Ilusão

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Bolo, chá e ar livre. Sei que Vossa Graça é uma mulher ocupada, mas me concederia a honra de ir a um piquenique comigo? Deverá levar nossa querida Lady Mirai também, claro.

Espero sua resposta com ansiedade,

H.

Que tipo de pessoa caia em um golpe tão baixo...? Era um ultraje o Senhor Hatake estar tratando-a dessa forma, quem ele pensava que era? Acha que ela, uma duquesa, fosse se render a um mero convite para um piquenique?

— Mamãe, estou pronta! — Mirai correu em sua direção, fazendo a fita do chapéu se desprender do seu queixo. — Vamos passear com o Senhor Hatake? — Os olhos infantis cintilavam de um jeito que fazia o coração da mãe apertar no peito.

É, pelo visto, ela era do tipo que caía nos truques baratos de um libertino conquistador como o prateado. Suspirou. O problema era que nas últimas semanas o grisalho estava atingindo justamente o seu ponto fraco: sua filha. Ele disponibilizava uma atenção demasiada para a pequena, visitando-a com frequência e enchendo-a de guloseimas, ainda que a duquesa reclamasse.

— Sim, meu amor — anuiu, sentindo algo estranho somente por pensar naquela perspectiva. — Você perguntou outras vezes e eu te falei que, sim, nós vamos passear com o Senhor Hatake.

Ela não sabia se ficava alarmada ou animada. Não era correto deixar que sua filha se apegasse a um possível amante, contudo, não podia deixar de se sentir tocada por vê-la interagir com uma figura paterna — ainda que totalmente inadequada — pela primeira vez. Quando pensava nisso, sua mente nublava para a primeira questão e o ciclo se repetia. Oh, céus, como era difícil para si!

A duquesa possuía uma infinidade de carruagem, de diversos tamanhos e utilidades, mas esperava por ele como se fosse uma debutante outra vez. Quão ridícula ela era? Suspirou, fitando a filha e se perguntando se ela ficaria muito decepcionada caso a mãe cancelasse o passeio. Bom, conhecendo a pequena como conhecia, apostava que ela ficaria muito chateada.

Antes que pudesse pesar os prós e os contras, cascos de cavalo estalaram no cascalho que dava acesso ao caminho de sua mansão e Kurenai esqueceu-se um pouco sobre como era respirar. Lindo. O desgraçado estava absurdamente lindo! Deveria ser um crime ou pecado aquele homem ser tão belo, não era justo com os pobres mortais.

Ele viera em um cabriolé do tipo que era puxado por dois cavalos e portava um único banco, mas que parecia ser o suficiente para o par de adultos e a criança. Bem arrumado, usando trajes diurnos num tom de verde escuro, com os fios dourados penteados para trás, ele desceu elegantemente onde elas esperavam e curvou-se em uma reverência.

— Olá, miladies — levantou-se, recolhendo um buquê colorido de girassóis tão amarelos como o sol que brilhava no céu do assento do veículo e, galante, entregou-a à pequena lady. — É um prazer passear em sua companhia, Lady Mirai. Aceite esse humilde buquê como expressão da minha gratidão por ter aceitado meu convite — sorriu com charme para a menina, que tinha os olhos escarlates, iguais aos da mãe, brilhando com intensidade.

— Muito obrigada, Senhor Hatake! — A excitação pueril era quase palpável, o que gerou um burburinho inconveniente no estômago da Kurenai, que assistia à cena um tanto emocionada. — É a primeira vez que ganho flores — as bochechas dela coração por causa da timidez repentina que tomou-a.

— Oh, então Konoha está muito mal servida de cavalheiros — brincou o grisalho, se voltando para o assento do cabriolé mais uma vez. Nesta, ele pegou um glamouroso buquê de camélias vermelhas e causou uma pequena falta de ar na duquesa ao voltá-lo para ela. — Obrigado por aceitar o convite, Vossa Graça — agradeceu com cordialidade. Por um impulso, a dama corrigiu:

Amando o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora