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Eloá,
(15 dias depois)

Durante quinze dias, Cavera, Samuca, Dona Marta e eu, revezamos para passar a noite com Donga na UPA. Mesmo eu querendo muito dormir com ele toda noite, ficava exausta e cheia de dor no corpo. A beiradinha da maca não era muito confortável, nem quando Donga já conseguia se mover e me ceder mais espaço.

Dona Marta sugeriu que Manu entrasse no revezamento, mas Samuca a fez mudar de opinião, contado escondido, longe do quarto do Donga, o que ela havia falado para a Paloma.

Dona Marta ficou indignada, chorou muito. Mas Samuca a poupou da pior parte. Decidiu não contar sobre ela ter dopado o Donga, pois esse era um assunto que caberia somente a vítima resolver. Eu não me meti, mas quando fui convocada na conversa da família, apenas sugeri que não precisávamos de mais uma pessoa. Eu poderia ir mais vezes. Não era um sacrifício, pelo contrário, era um prazer - mesmo minha coluna reclamando.

Restringi meu contato com minha mãe a mensagens mais frequentes.

Ela está muito magoada, embora se esforce para me convencer a voltar e tente mostrar que ainda tenho uma mãe me esperando de braços abertos. Ela não sabe nada do que passei, muito menos onde estou - ainda. E evito delongar as conversas para que suas especulações e perguntas não me forcem a atropelar os acontecimentos.

Pretendo ir pessoalmente lhe dar todas as explicações, mas quis esperar o Donga se recuperar melhor. Afinal, tenho uma grande notícia para ela, que provavelmente ela não vai gostar nada de saber.

O pedido de casamento ficou em segredo entre às três pessoas que sabem. Eu, Donga e dona Marta. Ah, me esqueci da Duda.

Não poderia deixar de partilhar isso com ela, né? Minha parceira, confidente, que esteve sempre comigo em todos os momentos bons e ruins.

Eu e Donga conversamos várias vezes sobre o assunto, e agora a ideia me parece bem menos traumática e bem mais maravilhosa.

Muito maravilhosa!

Estou muito ansiosa e muito feliz. Vou me casar!

Continuarei estudando mesmo morando com ele. Teremos, quem sabe, uma família. A única questão que me angustia, é a ideia de minha mãe me renegar como filha.

Será que ela vai ser a mãe compreensiva e amiga que sempre foi e me apoiar dessa vez?

Espero muito que ela não enlouqueça, que entenda o amor que sinto e a felicidade que só poderei ter ao lado dele. Talvez, quando ela souber tudo que passamos juntos - e que eu escondi dela por querer poupá-la -, compreenda melhor e me perdoe. Não iria suportar uma rejeição da parte dela. Seria muito triste.

Não pretendo declinar do meu compromisso de me casar com o Donga, e não quero que isso rompa minhas relações com minha mãe. Mas, e se ela não aceitar? Encontrarei uma solução?

Não há nada que ela possa fazer. Já sou maior de idade e tenho direito de escolher meus caminhos. Vai ser uma pancada quando ela souber que meu futuro marido - que ela nem sabe direito de quem se trata - é um foragido, um fora da lei e tantas outras coisas mais, mas o coração não seleciona a quem amar. Aconteceu, foi inesperado para nós dois também. Nada foi planejado ou premeditado.

Se eu não imaginava o Donga namorando comigo, quem dirá se casando?

Demorei a acreditar e levar a sério sua proposta. Apenas tive certeza de que ele não estava tendo alucinações, ou fazendo piada, quando os dias se passaram e ele manteve-se firme em sua opinião.

Tive uma conversinha com minha sogra. Ela me contou sua história de vida, o que me ajudou muito a sair do estado de pânico para o estado de êxtase e expectativa que me encontro agora.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora