95 Carro preto vai passar...

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Donga,

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Donga,

O pior tipo de pessoa pra mim, é aquela que trai alguém que ajudou e deu a mão na hora da dificuldade. Eu confiei nesse moleque, botei ele dentro da minha casa, na contenção da minha mulher, porque ele me transmitiu pureza. Acreditei que fosse um menor capacitado, correto. Me enganei... a gente sempre se engana com alguém mais cedo ou mais tarde.

Da mesma forma que ele agiu comigo na trairagem, estou agindo com ele. Mantendo a frieza, a lógica e a estratégia. Não demonstrei nada. Ele pensa que veio numa missão. Tá todo feliz, se sentindo importante. Mal sabe que vai morrer. E da pior forma!

Ele aprecia os detalhes do painel, os olhos brilhando em deslumbre. Enquanto isso, minha mente maquinando: será que ele também está envolvido na cena do Gereba? O que levou ele a me apunhalar dessa maneira? O que ele sabe? Quem está com ele?

Dei uma moral do caralho pro cuzão e ele armando contra mim.

Aperto o volante com força.

Preciso me controlar. Tudo será feito na mais pura tranquilidade. Se eu perder a cabeça, fodeu.

- Curtiu? - Pergunto calculadamente a ele, apontando com o queixo para o painel.

- Pô... brabo! - seu sorriso é empolgado, os olhos contemplativos nos botões.

- Tem vontade de ter um assim? - espreito de viés enquanto giro o volante ao fazer uma curva.

- Claro, pô, quem não? - sua resposta é efusiva, o braço na janela.

Será que nem se passa na mente dele que eu sei? Que a casa dele caiu?

Ele não demonstra nenhum incômodo, nem medo, nada. Apenas alegria.

Moleque novo, conhece o ritmo. Entrou nessa pra quê? Armar troia pra mim por qual motivo? Inexperiência? Acreditou que seria esperto o suficiente para não ser descoberto? Ou é a coragem estúpida da juventude?

Já tive a idade dele, mas sempre fui limpo, meu fundamento é transparente. Nunca agi baseado em ambição ou olho grande no que é dos outros.

- Visão... - Passo o olhar por ele brevemente. - Só se liga pra ambição não subir na mente. Muitas vezes ela te leva pra vala, sacou? - Meu tom se torna mais apático, as intenções por trás do conselho, subententididas.

A partir desse momento me parece que ele passa a suspeitar do meu modo de agir. Sua mão esquerda se fricciona desinquieta no jeans da calça.

- Claro, claro... - agita a cabeça para cima e para baixo, o nervosismo transpassando em seu rosto.

Nos aproximando da escadaria, que dá num terreno baldio bem no alto, desacelero e estaciono. Daqui só tem como subir a pé.

- Desce ai, menor. - ordeno secamente, saltando para fora. Ele agora está ainda mais escaldado, mas obedece.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora