Sasuke partia do orfanato, rumo à sua carruagem, cuspindo fogo pelas narinas. Maldito, Uzumaki! Maldito! A pergunta inconveniente que o rapazote, que seu amigo levara ao clube na noite passada, lhe fizera ecoou em sua mente pelo restante da madrugada, impedindo-lhe de pregar os olhos.
Por isso ele não pôde continuar em casa, tinha que ver aquele pequeno ser que ocupava o centro do seu universo. Estar com Sasuke (às vezes se arrependia de ter dado o seu nome ao pequeno, visto que o lorde se considerava um homem podre) lhe fazia bem. O menino trazia paz para a sua alma torturada, fazia-o sentir vontade de continuar vivendo, entretanto, vê-lo também lhe causava uma dor excruciante por lembrar tanto da mãe.
Após obter a sua dose de martírio e alívio, o Uchiha estava indo embora quando o padre pediu-lhe um minuto de seu tempo. O padre Orochimaru estava realmente estranho naquele dia, na verdade, ele sempre o era. Lançava uns olhares peculiares na direção do lorde, tornando impossível para ele não estremecer de horror.
— Meu filho, — o clérigo começou, tocando-lhe no bíceps, por cima do terno grosso que o duque usava. — pecar é normal para o ser humano, mas devemos buscar sempre a redenção.
— Padre, hoje não é o meu dia de confissão. — O lorde interrompeu, impaciente. — Na verdade, preciso estar em casa em meia hora, tenho uma reunião de extrema urgência com o Uzumaki.
Mentiu descaradamente, mas sem sentir o mínimo remorso, queria colocar o máximo de distância daquele olhar – agora cintilante – e de sua mão, que o apertava com afinco. Tentou, sem sucesso, se desvencilhar.
— Lorde Naruto, hein? — O padre abriu um sorriso… malicioso? Não, um homem de Deus não sorria maliciosamente, Sasuke descartou a ideia. — Vocês são muito próximos, não é, Vossa Graça?
— Sim. Nós nos conhecemos desde os tempos de escola. — O Uchiha respondeu, taciturno. Agora a mão do padre se encontrava em sua gravata. Céus, aquilo era desconfortável!
— Então vocês já se encontraram em situações… hum… bem íntimas, certo? — Ele indagou, esperançoso. De onde vinha tal esperança, era um verdadeiro mistério para o duque.
Sasuke ponderou a questão por alguns segundos, o Uzumaki o conhecia melhor do que qualquer outra pessoa no mundo; conhecia todos os seus segredos e era quem mais o ajudava a guardá-los. Então, sim, com certeza eles passaram por situações íntimas juntos.
— Sim, padre, nós já passamos por situações íntimas juntos. Na verdade, sem o Uzumaki, eu dificilmente poderia ser quem eu sou de verdade. — Sasuke respondeu.
Padre Orochimaru literalmente salivou diante da resposta, puxando o colarinho do Uchiha com ânimo renovado.
— Ora, eu entendo perfeitamente. O corpo implora pelo pecado, mas a alma deve ser purificada. Eu sei que quem prova do fruto proibido pode acabar gostando em demasia do desejo e que lidar com as cobras é deveras tentador.
O que diabos aquele homem pálido e estranho estava falando? O Uchiha não entendia uma palavra sequer.
— Sei que agora o relacionamento de Vossa Graça e do Senhor Uzumaki foi exposto, mas eu não me importo e nem vou expulsá-los da Igreja. — Relacionamento com o Uzumaki? Com certeza o duque tinha escutado errado, não era possível. — Mas você vai precisar se redimir nas águas santas antes de retornar à Congregação. Se você, Vossa Graça, me visitar na minha casa, ao fundo da paróquia mantenho uma banheira ao ar livre, talvez possamos buscar a purificação juntos. A sua cobra só poderá ser exorcizada nas águas profundas do meu ser.
— O QUÊ? — Sasuke exclamou, incrédulo. O Padre Orochimaru estava, literalmente, apalpando seu peitoral enquanto piscava para ele sugestivamente. — Padre, o Senhor me desculpe, mas eu prefiro ir para o inferno!
