74 Maldito champanhe...

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Eloá,

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Eloá,

Donga esfrega a mão exaustivamente em seu rosto, desviando os olhos de mim por um segundo, girando seu boné ao contrário; o fecho pairando sobre um monte de cabelos negros e lisos. Inala grande quantidade de ar para se acalmar e apoia ambos os braços na mesa, seu corpo se dobrando um pouco para mim. Antes de dizer o que tem para dizer, morde o interior da bochecha, se controlando.

— Não sei mais o que eu faço pra você me perdoar, na moral... O que tu quer que eu faça? — seu tom, ao contrário de suas atitudes, me pareceu um tanto resignado. — Me diz! — lançou a mão em indagação, caindo de volta no encosto, me passando a palavra.

Boto a taça na mesa, pensando que já não tem muito a ser feito além de ele me deixar ir embora, o que ele garantiu antes de virmos que não aconteceria. Ele poderia ter evitado muitas coisas que aconteceram e desencadearam essa corrente de problemas em que estamos aterrados. Uma delas, não ter transado com a Jessy.

— Não quero que você faça nada, Donga! Você não entende... — Frustrada por não saber mais como explicar o óbvio, apenas foco meu olhar na paisagem a minha direita, atravessando o vidro do parapeito, diretamente para a vista de amontoados de barracos que formam a favela... que ele comanda.

— O quê? O que eu não entendo? — Ele
pergunta energicamente. É tão difícil assim para seu cérebro juntar dois mais dois?

O encaro, rancorosa.

— Para começo de conversa, por sua causa tive que mentir para minha mãe, inventar que fugi de casa e vim morar com você por vontade própria, por medo de ela ir a polícia e também, para tentar diminuir sua preocupação! — disparo. — Você acha que ela deve estar como agora? Pensando no porquê fiz isso com ela, onde estou, com quem! Nada teria sido assim se você não tivesse botado tudo a perder se envolvendo com a Jessy, começa por ai! — não perco a oportunidade de ressaltar minha magoa. — Você não consegue entender e nem enxergar o que está me causando por ser tão egoísta! Por não aceitar perder! — ralho, batendo a palma da mão no tampo da mesa de madeira, impelindo minha cabeça em sua direção, meu couro cabeludo pinicando de nervoso.

— Como é?! — Ele aperta sua feição, o ego ferido. — Não aceitar perder?! — abaixa a cabeça, rindo, negando, puto.

— Claro que é! — replico, ignorando seu olhar e sorrisinho debochados, postos em mim sob suas sobrancelhas. — Você pensa só em você, Donga! Quando eu queria e insistia em nós, você sempre colocava objeções, dizendo que essa vida não era para mim, que não podia me envolver nisso, que eu tinha que pensar na minha mãe! Lembra? Mas agora que eu não quero mais, você me força, me obriga, não está pensando nenhum pouco em mim, muito menos nela! Tudo simplesmente por não ser acostumado a ouvir "não"! — o sorriso some de seus lábios. — Você tem tudo na palma da mão, as mulheres nunca dizem não para você. Ai, quando alguma se cansa, fica exausta e não quer mais, você não aceita! Não é por amor que você me mantém aqui, é por capricho!

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora