Em meio à penumbra da noite, as três sussurravam no quarto de Hinata. Havia muito tempo que as irmãs não tiravam um momento somente para conversarem sem compromisso. Aquela temporada estava sendo distinta de tudo que elas viveram nas anteriores, completamente atípica.
— Eu ainda não acredito que você vai casar! — A voz de Hanabi abrigava um misto de emoção e incredulidade.
— Nem eu! — Sakura concordou, ponderando sobre o assunto.
— Na verdade, muito menos eu! — A própria Hinata anuiu, rindo. Quando pensava nos acontecimentos do passado, as suas opiniões e o que viviam agora, era quase impossível não ficar assombrada. — Ai meu Deus! Eu vou casaaar!
Naruto era o homem mais atrapalhado, impulsivo e cabeça oca que ela conhecera na vida, e, ainda assim, era aquele que detinha seu coração. Ela estava feliz daquela forma e não trocaria seu noivo por nenhum outro no mundo inteiro.
As três deixaram gritinhos estrangulados escapar. O tempo mudava, a vida mudava, mas aquela irmandade se solidificava a cada dia que se passava. Agora, claro, cada uma delas tinha algo que demandava atenção, contudo aquele elo dificilmente poderia ser quebrado.
— Eu não quero casar. — Disse Sakura, assim que a histeria por Hinata passara.
A rosada sentia tanto medo de tudo e a proposta de Lorde Uchiha rondava a sua mente. Naquele dia, ele a impedira de responder, alegando que não queria pressioná-la. Dizer sim àquele pedido poderia levar a Haruno diretamente para a ruína, sem um caminho de volta. Queria que tudo fosse mais fácil, queria poder descer ao escritório do tio naquele momento e anunciar que não se casaria com Lorde Neji em hipótese alguma… doce sonho. A mão de Hinata cobriu-lhe a sua destra e a de Hanabi a canhota, em um apoio silencioso.
— Se você quiser fugir, eu chamo a carruagem. — A Hyuuga mais velha sussurrou.
— Sinceramente, não sei o que você vê no Lorde Uchiha, Saky… ele me dá calafrios! — Hanabi interpelou. — Mas eu distrairia os criados.
— E o que a minha falta de vontade em casar tem a ver com o Sa… Lorde Uchiha? — A pele clara ganhou um tom tão rosado quanto os cabelos dela.
— Preciso responder? — A mais nova riu. Riso que se tornou em suspiro quando a imagem de Konohamaru veio-lhe à cabeça. — Ele disse que pedirá a minha mão ao nosso pai depois do casamento da Hina. — Confidenciou. As outras duas suspiraram também.
— Vocês serão muito felizes, Hana! — Hinata usou a mão livre para segurar a da irmã.
— De nós três, o seu amado é o que chega perto da perfeição, Hana — a Haruno riu com suavidade. — Você merece um amor assim.
Os olhos límpidos lacrimejaram. Sentia medo, ansiedade e um milhão de outros sentimentos. Queria voltar a ser criança outra vez para não ter que lidar com questões tão complexas, contudo, mantinha-se firme e acreditava fielmente no amor que o Sarutobi nutria por si.
Hanabi decidira que não hesitaria quando o momento finalmente chegasse, afinal, já era de Konohamaru de todas as formas, exceto no papel. Apesar de sempre ter imaginado que se casaria com alguém de alta nobreza, preferia viver uma vida simples e recheada de amor que seu amado lhe oferecia. Entre o luxo e ser feliz, ela escolheria a última opção um milhão de vezes.
O amor era o mesmo sentimento para todos ou era distinto? Naquele quarto, naquela cama, as situações eram diversas. Hinata abdicara da liberdade que há muito havia idealizado, descobrindo o quão livre poderia ser ao escolher a própria felicidade; Hanabi vivia um lindo sonho, como se o seu romance tivesse saído de um dos livros que passara a infância lendo, ignorando o fato de que toda semente plantada tendia a germinar, tanto na alma quanto no corpo; e Sakura… ah! Ainda que tivesse conhecimento dos preceitos da Sociedade, que soubesse o quanto tinha a perder, escolheu viver. Viver tudo o que o amor pelo duque tinha a lhe proporcionar.
No final das contas, caro leitor, se esta autora puder opinar, apostaria todas as fichas na primeira opção. Apesar das circunstâncias, dos embates e entraves, amor é amor e ponto. Seria mais fácil drenar o oceano, a controlar tal sentimento. Ao fim e ao cabo, no dicionário, “amante” é registrado como “aquele que ama”… e elas amavam e muito.☾☀
Ele sentia-se profundamente ultrajado, ainda assim, o baronete seguiu o percurso que fazia todas as noites até aquela zona um tanto duvidosa de Konoha. O diabo, em sua concepção, era uma mulher e se chamava Temari Yamanaka. Somente a imagem daquela bruxa era o suficiente para fazer os pelos de seu corpo eriçarem e, infelizmente, outras partes de seu corpo também.
O moreno sempre se vangloriara de seu bom senso e inteligência, contudo, cometera o erro mais banal que alguém poderia cometer: fora prepotente. Fizera isso quando investira, meses atrás, em um negócio que achara vantajoso, levando a si mesmo e o pobre Senhor Sarutobi à ruína; e fizera mais uma vez, ao menosprezar Temari.
Crispou os lábios, irritado em um nível desproporcional ao descaso que ele empregava nos âmbitos da própria vida. Tateou o paletó até achar o charuto que estava guardado num dos bolsos internos. Aborrecido, acendeu-o na primeira lamparina que surgiu diante dos olhos. Os passos cessaram, por fim, em frente à grande porta do escritório dela. Sem cerimônia, ele adentrou o recinto.
— Está atrasado. — A loira repreendeu sem erguer os olhos dos papéis que lia.
O paletó verde-escuro descansava no encosto da poltrona acolchoada que ela estava sentada, um copo estava pela metade e o cheiro do charuto que ela havia fumado a poucos instantes impregnava o ar. Como sempre acontecia quando estava trabalhando, os fios dourados estavam partidos em dois, num penteado no mínimo incomum… tão incomum quanto às vestes masculinas que se agarravam ao corpo. O Nara corou.
— Tive pequenos imprevistos no caminho, milady — respondeu simplesmente, aproximando-se da mesa dela. A Yamanaka ergueu os olhos dos papéis que analisava por um breve instante, somente para lançar um olhar afiado contra ele.
— Não os tenha da próxima vez — era uma advertência e uma ameaça. Céus, aquela mulher ainda seria o motivo de sua morte.
— Claro, milady — a voz de Shikamaru estava tão tensa que poderia se partir, bem como os nós dos dedos estavam brancos devido à força com a qual cerrava o punho.
Semanas atrás, quando a loira havia oferecido-lhe um emprego, não havia imaginado que estaria vendendo a alma ao próprio Satanás. Oh, que engano! Temari não era tão passional quanto ele pensara num primeiro momento, era astuta e calculista. Pessoalmente, tinha uma personalidade péssima e explosiva, mas que desaparecia quando se tratava dos preciosos negócios dela.
— Preciso saber sua opinião sobre isto, Nara — chamou-lhe de volta ao presente.
Prontamente, ele obedeceu. Maldito fosse ele e o julgamento precipitado. Temari era uma patroa exigente e que não admitia insubordinações. Tecnicamente, eles tinham um acordo: ele fingia para o Lorde Yamanaka que se casaria com ela contra a vontade da dama enquanto, em troca, a loira ajudava-o a se reerguer financeiramente. Todavia, nada mais podia estar distante da realidade.
Contendo um suspiro, os olhos castanhos vagaram pelas palavras gravadas ali. Uma proposta muito interessante para expandir os negócios da dama à sua frente. Ela já era dona de um pequeno império, quase tão rica quanto o próprio pai. Sim, ela era uma maldita raposa astuta. Leu a proposta duas vezes para se certificar de que sua opinião seria relevante.
— Milady, — ela exigia o tratamento formal nas dependências do negócio — o investidor está oferecendo uma propriedade bem localizada, aparentemente em um bom estado de conservação, além de se localizar em um dos países mais prósperos do continente. Seu cunhado não é de Kiri? Milady teria uma motivação plausível para ir ao exterior sempre que quisesse.
— Então você supõe que devo aceitar? — Indagou inexpressivamente. Apesar disso, um brilho estranho cintilou nos olhos verdes, quase pretos à penumbra da noite.
— Na verdade, — tragou o charuto languidamente — creio que não, milady.
— Por quê? — Ela ergueu-se, caminhando a passos lentos em sua direção.
Só podia haver alguma coisa com ele por sentir a pulsação acelerar com a mera visão do corpo dela vestida naqueles trajes. Era um ultraje sem tamanho, droga! Já estivera com mulheres de todas as formas, cores, cabelos; conhecia um corpo feminino do avesso, mas era assaltado por uma ereção somente por ver Temari Yamanaka de calças. Céus, era ridículo!
De perto, ela o encarava como se fosse um animal exótico, esperando pela resposta que o cérebro — supostamente genial — não conseguia processar em hipótese alguma. O Nara se remexeu na cadeira, desconfortável, recebendo um riso sarcástico, da parte dela, como resposta. Os dedos femininos tomaram o charuto, que pela metade, da mão dele. Puta merda! Ela precisava ficar tão malditamente excitante naquela postura dominante?
— Quando eu faço uma pergunta aos meus funcionários, Nara, — soprou a fumaça e o hálito adocicado diante no rosto de Shikamaru, o deixando desnorteado — eu espero uma resposta.
Ele balançou a cabeça, fazendo o rabo de cavalo, que criava a pouco tempo, roçar-lhe o colarinho. Um calafrio o tomou por inteiro, se era pelo roçar ou por estar sob a mira do olhar predatório dela, ele não saberia responder.
— C-claro, milady! — Odeio o gaguejar na própria voz. — Bem, — pigarreou — à primeira vista, a proposta parece ser tentadora… tentadora até demais para ser feita de uma forma desproposital.
— Continue.
— É como se alguém estivesse montado uma armadilha a fim de te capturar — prosseguiu. — A resposta para isso está nas entrelinhas. Desde que milady aceitasse a propriedade, estaria concordando em construir um negócio em cima de um terreno que não lhe pertence. A pessoa está lhe oferecendo a propriedade, não a doando. Legalmente, a posse ainda é dela.
Ela ficou muito séria por um instante, muito ensimesmada. O corpo do Nara reagiu àquela reação, era como se alguém tivesse injetado gelo em suas veias. Era patético, entretanto ele queria a aprovação de Temari Yamanaka… e ela veio, em forma de um sorriso discreto que fez as calças dele perderem um pouco de espaço.
— Muito bem, Nara! — O elogio dela funcionou como fogo, aquecendo-o por dentro, afastando o gelo de antes. Contudo, a sensação confortável não durou muito, pois os olhos dela flagraram algo que não deveria: o volume avantajado nas calças do baronete. — Controle-se, Nara, — riu, provocante — não quero o chão do meu escritório sujo de esperma.
Mortificado, só restou ao lorde cruzar as pernas na tentativa de esconder o óbvio. Os olhos castanhos fitaram o vitral do outro lado do cômodo, procurando algo para refrear o sangue que era enviado para aquele ponto específico de seu corpo. As mulheres bebiam, riam e se divertiam lá embaixo, aproveitando da liberdade decadente que Temari oferecia numa bandeja.
A dona do Only Ladies não era uma dama a quem desafiar… e ele estava aprendendo isso a duras penas.
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Amando o inimigo
FanfictionLady Hinata Hyuuga é uma mulher calma, tímida e passiva... isso é o que a sociedade pensa. Por trás da fachada de boa moça, existe uma jovem sonhadora de língua afiada e que sonha, acima de tudo, em ser livre. Contudo, seus planos serão frustrados q...