Então ele virou as costas e saiu dali o mais prontamente possível. Deus, o que acabara de acontecer? Para o bem de sua sanidade mental, ele fingiria que o episódio não passara de um delírio momentâneo. Mas agora precisava descobrir qual foi o maldito boato em que o Uzumaki lhe envolvera.
Alerta, Sasuke percebeu que o caminho se abria para ele, mas não pela deferência referente à sua posição, e sim por algum motivo oculto. Muitas freiras viravam o rosto quando o via, fazendo o sinal da cruz e sussurrando palavras reprovadoras. Então, quando ele já estava às portas do orfanato, para chegar à rua, a Irmã Anko lhe parou na saída.
— Perdoe-me pela intromissão, milorde, mas eu quero o bem do pequeno Sasuke e, se o senhor continuar jogando a sua reputação na sarjeta, o Arcebispo nunca permitirá que você o leve daqui. — A religiosa falou com angústia, franzindo o rosto. — Por favor, tenha mais cuidado quando for praticar as suas… hã… atividades.
Ela colocou um folhetim em sua mão e entrou na instituição novamente, deixando um Uchiha muito confuso para trás. Dando de ombros, Sasuke seguiu para a sua carruagem, lendo devagar aquele pedacinho de papel que ele reconheceu como pertencendo a uma coluna de fofoca.
Quando ele terminou a leitura, estancou onde estava, há alguns metros do seu veículo. Maldito inferno! A pele pálida do lorde se tornou vermelha e ele ficou em dúvida sobre quem matar primeiro: seu melhor e mais estúpido amigo ou o maldito editor daquele jornaleco de quinta.
Sem mais demora, ele entrou na carruagem, sem esperar que o lacaio abrisse a porta para si. Era impressão sua ou um vulto passou por ali? Não, não era possível. Provavelmente a sua mente cansada e estressada estava lhe pregando peças.
Bateu no teto da carruagem e pediu para o condutor lhe levar para a residência dos Uzumaki. Já que estava desmoralizado, pretendia arrastar o resto de sua dignidade na lama. Estava decidido: mataria o seu melhor amigo muito, muito lentamente. Então, coisas estranhas começaram a acontecer.
— Lorde Uchiha! — Uma voz feminina chamou o seu nome.
Assustado, o moreno olhou ao seu redor e constatou o que já sabia: estava sozinho. É, talvez estivesse mais cansado do que pensava. Ignorando o acontecimento, o Uchiha decidiu recostar-se no assento, a fim de descansar. Repousou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos, subitamente, ele sentiu uma presença muito próxima de si. Levantou-se de supetão, tentando localizar o intruso, mas só encontrou o vazio. Oh, céus, não era possível.
Lorde Sasuke Uchiha, duque e homem bem resolvido, que não temia a nada, na verdade tinha um medo oculto e terrível: fantasma e assombração. Desde muito pequeno ele temia o sobrenatural, então, por mais absurdo que fosse, o lorde sentia seu corpo estremecer apenas por imaginar que havia uma daquelas criaturas por ali.
— Q-quem está aí? — Ele indagou, trêmulo. Sua voz soou engasgada aos seus próprios ouvidos.
Como resposta, houve algumas batidas na parte debaixo do banco. Sendo o cavalheiro um homem estudado, ele reconheceu as batidas como sendo código morse. Parou um segundo para prestar atenção no que o espírito estava dizendo…
— Eu… vou… te levar… para o inferno. — Ele arrumou as palavras, arregalando os olhos ao constatar o significado. — Valha-me Deus! O padre me amaldiçoou!
Pare com isso, droga! Ele murmurou para si mesmo. Era ridículo um homem adulto, no auge de seus vinte e quatro anos, sentir medo de fantasma. E, se tinha alguém que voltaria para assombrá-lo, esse alguém era seu pai. O Uchiha não permitiria que aquele velho mesquinho se metesse em sua vida lá do além.
— Pai, se é você que está aí, saiba que é VOCÊ que deve ir para o inferno.
Confiante de que isso poderia ser o suficiente para refrear as investidas do seu maldito pai, o duque voltou a recostar-se, fechando os olhos para refletir o que faria para limpar a própria imagem, a Irmã Anko tinha razão, dificilmente o Acerbispo lhe daria a guarda de Sasuke. Mesmo agora, que ele se mantinha imaculado, ele não queria lhe dá-la, imagina após tamanho escândalo.
Tinha certeza que o seu havia comprado o clérigo antes de morrer, para evitar que Sasuke fosse criado como legítimo herdeiro do ducado de Uchiha.
— Uma criança de sangue imundo não tem o direito de viver sobre o mesmo teto que eu, nem de carregar o nome da família. Bastardo! Ele vai morrer como o maldito bastardo que é!
Tantos anos depois, as palavras ainda flutuavam na mente do duque. Se ele fosse um pouquinho mais corajoso, nada disso estaria acontecendo agora. Fugaku Uchiha era o tipo de homem que merecia apodrecer na mais profunda camada do inferno… e ele também. Como se o próprio capeta o escutasse, uma mão fria se enroscou no tornozelo do lorde, arranhando-o com as unhas afiadas de uma harpia. Por puro reflexo, o Uchiha lançou o próprio pé para trás, com força.
— PORRA! — Um grito estridente e… feminino? Preencheu o pequeno espaço da carruagem. Espera, Sasuke conhecia aquela voz e o desleixo com as regras sociais.
Pelo bem da sanidade mental, queria estar enganado. Tateou debaixo do banco até encontrar um braço fino, puxando-o desajeitadamente. Subitamente, no seu campo de visão, uma figura rosada surgiu com uma expressão totalmente desconcertada no rosto. Deus, de todas as pessoas…
— O que diabos você está fazendo aqui, sua megera cor-de-rosa?! — Ele esbravejou, ligando os pontos. O tal “fantasma” só poderia ser ela e o duque não podia estar mais desconcertado com essa perspectiva.
— Parabéns! — Ela exclamou, abrindo um sorriso que em nada o convencia. — Você ganhou o concurso da carruagem mais linda de Konoha!
O Uchiha piscou, incrédulo. Ela achava mesmo que ele era tão burro ao ponto de acreditar em uma desulpa tão esfarrapada naquele nível?
— Você entra na minha carruagem, se finge de fantasma, me faz passar por um grande constrangimento e ainda tenta subestimar a minha inteligência? — Ele indagou, seco. Preferia não sentir fúria ou acabaria apertando o pescoço fino dela.
— Que coisa, não? — Ela sorriu, sem jeito, recebendo um olhar atravessado como resposta. — Ah, Lorde Uchiha, nem uma criatura sem graça como o senhor, resistiria a pregar uma peça dessas. — Ela deu de ombros, como se fosse óbvio.
— Ah, e ainda me chama de sem graça! — Ele rosnou, sentindo um comichão nas mãos, pronto para enforcá-la.
— Ops, falei demais! — Ela pôs a mão sobre a boca. — Hã… a conversa está muito boa, mas eu preciso ir ou o tio Hiashi vai me degolar.
Sasuke encarou-a, cético.
— A senhorita vai abandonar uma carruagem em andamento? — Ele perguntou, lentamente.
— Colocando assim, parece meio estúpido… — Lady Sakura encolheu os ombros.
Antes que o duque pudesse rebater, um solavanco fez com que a dama caísse, de todos os lugares, sobre o seu colo. Talvez o cavalheiro estivesse realmente insano, pois se pegou falando:
— Eu quero o meu prêmio. — Exigiu.
— Mas não existiu nenhuma competição! — Ela protestou,
O lorde, lentamente, abriu um sorriso felino, pronto para atacar a sua presa.
— Mas quando você vai ao inferno, o mínimo que pode fazer é levar uma oferenda para o diabo. — A jovem tentou levantar-se do seu colo, contudo, o Uchiha foi mais rápido, enlaçando a sua cintura e prendendo-a sobre a sua virilha. — E se não tem oferenda, querida, você torna-se uma.
Então, tomando uma das opções mais impensadas de sua vida, o moreno agarrou-a pelo pescoço, mergulhando em sua boca suculenta. Desta vez, não havia uma lady muda para impedir que a distância entre os seus lábios acabasse.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Amando o inimigo
Fiksi PenggemarLady Hinata Hyuuga é uma mulher calma, tímida e passiva... isso é o que a sociedade pensa. Por trás da fachada de boa moça, existe uma jovem sonhadora de língua afiada e que sonha, acima de tudo, em ser livre. Contudo, seus planos serão frustrados q...