Love no Morro da Liberdade 1

99 Dando a notícia...

Paloma, 

Termino os últimos detalhes e me apresso em fechar a porta do quarto. Corro no banheiro, me espiando no espelho.

Estou usando minha Lace, também passei uma maquiagem levinha. O vestido preto tubinho de tecido, básico, que o Samuca adora, só não ficou tão bom quando antes, porque ainda estou um pouco magra demais. A médica me disse que as vitaminas vão me ajudar nessa questão. Graças a Deus, meus exames confirmaram que estou realmente curada, e a tendência é recuperar meu peso em breve. Mais nada de quimio, apenas alguns remédios e muitas vitaminas.

Estou muito ansiosa, Samuca avisou que chegaria às 19:00 e já são 18:50. Ainda bem que deu tempo de preparar tudo. Agora que voltei a trabalhar no restaurante da tia Lu, quase não tenho mais tempo para nada. O movimento lá está aumentando a cada dia mais, é uma loucura.

Minha mãe foi embora ontem. Confesso que já estou com saudades. Apesar de estar feliz por tudo ter voltado ao normal, vou sentir falta da companhia dela. Choramos à beça na despedida. Eu e tia Lu ficamos paradas, olhando o ônibus sair e acenando até ele sumir de vista. Meu coração ficou apertadinho, apertadinho...

Mas agora tenho uma vida aqui no Liberdade. Estamos olhando uma casa para comprar, vamos sair do aluguel. Samuca está trocando de carro e nossa vida financeira tem decolado.

Ele está há um bom tempo sem usar drogas, e até topou ir comigo ao culto esses dias. Foi lindo ver ele prestando atenção na pregação, ainda que tivesse relutado um pouco para ir. Me emocionei verdadeiramente com isso.

Ouço o barulho de sua moto, meu coração se acelerando. Será que ele vai gostar da surpresa?

Corro para me sentar no sofá, fingindo estar superconcentrada na tv. Meu coração dispara mais um pouquinho quando seus passos se aproximam pelo corredor lateral do barraco alugado em que moramos. Seu humor hoje está bom, pois acredito que esteja satisfeito em poder ter sua privacidade de volta. A prova é que há algum tempo ele não assoviava, mas está fazendo isso nesse exato momento.

Ele abre a porta. Como de costume, deixa o capacete e a arma sobre a mesa. 

— Fala tu, minha princesa? — Vem sorridente até mim, depositando um beijo fofo e leve em meus lábios.

Preciso fingir bem, então boto um sorriso amarelo no rosto, mascarando meu nervosismo e inquietação.

— Oi. — respondo de modo monótono. No entanto, ele desconfia no mesmo instante de minha não tão animada recepção. Ainda mais porque meu corpo está rígido feito a parede atrás de mim.

Não passa nada!

— Que foi, hein? — Ele se joga no espaço vago do sofá, botando minhas pernas sobre as dele. — Tá com uma carinha... está cansada? — seus olhos cismados procuram por pistas em meu rosto travado.

— Nada não... vai tomar banho, não? — averíguo, como se aquilo não fizesse muita diferença para mim.

— Vou. — Ele salta, me dá outro beijo, e guia para o quarto. — Precisa fazer janta hoje não, vamô pedir alguma parada. — Grita de longe.

— Está bem. — Respondo, verdadeiramente contente por me livrar da janta.

Durante bons segundos ele não diz mais nada, um silêncio total. Aperto minhas mãos uma na outra, até que ele finalmente me chama lá do quarto.

— Que porra é essa aqui, Paloma? — seu tom de voz parece surpreso, confuso e assustado ao mesmo tempo.

Saltito até o quarto, tentando controlar a empolgação e o sorriso grande.