11° No ofurô...

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Eloá,

Eu puxo o ar, mas não vem. Sinto os efeitos do sufocamento no cérebro, o sangue sendo bloqueado e me causando tontura. Junto a isso, o horror em ter dois olhos bárbaros acima de mim.

- Que merda deu na tua cabeça pra tu botar a mão em mim? - Encurtando ainda mais o espaço entre nossos rostos, ele brada. Sua mandíbula apertada, a veia da testa elevada sob a pele.

- Me... me solta... por favor... - Peço em tom de súplica, as lágrimas caindo pelos cantos dos meus olhos. Temo as consequências do meu ato, ele vai me agredir.

Ele libera a passagem de sangue no meu pescoço um pouco, apertando com menos firmeza, mas sem perder a postura terrível de um perfeito serial killer.

Penso apenas na minha mãe. Caso eu não volte para casa ou volte toda arrebentada, o que direi a ela? Além da humilhação de ser espancada - ou sei lá o que mais de mal esse homem pode me fazer -, também vou magoar minha mãe, que vai sofrer muito me vendo toda roxa e deformada. Lembrar dela me faz chorar mais.

Tenho que sair dessa, pela minha mãe.

- Foi um impulso, me perdoa, me perdoa! Por favor! Você me ofendeu e eu reagi! Me solta, por favor! - Me debatendo em baixo dele, aperto os olhos, meu lábio inferior vibrando com o choro.

Ele é silencioso como um tigre sorrateiro, espreitando a presa friamente.

- Por favor, me solta... Não me machuca, foi sem querer, por favor... - Ao abrir meus olhos assombrados, me deparo com seu rosto mais aplacado. Ele me examina atentamente, ainda com a mão no meu pescoço, suas pernas mantendo meus braços parados sobre a cadeira.

Suspeito que ele tenha sido tocado pelo meu clamor. Se eu o sensibilizar, quem sabe ele não me machuque.

- Desculpa... você falou aquilo e eu fiquei nervosa, não pensei... eu não deveria ter batido no seu rosto, me perdoa! - Enfatizo, repetindo o pedido de desculpas e a explicação porque sei que se eu não mostrar arrependimento e não esclarecer que foi um impulso mal pensado, não tem escapatória para mim. É minha única ponta de esperança.

- Você botou a mão na minha cara, porra! Eu devia te arrebentar na porrada, tu tá ciente disso, né? - Mesmo suas palavras e seu tom sendo agressivos, seus olhos, ao contrário, se abaixam até minha boca; atraídos, vidrados, ali permanecendo enquanto concluí sua fala.

- Ninguém bate na cara de sujeito homem, rapá! Ninguém bate na minha cara! - seu tom é absurdamente amedrontador. Eu lembro bem do que ele fez com aquela mulher e não sei o que eu posso fazer para evitar receber o mesmo. Mas preciso fazer algo, disso eu sei bem.

Não consigo evitar chorar mais a cada batida forte do meu peito. 

Expressando desespero, eu argumento:

- Mas... - Fungo. - Meu tapa não foi nada para você...- fungo, expressão atribulada. - Olha seu tamanho. Eu não aguento um tapa seu... por favor... não me bate! Eu te peço, não me bate, por favor! - aperto minha face, rezando por dentro.

Ele se mantém inflexível, a respiração fora de compasso. Suas narinas se dilatam e seus lábios se apertam, formando uma circunferência fechada, brancos pela raiva e pela vontade insana de revidar meu golpe. 

- Você que procurou por isso, porra... uma merda dessas não faz...

Confutando sua imagem, suas palavras saem embargadas de algum outro sentimento que não é mais ódio. Seus olhos mergulhados na minha boca, me levam a crer que é desejo. Desejo e ódio, lado a lado. Ele me quer, quer me beijar e também me espancar. Eu não quero nenhuma das duas coisas, mas entre elas, o que eu prefiro?

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora