40 De outras vidas...

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Eloá,

Donga continua o diálogo com o rapaz sem interesse nenhum no assunto, nossos olhos em uma conexão que torna as outras pessoas invisíveis. Além de nós, só a batida da música.

- Amiga, vem! - Duda me arrebata para uma selfie. Eu, Gabi, ela e Vanessa. A câmera capta os fogos acima de nossas cabeças; meu sorriso até convence de que não morri por dentro essa noite.

Mesmo aqui, mesmo dançando, não esqueço cada capítulo que vivi no último mês com esse homem que trouxe cor ao meu mundinho sem graça. Ele é a personificação do que eu desejo e do que não desejo; é absurdamente confuso. Ele me transformou numa mulher e hoje matou essa mulher. E como seguir sem ele?

- Oi, Eduarda! - Um rapaz me faz voltar para à Terra. Ele cumprimenta a Duda com um abraço e beijo no rosto.

- Oi, Vini! Quanto tempo! - Duda sorri, receptiva.

Ele nota minha presença banal aqui, do lado. Seu olhar em mim é o mesmo de uma pessoa tentando decifrar uma charada.

- Essa é Eloá, minha amiga! Eloá, esse é o Vini, estudou comigo. - Duda cuida dos rituais de apresentação.

Meu sorriso espelha o dele. O seu, no entanto, demasiadamente mais sedutor que o meu. Trocamos beijos.

- Vocês estão há muito tempo aqui? - Sua atenção se altera entre eu e a Duda, especulativo. Parece legal.

- Não, chegamos agora mesmo e você, veio com o Jefinho? - Duda e ele são íntimos, deixo os dois à vontade e volto a me ocupar com o Donga.

Dessa vez ele resolveu alimentar o vício, o baseado brilha em seu rosto obscurecido. Ele ri e se distrai com os amigos. Tão delicioso...

Quem é essa que veio com ele?! Ela não tem direito, ele é meu... ele foi tão meu essa semana...

Merda, vou chorar...

Donga levanta um isqueiro para acender o seu baseado, enche suas bochechas de fumaça e solta ao tirar o rolinho fino dos lábios. Transpassando a densidade esbranquiçada, seus olhos saem de seu amigo, vindo diretamente para mim. Sustentamos os olhares um do outro, o dele se afunilando conforme sua boca se enche com a fumaça e a libera.

Pensei que seria a primeira a quebrar o contato; ele me venceu, voltando a concentração total ao pessoal da roda, que partilham com ele algo que o faz rir. Conheço seu sorriso sincero, aquele não é um deles. Eu tive seus sorrisos realmente verdadeiros no domingo. O que vejo agora em seus lábios é a tentativa de se mostrar inabalável perante aos amigos. Ele esquece que seus olhos são expressivos e delatam sua ira.

Seu mal é seu ego, Donga!

Mergulho no que acontece ao meu redor, é melhor. Jefinho, o amigo do Vini, se junta a nós, nos cumprimentamos e bla bla bla.

Esvazio meu copo, numa guerra interna para não sondar lado nenhum. Duda me acompanha para buscar mais álcool. No balcão, no meio-tempo em que esperamos, Bruninho nos encontra e nos obriga a tomar uma dose de tequila com ele. Tequila que a moça despeja em copinhos de vidro minúsculos, os espalhando pelo balcão e, não sei como, ela semeia fogo naquilo. A ideia é meter a mão no fogo, pegar o copinho e virar o mais rápido possível, quem perder bebe de novo. E eu perdi quatro vezes.

É... eu bebi QUATRO DOSES DE TEQUILA FOGUEJANTE!

E tenho certeza que essa palavra não existe, criei agora.

EU SOU FODA!

Retornamos com meu copo, mas minha alma perdi por lá. Eu já conseguia ver dois Vinis sorridentes e dois... É Jefrey?

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora