56 ° Carona...

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Não deem spoilers! Se eu ver, apago!

Eloá,

Em casa, tomo um banho e visto um conjuntinho de short saia e blusinha de tecido rosa bebê, aqueles tecidos justinhos no corpo e que esticam.
Me banho do perfume que o Saulo adora. Se ele for me ver, preciso estar cheirosa. Pincelo meus cílios com rímel, coro as bochechas com blush e penteio o cabelo. Já que eu lavei de manhã, ele está limpo.

No caminho para o morro, sinto certa angústia, um pressentimento inconveniente de que algo ruim vai acontecer. Piloto com a maior atenção do mundo. O trânsito do Rio é coisa para doido, temo um acidente.

Muito esquisito, até agora o Donga não apareceu... Isso me remete a última vez em que ele sumiu. Meu corpo retesa com a lembrança do que aconteceu naquele dia. Ele desaparecer não é bom sinal...

Subo a rua principal do morro e buzino para alguns dos meninos que estavam algumas quadras para cima, numa rodinha, debatendo sobre algum assunto. Eles acenam com a cabeça, num cumprimento respeitoso. O fato de muitos deles passarem maior parte do tempo na casa do Donga, ou ao redor dele, acaba aumentando nosso convívio. Digamos que criamos uma... não chega ser amizade, porque o Donga odeia que eu fique de assunto, mas um respeito. Em resumo, me dou bem com eles.

Estou afiada no caminho, faço o percurso pacatamente. Há um bar algumas ruas antes da esquina em que eu devo entrar para sair na rua onde Duda mora. Para quem até pouco tempo tinha se perdido aqui, hoje em dia pelo menos os caminhos da casa da minha amiga e do meu namorado eu encontro sem problemas. Mas não posso desviar a rota nem um milímetro, se não me perco mesmo.

Acelero mais para passar logo o bar, tem muitos homens sentados lá e eu morro de vergonha.
Um assovio alto me faz checar pelo retrovisor e o reflexo do meu amor surge no meio da rua, balançando a mão para me mandar parar.

Freio e engato o ponto morto, vendo pelo espelho ele marchar despojado em minha direção. O peito tatuado está exposto, a camisa preta jogada no ombro. Veste uma bermuda que já o vi usando antes e gosto muito nele. O boné meio folgado na cabeça e torto, os cabelos salientando por baixo da aba, as correntes tinindo no peito. Na mão direita uma long neck e na esquerda um cigarro de maconha, que ele fuma enquanto se locomove. Ele anda largadão, o solado do chinelo batendo no calcanhar, ostentando uma arma no cós.

Removo o capacete, sacolejando a cabeça para soltar os fios que enrolei num coque e enfiei na blusa para não embaraçar. Ele segura a bebida e a droga numa só mão, libertando a outra para me tomar pela cintura assim que chega a mim.

- Pensa que vai onde, branquela? - Abocanha a carne do meu rosto. O cheiro de cerveja se mesclou com seu perfume e a essência da maconha.

Sua carinha de canalha é um indício de que está chapado. O sorrisinho bobo e malandro, os olhos baixos e vermelhos... Deve estar bebendo desde cedo, por isso não me respondeu.

- Vou na Duda. - Transpasso meu braço pelo buraco do capacete, equilibrando a moto. Ele não para de me espreitar feito um bêbado tarado e delicioso. Estou um pouco irritada pelo seu estado, e não são nem quatro horas da tarde ainda.

- Será que tu me dá uma carona? -
Suas palavras saem preguiçosas, meio arrastadas. Ele tenta me beijar e eu arredo a cabeça, vetando.

- Está bebendo desde que horas, Donga? Está doidão, cara... - Falo aborrecida.

Rindo sem-vergonha, ele se aparta de mim.

- Que tô o que... Tu não me viu doidão, ainda. - Um último trago na ponta da maconha e a descarta no chão. Ele ama me irritar, eu acho. Sobe a bermuda meio larga na cintura, mostrando o elástico da cueca box Cavin Klein cinza, seus olhos explorando minha roupa. - Já me deixa bolado andando com esse short curto... - Dessa vez ele laça meus fios, me obrigando a beija-lo.

Love no Morro da Liberdade 1Onde histórias criam vida. Descubra agora