97 Sua vez chegou!

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[ 🚨 Alerta de gatilho: contém cenas fortes de tortura e agressão]

Donga,

Olhando para ele, só consigo sentir ódio. O mané era da minha total confiança, colava comigo aonde eu fosse, andava no meu carro. Ele teve coragem de ir entregar o corpo do Gereba na porta da casa da mãe dele, na maior naturalidade. Deu a notícia pra esposa, viu os filhos do cara chorar. Depois eu é que não presto. Eu ao menos tenho vergonha na cara, sou justo, ando pelo certo.

- Manda esse vídeo pro Rodrigues, Cavera. Aquele finado vai gostar. - Digo, e pego o alicate de corte que está no chão, junto a mais outras paradas.

- Segura a mão dele ai, pô. - giro meu boné ao contrário, me preparando.

Piu, eficientemente, desprega os dedos em punho do maldito e abre sua mão sobre um pedaço de tijolo, obrigando os dedos a ficarem bem esticados.

A boca do Papagaio está aberta enquanto ele chora feito moleque, a baba brilhando em um elo entre o céu da boca e a língua. O sangue que desce do nariz, passa pela boca e escorre em uma gosma nojenta pelo queixo. Ele não consegue muito se importar com a dor iminente que lhe aguarda, suponho que pelo abalo emocional de ter a cabeça da esposa ao lado e os corpos da sogra e do irmão a vista.

Falar legal, eu mesmo não teria matado a sogra do cara e nem o irmão em outras circunstâncias. No entanto, nesse cenário, eles deram o azar de estarem na casa quando Piu foi cumprir a ordem. Se estivesse a família toda, ele teria trazido geral e eu passaria o cerol sem piedade alguma em todos eles.

Quando tu está no crime e ataca a família de alguém, tem que saber que quem estiver ao seu lado vai pagar junto contigo pelos teus erros. Se ele tivesse vindo na minha direção e agido feito sujeito homem, as consequências cairiam somente sobre ele, mas ele e o rato de esgoto foram na direção da minha mina, o que influenciou muito na minha atitude.

Ele e o Rodrigues não estão errados, sou obcecado pela Eloá mesmo. Os dois cometeram a pior burrada da vida deles tentado me atingir através dela, porque eles realmente me atingiram fortão, tá ligado? Tá ai o resultado da brincadeira.

Acendo outro balão - não tem como não fumar o tempo todo. Do contrário, sinto que posso ficar maluco. Penduro o baseado nos lábios e dobro os joelhos, ficando na altura dele, empenando a boca num pequeno sorriso de prazer.

O back se balança quando falo:

- Tu sempre soube qual meu pensamento em relação a trairagem. Te ajudei quando tu mais precisou... - começo, a voz fluindo maneira. O primeiro dedo a ser mutilado é o mindinho.

Seus urros são excruciantes, suas pernas e o tronco se torcendo em reação. Os outros ajudam a manter sua mão no lugar para eu finalizar a amputação. Um pouco negligente, porque, tá ligado né? Não sou especialista nesse bagulho.

O anelar é um pouco mais duro de cortar. Aplico mais força em cima do osso, ainda dizendo:

- Tudo que tu tinha que fazer era ser fiel a facção, a mim, fechar pelo certo. - Preciso subir a voz para sobrepujar seus uivos, sua expressão desconfigurada pela dor. - Mas tu quis se aliar com verme. Justo com eles, que entram na favela causando chacina. Tu é cria daqui, sabe como eles são.

Pauso antes de extirpar o terceiro dedo, para fazer uma observação: - Porra, tá me sujando todo, cara! Não consegue ficar parado no bagulho? - abrindo os braços, avalio o estado da minha roupa.

Desse jeito vou acabar todo respingado. Sorte que a camisa é preta, mas a bermuda...

Retiro o back dos lábios, dando preferência a mão menos suja, e fumo direito, com vontade, encarando seus olhos lacrimejados e sua face espremida. Já o seu olhar é assassino contra mim. Quem dera se ele conseguisse pular na minha garganta,  me enforcar. Seria uma alegria imensa para ele.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora