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Eloá,

Duas horas sentadas no tapete da sala da casa da Duda depois, finalmente terminamos o bendito trabalho.

- Estamos de parabéns, meninas! Acredito que o trabalho ficou ótimo. Espero que o professor não encha o raio do saco, isso é o melhor que podemos fazer. - Duda anuncia, se estirando de costas sobre o tapete bege, peludo e fofinho.

Considerando o tempo que gastamos até começar o trabalho - porque a Mia e eu não conseguíamos parar de comentar sobre os bandidos que encontramos no caminho -, até que foi rápido.

- Bom, então podemos ir, né, Mia? - Para agilizar o processo, no automático de quando tem bagunça na minha frente, faço o que é de costume - organizar.

Tem muitos papeis, canetas, marca textos e livros na mesinha de centro, e eu não suporto desorganização. É um toque, pelo que dizem.

Assumo, sem problemas, que sou neurótica com limpeza e organização. A única característica do signo de virgem que combina comigo.

- Nem vem, vamos no pagode! - Mia bate palminhas, sorrindo conspiratoriamente para a Duda.

- Quê? Estão malucas?! Vocês se esqueceram que eu namoro? E mais, Mia, se esqueceu do que vimos no caminho? - Emputecida, firmo meus olhos repreensivos nela. - Deixe eu refrescar sua memória: bandidos, armas, perigo. Não! Definitivamente, não!

Balanço minha cabeça, totalmente convicta, e espero ter acionado assim o bom senso delas. Ou pelo menos, da Mia, já que como eu, ela nunca esteve em uma favela antes.

Mas não, minha amiga, além de persistente, é maluca de pedra.

- Qual foi, Elô? Você vai mesmo meter essa?- Sua feição deixa claro que ela não se convenceu de que meus motivos são somente pela nossa segurança. Ela não está errada, e eu jamais irei admitir. Apenas continuo a guardar as coisas.

- Eu sei que o que te impede, é o babaca do Luiz! Lembrando que ele não vai ir te ver hoje para ficar com os amigos, tá? Afff! - usa sua expressão de tédio, já conhecida por nós. É usada sempre que ela simplesmente reprova uma ideia ou um ato. - Por essas e outras, é que não sirvo para namorar!

A Mia é grossa na maioria das vezes, não nego. Mas ela também é bem sincera e não está totalmente errada. Porém, mesmo sabendo disso, ainda sinto que não devo ir. Sei que o Luiz não merece essa consideração, mas é estranho ir em um pagode sem ele. Nada contra, o que eu não quero é causar mais brigas e nem ver mais bandidos. Nem armas.

Minha amiga doida não parece se importar em nada com isso.

Um silêncio desconfortável paira no ar por alguns segundos.

- Na verdade, a Mia tem razão, Elô... - Duda se levanta sobre o cotovelo para me olhar. - O Luiz é um escroto, não merece você! Já te disse isso, né?

Ok! Conspiração agora?

- Gente, sei que ele não é lá o namorado mais perfeito do mundo, mas não é isso!  - Olho diretamente para Mia. - Você se lembra do medo que passamos quando aqueles caras nos pararam? - A indago com uma expressão exagerada. Ela cai de costas com a cabeça no acento do sofá, resignada.

- Foi o que pensei! Além disso, nem temos roupa. Ou vocês supõem que vou assim? - Seguro minha camiseta velha com o polegar e o indicador, olhando para elas, certa de que minhas palavras foram convincentes e de que tirei a maldita ideia da cabeça de amoeba das duas.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora