Conselhos

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Os dedos finos moviam-se em um ritmo acelerado enquanto a duquesa mordia os próprios lábios para não deixar o som devasso escapar de sua garganta. Com a mão livre, ela agarrou um dos seios, fingindo que não era si mesma a tocar-se, as mãos eram dele, do seu falecido marido.
O cavanhaque e a costeleta invadiram a sua mente enquanto a pele se arrepiava com as lembranças sensoriais gravadas nela. Sim, apenas naquele segundo ela imaginar-se-ia sendo possuída por ele mais uma vez. Enterrou os dedos dentro de si, indo ainda mais fundo, arqueando o corpo em um grito silencioso e sôfrego.
Estava lá, quase lá… precisava gozar com urgência. Ela fincou os pés no colchão macio abaixo de si, tensionando o corpo por completo enquanto os termos começavam a dominá-la. Contudo, o rosto muito conhecido de Asuma esvaiu-se como fumaça, sendo substituído por um sorriso sarcástico e a expressão sedutora do Senhor Hatake.
— Goze para mim, Kure… — A voz aveludada acariciou sua audição como se ele realmente estivesse ali.
Sim, Kakashi. Sim, sim, sim! Mil vezes sim! Atingir um orgasmo já era algo bom, imaginar um homem másculo lhe proporcionando tal prazer, era melhor ainda. Estava perto, tão perto… quando, de repente, se deparou com uma sombra minúscula, que a encarava com a cabeça pendendo para o lado.
— Mamãe, a senhora está bem? — A voz doce de Mirai fez-lhe interromper os movimentos, tendo o corpo varrido por uma onda de insatisfação.
Oh, merda! Kurenai queria gritar e espernear como se fosse uma criança cujo doce lhe fora roubado. Entretanto, era uma mulher e mãe, por isso esticou os lábios no que imaginou ser um sorriso acolhedor.
— Eu estou bem, meu amor. — Respondeu com a voz ofegante, estendendo os braços trêmulos para a menininha. — E você, o que faz aqui no meu quarto uma hora dessas da noite? — Indagou, quase chorando de frustração.
Do fundo do coração, ela amava Mirai. A pequena era o centro de seu mundo e a duquesa não trocaria a filha por nada neste universo. Ainda assim, maldizia internamente aquela situação. Amar a menina não era sinônimo de amar ser mãe. Havia um grande abismo entre uma coisa e outra, mesmo assim, ela tentava fazer o melhor para criar a filha, levando em conta que a menina só tinha a ela.
— Eu tive um pesadelo muito, muito ruim. — Os olhinhos vermelhos, iguais aos dela, encheram-se de lágrimas.
Kurenai estreitou o pequeno corpo contra o seu, acolhendo os pequenos soluços enquanto a tranquilizava.
— Está tudo bem agora, querida. A mamãe está aqui para você.
Ela embalou a pequena em seus braços até ela dormir, dessa vez, tranquilamente. Enquanto observava a respiração calma da filha, Kurenai se pegou frustrada com a sua vida.
Desde sempre ela fora tachada como perfeita. Tivera uma primeira temporada excelente, o que culminou em seu casamento no final daquele ano com nada mais, nada menos que um duque. Como se não bastasse o alto título, ela casou-se por amor, porque assim como o duque caía aos seus pés, a morena estava igualmente apaixonada.
Então ela se tornou uma duquesa perfeita, que todos enxergavam como um exemplo perfeito de moral e bom caráter, apesar de ser tão nova. Logo, com menos de um ano de casamento, ela ficou grávida. Mais um evento perfeito a cruzar a sua vida.
Contudo, seu conto de fadas começou a desmoronar naquele momento. Aos sete meses de gestação, Asuma sofreu um grave acidente de carruagem e não resistiu aos ferimentos, vindo a óbito. Kurenai quase não resistiu, perder o amor de sua vida tão precocemente, por isso, como via de escape, dedicou tudo de si para o bebê que crescia em seu ventre.
Todos esperavam que fosse um menino. Óbvio que a duquesa perfeita geraria um menino! Mas, não, daquela vez, ela falhou aos olhos da Sociedade, pois dera à luz a uma linda e saudável menina e não poderia estar mais feliz com isso.
Quando estava vivo, Asuma dizia constantemente que a criança era menina e que seria a sua mini lady, chegou até mesmo a escolher o nome dela. Mirai.
Lágrimas quentes se derramaram dos olhos vermelhos. Sentia saudades do aconchego e dos braços masculinos a envolvendo, queria o prazer profano que somente um homem poderia proporcionar-lhe, dar o seu corpo para outrem e mandar para o inferno toda maldita perfeição que não queria.
Contudo, quando se nasce mulher, não se tem outra opção a não ser a perfeição. Por mais que quisesse ter um amante, Kurenai sabia que jamais adotaria um. Ela era a duquesa perfeita e não poderia ser maculada, mas não por se sentir superior a ninguém; jamais desejou tamanho fardo sobre si.
Mas ela tinha uma filha. Uma pequena e doce criança que dependia de si para tudo, inclusive em termos de reputação. Numa Sociedade que erros não são admitidos, aqueles que persistem em produzi-los são tachados. E, consequentemente, é como se eles fossem hereditários.
Se alguém descobrisse seu prazer clandestino, não só ela estaria arruinada — se assim o fosse, Kurenai já estaria na cama do Senhor Hatake —, mas, não, o futuro também seria roubado de Mirai.
Suspirando, ela acariciou os cabelos sedosos da pequena que estava perto de completar sete anos. Por Mirai, apenas por ela, Kurenai estava disposta a passar mais sete anos sem ter um homem, afinal, o que era o prazer perto de uma filha?
Seus olhos encontraram a caixa metálica intocada que guardava os seus bombons favoritos. Oh, droga! Eles eram tão raros, mas, assim como todo o resto, ela teria que devolver ao Senhor Hatake como ato de recusa. Afinal, quem iria querer um libertino daqueles quando tinha os próprios dedos? Perguntou-se, rindo da própria tragédia.
Definitivamente, odiava a maternidade, contudo, estava disposta a fazer qualquer sacrifício por Mirai, ainda que fosse o sacrifício de sua feminilidade.

Amando o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora