[ 🚨 Alerta de gatilho: contém cenas fortes de tortura e agressão]
Donga,
Olhando para ele, só consigo sentir ódio. O mané era da minha total confiança, colava comigo aonde eu fosse, andava no meu carro. Ele teve coragem de ir entregar o corpo do Gereba na porta da casa da mãe dele, na maior naturalidade. Deu a notícia pra esposa, viu os filhos do cara chorar. Depois eu é que não presto. Eu ao menos tenho vergonha na cara, sou justo, ando pelo certo.
- Manda esse vídeo pro Rodrigues, Cavera. Aquele finado vai gostar. - Digo, e pego o alicate de corte que está no chão, junto a mais outras paradas.
- Segura a mão dele ai, pô. - giro meu boné ao contrário, me preparando.
Piu, eficientemente, desprega os dedos em punho do maldito e abre sua mão sobre um pedaço de tijolo, obrigando os dedos a ficarem bem esticados.
A boca do Papagaio está aberta enquanto ele chora feito moleque, a baba brilhando em um elo entre o céu da boca e a língua. O sangue que desce do nariz, passa pela boca e escorre em uma gosma nojenta pelo queixo. Ele não consegue muito se importar com a dor iminente que lhe aguarda, suponho que pelo abalo emocional de ter a cabeça da esposa ao lado e os corpos da sogra e do irmão a vista.
Falar legal, eu mesmo não teria matado a sogra do cara e nem o irmão em outras circunstâncias. No entanto, nesse cenário, eles deram o azar de estarem na casa quando Piu foi cumprir a ordem. Se estivesse a família toda, ele teria trazido geral e eu passaria o cerol sem piedade alguma em todos eles.
Quando tu está no crime e ataca a família de alguém, tem que saber que quem estiver ao seu lado vai pagar junto contigo pelos teus erros. Se ele tivesse vindo na minha direção e agido feito sujeito homem, as consequências cairiam somente sobre ele, mas ele e o rato de esgoto foram na direção da minha mina, o que influenciou muito na minha atitude.
Ele e o Rodrigues não estão errados, sou obcecado pela Eloá mesmo. Os dois cometeram a pior burrada da vida deles tentado me atingir através dela, porque eles realmente me atingiram fortão, tá ligado? Tá ai o resultado da brincadeira.
Acendo outro balão - não tem como não fumar o tempo todo. Do contrário, sinto que posso ficar maluco. Penduro o baseado nos lábios e dobro os joelhos, ficando na altura dele, empenando a boca num pequeno sorriso de prazer.
O back se balança quando falo:
- Tu sempre soube qual meu pensamento em relação a trairagem. Te ajudei quando tu mais precisou... - começo, a voz fluindo maneira. O primeiro dedo a ser mutilado é o mindinho.
Seus urros são excruciantes, suas pernas e o tronco se torcendo em reação. Os outros ajudam a manter sua mão no lugar para eu finalizar a amputação. Um pouco negligente, porque, tá ligado né? Não sou especialista nesse bagulho.
O anelar é um pouco mais duro de cortar. Aplico mais força em cima do osso, ainda dizendo:
- Tudo que tu tinha que fazer era ser fiel a facção, a mim, fechar pelo certo. - Preciso subir a voz para sobrepujar seus uivos, sua expressão desconfigurada pela dor. - Mas tu quis se aliar com verme. Justo com eles, que entram na favela causando chacina. Tu é cria daqui, sabe como eles são.
Pauso antes de extirpar o terceiro dedo, para fazer uma observação: - Porra, tá me sujando todo, cara! Não consegue ficar parado no bagulho? - abrindo os braços, avalio o estado da minha roupa.
Desse jeito vou acabar todo respingado. Sorte que a camisa é preta, mas a bermuda...
Retiro o back dos lábios, dando preferência a mão menos suja, e fumo direito, com vontade, encarando seus olhos lacrimejados e sua face espremida. Já o seu olhar é assassino contra mim. Quem dera se ele conseguisse pular na minha garganta, me enforcar. Seria uma alegria imensa para ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Love no Morro da Liberdade 1
RomanceTudo ia muito bem na minha vida, até... o Donga aparecer e mudar tudo! Ele mudou verdadeiramente minha vida de uma maneira intensa. Quando vi, já estava envolvida por sentimentos até então desconhecidos por mim. Perdi a razão, a noção, os sentidos e...