77 Um drink cura tudo!

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Eloá,

Quase não dormi a noite, passei mal pra caramba com o bendito champanhe. "Ah, mas champanhe é fraquinho e ninguém pode passar mal bebendo isso". Sim, pode. Sou prova viva.

Se tiver uma mínima hipótese de as coisas darem errado comigo, pode ter certeza de que vão dar.

O Raul me trouxe um remédio, me enrolei no edredom e apaguei. Não estou bem emocionalmente. Penso o tempo todo na minha mãe e em como ela está lidando com nossa separação repentina. Somos muito unidas, jamais passamos tantos dias longe uma da outra.

Para ajudar, ontem, não sei bem há que horas, acordei e senti uma presença ao lado da cama, no escuro, me olhando. Tomei um baita susto, mas não me movi, porque sabia de algum modo quem era. O cheiro de cigarro e álcool confirmavam.

Não sei por onde ele andou, com quem conversou, e até pensei que devia ter ido ao baile, já que não apareceu por um bom tempo. O que sei, é que ele estava de decisão tomada e soou bem convicto ao dizer que me deixaria ir para casa. Meus esforços para fingir estar dormindo não foram suficientes; ele sabia que eu estava bem acordada e ouvindo. Só não entendi a parte de ele querer mais uns dias. Por que não posso voltar para casa hoje mesmo?

Eu deveria estar muito feliz, afinal, era o que eu queria - ir embora. Contudo, minha própria reação aquelas palavras me surpreendeu. Eu não fiquei nada contente.

Conheço muito bem o Donga para saber que se ele tomou essa decisão, é porque realmente desistiu de nós. E, no fundo, já não tenho plena segurança de querer distância total dele para sempre, como tinha há dias atrás.

No auge da decepção e do sofrimento, era fácil nutrir meu ódio. Estava bem resolvida quanto ao que queria. Hoje, mais amolecida pelos seus esforços e declarações, meus sentimentos mudaram.

Ele me ama, tem tentando me provar isso mesmo que de seu modo brutamontes de ser. E agora minhas defesas - que não eram grandes coisas - foram fatalmente perfuradas. Ontem tive a prova disso quando desejei de alma que ele estivesse aqui cuidando de mim, mesmo tendo pedido que o Raul não o importunasse.

A única certeza que sobrou para mim, tirando de base pelo que observei dele no tempo em que estivemos juntos, é que ele sabe o que quer e não é homem de voltar atrás. É bem esclarecido também. Se eu não fosse importante para ele, seu tempo não seria desperdiçado comigo. O mesmo vale para a sua recente decisão. Ele não falaria aquilo por falar.

Eu também o amo, poxa!

Estou chateada? Muito! Quem gostaria de encontrar seu namorado ao lado de uma vadia na cama? Entretanto, meu amor ainda pulsa, expelindo um restinho de vida, lembrando uma fonte seca que ainda goteja na terra rachada.

Queria perdoar-lo, ou melhor, regredir no tempo e sermos o que eramos antes. Infelizmente algo foi quebrado entre nós, algo essencial - a confiança. E isso martela na minha mente a cada segundo quando penso em reconsiderar e lhe dar outra chance.

Por tudo isso e muito mais, hoje a tristeza se abateu sobre mim e o desânimo quase não me deixou levantar da cama. Nem café consegui tomar.

Estou farta de ficar sozinha o dia inteiro!
Prevejo minha mente explodindo a qualquer momento. Me sinto ansiosa, inquieta e abafada. Quero ar livre e coisas que me distraiam!

Vesti um macaquinho. Esse não foi presente, era meu mesmo, e estava aqui na gaveta que ele me cedeu para guardar meus pertences quando ainda eramos um casal. De resto, fiz o básico do básico. No caso, escovar os dentes, pentear a juba de leão - que meu cabelo se tornou após uma noite toda girando na cama para ca e para lá - e lavar o rosto.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora