que estou?

Duda, provavelmente, constata em minha expressão tais sentimentos primitivos se aflorando. Se põe em minha frente e me aperta pelos ombros contra a estrutura de ferro.
 
— Que isso, Eloá? nunca te vi assim... Seu olhar está me assustando!  — me sacode, numa tentativa falha de ganhar minha atenção. Contudo, meu olhar assassino se retém na direção em que aquelas três estão. Mesmo não enxergando a Jessy daqui, devido à barreira de pessoas obstruindo minha visão, consigo senti-la.

Duda tem razão em estar preocupada. Eu poderia facilmente atirar a Jessy daqui de cima, tamanha a raiva que sinto dela e tamanha irritação que sua presença desagradável me causa.

— Eloá?! — Duda é persistente em me tirar do estado de alheamento em que me encontro. Nem seus esforços afastam de mim essa vontade insana de atacar a Jessy usando uma daquelas garrafas do bar.

— Como ele pôde fazer isso comigo...? É muito desaforo, Duda! — Meu olhar ainda está extraviado. As palavras ácidas, no entanto, rolam involuntariamente em rangidos, pelos meus lábios comprimidos e dentes cerrados.

— Fica calma, cara. Não deixa essa puta estragar nossa noite! Você vai mesmo entrar nessa disputa besta? Agora que vocês se dispuseram a conversar e que as coisas estão se ajeitando, você vai dar brecha para mais problemas? — Duda parece desejar inserir a força suas palavras em minha mente, me balançando. — Ela não merece essa moral! Não merece nem se quer sua atenção!

Me atino ao que Duda diz, e pisco uma vez, como que espantando os pensamentos agressivos que tenho. Passo o olhar para ela.

— Sera que ela sabia que eu estaria aqui?

— Claro! Se não tinha certeza, ao menos suspeitava. — Duda retira suas mãos de mim, confiante de que não vou sair correndo para voar na piranha. — O Donga não conta tudo a mãe? Dona Marta deve ter comentado com a diabinha e elas planejaram isso. Não é comum Manu aparecer no baile, vieram para te implicar! — se lembrando de sua bebida, ela molha as palavras antes de prosseguir. — E você está caindo direitinho no joguinho delas!

— Estou mesmo! Nunca agredi ninguém, mas queria muito agredir ela agora! Muito! Que raiva dessa nojenta!  — assim que meus olhos vagueiam pelo ambiente, tipo mira de arma - focalizando rostos e descartando aqueles que não tem um lábio cheio de botox -, umas mulheres se retiram do caminho e volto a ver às três. 

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora