55 Pratos limpos

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Eloá,

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Eloá,

- Bora, amiga? Tu agora só quer saber de Donga para lá, Donga para cá. Tem um tempão que tu não vai na minha casa... - Duda pendura seu lábio inferior da carteira da frente, me incitando a aceitar sua proposta de curtir a tarde em sua casa hoje.

Adiciono um ponto final na frase que acabo de copiar do quadro e que o professor Taciota garantiu ser bem importante. Duda ainda clama sua resposta com seu olhar aguçado em mim.

- Na fila do drama você entrou sete vezes, né? - Solto a caneta no caderno, o sentimento de dever cumprido, me considerando uma estudante exemplar.

- Vai, então? - Ela já havia se voltado para o professor, que explica algo no qual deveríamos prestar atenção, mas seu ouvido ansioso está bem a postos para trás, à espera.

- Vooooou! - Cochicho arrastado indicando que fui vencida, e ela comemora chacoalhando as mãos, o gesto que alguém faria se tivesse sofrido uma queimadura em uma panela quente.

- Podemos ir ao açaí, o que acha? - Se vira medianamente para me propor, dispondo de euforia ponderada.

- Perfeito, amo aquele açaí! - Me lembro de um domingo em que Donga mandou um garoto buscar um pote grande só para nós dois. Não comemos nem a metade. Ele é sempre muito exagerado.

Faz só dois dias desde que nos vimos e a saudade já bateu. Minha mãe estará de plantão, então hoje, mesmo sendo quarta, nada me impede de passar a tarde com minha amiga, e, de quebra, dar um beijo nele. Suponho que ele vá gostar, vive insistindo para eu ir durante a semana. De vez em quando eu fujo rapidamente para ir vê-lo, não sou de ferro e ficar longe dele é tortura com requinte de crueldade. Se eu pudesse, iria diariamente.

Os últimos dois meses têm sido os mais fantásticos da minha insignificante existência. Mesmo que o domingo tenha sido um pouco atribulado, com a questão da morte de seu amigo, eu gostei muito da nossa bebedeira no sábado à noite. Bom... a minha bebedeira. Ele ficou super de boa.

Minha real intenção era o alegrar, proporcionar um clima mais agradável. Sabia que ele não estava bem, queria que ele conversasse comigo. Ele nunca me conta o que está sentindo e eu não aguento ver ele carregando tudo sozinho e calado. E não é que minha tática deu certo? Eu fiquei muito bêbada, bebemos muito. Ele é acostumado e eu não deveria ter tentado acompanhar seu embalo. Não me lembro muito bem das loucuras que fiz, lembro dos efeitos, que foram bons. Consegui, mesmo que por algum tempo, lhe fazer rir e se distrair. Mas me custou uma bela dor de cabeça no dia seguinte, cruzes!

O velório de seu amigo foi como qualquer outro: triste!

Familiares chorando, um e outro vindo especular sobre o ocorrido com Donga. Todos sentindo o efeito de uma morte cruel. Os filhos do Gereba, sua mulher e mãe, absolutamente sem chão. Donga e eu demos os pêsames. Ele se pôs a disposição para ajudar em qualquer necessidade, prometendo que descobriria quem cometeu aquela atrocidade. Era sua maneira de dizer a familia que aquilo não ficaria impune.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora