A volta

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Hinata acordou com um peso estranho sobre si. Estava suada e o tal peso só fazia o calor aumentar, se sentindo abafada, ela tentou se espreguiçar, contudo, braços fortes a envolveram.
— Fique quieta. — Uma voz grossa a repreendeu.
A Hyuuga abriu os olhos de uma única vez, espantada. Estava tão acostumada a dormir sozinha, que não se lembrara de onde estava até escutar o delicioso timbre rouco da voz de Naruto. Os olhos perolados fitaram os azuis diretamente, que sorriam ao mirá-la de volta, a Hyuuga corou.
— B-bom dia. — Gaguejou, tentando se esquivar da prisão dos braços dele, porém o loiro não a deixaria ir tão facilmente.
— Bom dia, noivinha! — Respondeu entusiasmado.
O escarlate da morena se intensificou ainda mais quando se lembrou de algo básico: estavam nus. Oh, Deus! Os músculos do Uzumaki, tão quentes quanto ele era, tocavam-na em todos os lugares. Não adiantava, seu corpo reagia ao dele. Involuntariamente seus braços envolveram o pescoço dele e as pernas enlaçaram sua cintura.
A boca cálida de Naruto tocou a extensão de seu pescoço, queimando a pele que encontrava abaixo dela com beijos muito, muito quentes. Hinata se remexeu, com o corpo entrando em combustão.
— Narutooo… — Gemeu baixinho, puxando os fios dourados entre os dedos.
— Você não imagina o quanto é gostoso escutar o meu nome saindo dessa sua boquinha… — Ele lambeu-a languidamente, por reflexo, Hinata cravou as unhas na nuca do loiro, fazendo-o arrepiar-se.
Então ele tomou a sua boca em um beijo ardente que a incendiou por inteiro. Os quadris estavam em contato direto e não mexê-los era impossível. O ar ficou escasso entre os dois e o calor que a Hyuuga sentia antes elevou-se infinitamente mais.
Abruptamente, o Uzumaki se levantou de cima dela, respirando ofegante. Todo o corpo dele estava trêmulo e ele parecia lutar contra si mesmo.
— Esse foi um ótimo "bom dia". — Disse, quase sem fôlego. O peito desnudo subia e descia em um descompasso alarmante. — Mas seu corpo não está preparado para termos outro contato, então acho melhor pararmos por aqui.
Ele afastou a grossa cortina de fios negros, que escondiam a testa da morena, e depositou um beijo ali. Por mais que uma parte de si se sentisse frustrada, a Hyuuga sabia que ele tinha razão, pois sentia uma ardência incômoda entre as pernas.
— Tudo bem. — Concordou, suspirando. — Como médico, o que você recomenda? — Indagou, provocando-o.
Hinata pôde jurar que o ouviu ranger os dentes. Bem, definitivamente Naruto não era indiferente àquela situação toda.
— Banho, noivinha. — Ele apertou os lençóis ao redor dos quadris, mas a elevação sob eles ainda era visível. — Um banho muito gelado.

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Hinata estava corada até às orelhas diante do olhar de expectativas que Lorde Jiraya lançava sobre si —  se sentara de frente para ela na mesa de refeição. Ela sabia que não deveria ter saído do quarto de Naruto vestindo as roupas dele, mas seu vestido havia simplesmente sumido! Claro que o loiro não tinha culpa disso, porém Hinata fez questão de culpá-lo. Sentia como se o ancião tivesse visto cada um dos momentos que passara com seu neto na noite anterior.
Como saída para resolver os problemas imediatos,  eles mandaram dois bilhetes para a casa Hyuuga, o dela foi direcionado a Sakura, pedindo-lhe que mandasse um de seus vestidos mais simples e folgados. O outro foi escrito pelo loiro, direcionado a Hiashi, avisando que a sua filha mais velha era convidada dos Uzumaki e as suas intenções de casar-se com ela o mais rapidamente possível. Como bônus, o espertinho mandara dez caixas de chocolate dos sabores favoritos do futuro sogro… não que houve segundas intenções com o gesto nem nada do tipo.
— Então, — o ancião não conseguiu se conter mais — quem começa a dar os detalhes? 
A Hyuuga encarou Naruto na tentativa de se livrar daquela situação incômoda. O escrutínio do conde não se desviava dela. Oh, céus! Seu noivo simplesmente deu de ombros e desviou o olhar como se dissesse "não posso fazer nada". Traidor.
— Q-que detalhes? — Ela se remexeu na cadeira, o que foi um erro, visto que sua região íntima doía devido aos eventos da noite passada, principalmente o seu… bem, a careta de dor já dizia tudo.
— Ora, não seja tímida, netinha! — Ele lançou-lhe uma piscadela. — Sei muito bem que vocês estavam fazendo um bisnetinho para mim ontem.
Naruto se engasgou com o chá que bebia, sendo socorrido por Iruka, que passava ao fundo, por trás de si. A Hyuuga queria sumir naquele mesmo instante do quão envergonhada se sentia. O conde, no entanto, não parecia se importar nem um pouco com sua inconveniência.
— Lorde Jiraya, por favor, deixo-os em paz. — Iruka o censurou.
O moreno ajudava o loiro a se restabelecer, este estava muitíssimo corado, Hinata não sabia dizer se era pela vergonha ou pelo engasgo. A família Uzumaki era totalmente louca… e ela achava esse fato incrível!
Quando Naruto dava sinais de que não morreria, Iruka fez menção de se retirar, mas a morena não podia deixá-lo ir daquela forma. Precisava agradecê-lo por ter criado o homem perfeitamente imperfeito que era Naruto; por isso se pegou falando:
— Senhor Umino, por favor, junte-se a nós.
Os três pares de olhos masculinos a fitaram, surpresos. Hinata não se intimidou, mantendo a sua mirada fixa no Umino, que parecia desconfortável com aquela situação.
— Desculpe-me, milady, porém um criado não pode se unir aos seus patrões. — Ele rechaçou o convite com delicadeza. Nas íris castanhas, a Hyuuga notou um brilho triste. Não se daria por vencida.
— Oh, mas eu não o convidei como criado, — deu de ombros, sorrindo-lhe abertamente — chamei-o porque quero conhecer o meu futuro sogro melhor.
A surpresa dos homens se intensificou ainda mais, até mesmo Lorde Jiraya parecia ter perdido a voz. Hinata simplesmente apontou para o assento vago ao seu lado à esquerda, indicando que Iruka deveria sentar-se perto de si. Ele permaneceu parado, contudo não era ela a quem fitava.
— V-você sabia? — Seu tom era tão baixo que mal podia ser ouvido.
A pergunta era direcionada a Naruto, que também não sabia muito bem como reagir. Por um instante a Hyuuga amaldiçoou a sua língua pelo descontrole, ela não deveria ter se metido em assuntos que não eram seus.
— Sim. — O Uzumaki respondeu simplesmente, muitíssimo desconfortável com aquela situação toda.
Finalmente o Umino desviou o olhar, constrangido. Parecia querer fugir daquele recinto o mais rápido possível. A Hyuuga não queria piorar as coisas, mas não podia cruzar os braços, logo cutucou a costela de Naruto com força, a fim de que ele fizesse alguma coisa.
— Ai! — Ele gemeu, sendo arrancado do estupor, fuzilando-a com o olhar. Hinata simplesmente apontou para Iruka, com a cabeça, incitando o Uzumaki a fazer algo. — Er… é… o senhor gostaria de sentar conosco… pai.
Os olhos castanhos arregalaram ao ouvir aquela palavra, nem seus maiores sonhos Iruka pensou que algum dia seu filho lhe chamaria daquela forma. Emocionado, ele abaixou a cabeça para limpar as lágrimas que surgiram rapidamente. Naruto, por outro lado, engoliu em seco, pigarreando pelo embaraço.
Não, ele não sentia vergonha do pai, contudo nunca havia imaginado trazendo esse sentimento à tona.
— V-você não me odeia? — Indagou o mais velho, temeroso.
O loiro ficou estarrecido com tal pergunta, e um tanto ofendido. Balbuciou algumas sílabas, mas nenhuma palavra saiu de sua boca, por isso, quem respondeu foi Lorde Jiraya.
— Iruka, eu já te falei mil vezes que o netinho nunca te odiaria, assim como eu não o odeio. — Falou com uma seriedade que não lhe era característica, o que enfatizava ainda mais a sua fala. — Ninguém pode condenar o amor que você sentiu pela Kushina nem por ter se entregado a ela. Nós dois sabemos que ela não era feliz com o meu filho… nem ele com ela. — O Naruto sempre será meu neto e nada mudará isso, muito menos algo tão insignificante quanto um laço sanguíneo.
O conde olhou para o neto, tocando a mão do loiro por cima da mesa. Aquele gesto ia além de um toque singelo; era aceitação, era amor genuíno.
— L-Lorde Jiraya, eu…
— Você também faz parte da família. — O grisalho cortou qualquer tentativa de protesto.
— Sim, somos uma família, pai. — Naruto confirmou, com a voz embargada. — Como eu poderia odiar o homem que só me amou durante a vida inteira?
Encabulado, o Umino sentou no lugar vago ao lado de Hinata, que tocou a sua mão, imitando o gesto do conde. Àquela altura, todos carregavam lágrimas nos olhos.
— Mas nós sempre fomos tão discretos quanto a esse assunto, como você descobriu? — O moreno queria desviar o foco de si e estava verdadeiramente intrigado quanto à descoberta.
Naruto encolheu os olhos e fitou a xícara de chá que estava à sua frente, muito compenetrado. Os olhos azuis pareciam estar a quilômetros de distância, muito fundos nas memórias.
— Meu pai… outro pai — riu sem graça — nunca foi muito discreto. Vocês sabem que ele e a mamãe não tinham um bom relacionamento, não é? — Perguntou retoricamente. — Numa dessas discussões, ele disse que minha mãe tinha que agradecer a ele por cuidar do bastardinho que ela pôs no mundo… eu era grande o suficiente para saber o que “bastardo” significava.
Todos na mesa ficaram em silêncio. Hinata pôs a outra mão sobre a do loiro, formando uma ponte entre pai e filho. Havia muito para ser reconstruído naquela família, contudo não aconteceria de um dia para o outro.
— Desculpem-me a intromissão, mas, Senhor Umino, como o Naruto nasceu loiro se o senhor é moreno? Eu já vi uma pintura da Lady Kushina — a Hyuuga relembrou do retrato guardado no relicário que ficava em volta do seu pescoço — e ela era ruiva…
Dessa vez, Lorde Jiraya respondeu, descontraído:
— Quando eu era mais novo, meus cabelos eram tão dourados quanto o sol. O Naruto sempre foi um bom netinho, então puxou ao avô. — Lançou uma piscadela para a morena, que sentiu o coração se aquecer no peito com uma demonstração tão grande de acolhimento.
— O senhor me mata de vergonha, vovô! — O Uzumaki reclamou, rindo enquanto limpava as gotículas salgadas que escapavam da imensidão marítima em seu rosto.
— Os pais da Kushina eram loiros. — Iruka falou após um curto espaço de tempo. — Quando ela era muito pequena, seus cabelos eram loiros também, porém foram se acobreando com o passar dos anos. — A nostalgia morava em suas feições. — Você me lembro muito ela… filho.
Havia uma imensidão de coisas que a Hyuuga queria perguntar sobre aquela história, entretanto sabia que para tudo havia seu tempo, e aquele era o tempo de aproveitar a sua família. Sim, era isso que aqueles três homens tão distintos eram para si. Família.

Amando o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora