Amando o inimigo

Refúgio

Os dedos longos acariciavam os cabelos que o cabelo negro que caia sobre a testa dela. Estava na hora de cortar se Hinata quisesse manter o estilo que adotara meses atrás. Ele sorriu, sentindo o peito aquecer com amor e ternura, afinal era a primeira vez que acordava ao lado dela. Sua esposa continuava a dormir pesadamente e ele, como um bobo apaixonado que nunca imaginou ser, a admirava.
Às vezes ela resmungava algo, até mesmo em sonho era brigona, e ele não podia deixar de achar adorável. A pele branca tinha tantas marcas que ele nem ao menos sabia que era possível se encontrar em tal estado, porém se sentia satisfeito por saber que foram seus lábios a marcá-la. Afastou o cabelo para depositar um beijo na testa dela.
Os cílios de Hinata tremeluziram e os olhos perolados surgiram quando eles se abriram. Demorou meio segundo para ela se dar conta de onde estava e com quem estava. Ela cobriu o rosto com as mãos como se estivesse envergonhada, o rubor tomando de vermelho a extensão de pele pálida que escapou à boca dele.
- Bom dia, Lady Uzumaki - ele depositou pequenos beijos sobre as mãos dela, tentando afastá-las para atingir o rosto da amada.
- Bom dia - respondeu timidamente. Oh, como estava achando essa faceta dela. Sua pequena megera estava domada.
- Se sente disposta hoje? - Esfregou a pélvis contra ela, evidenciando a ereção que começava a se avolumar por baixo dos lençóis.
- Sinto-me ótima - ela respondeu com a voz levemente entrecortada.
- Quis que nossa noite de núpcias fosse em nossa casa - distribuiu pequenos beijos por ela. - Mas, assim que levantarmos, vamos para viajar em lua de mel. Serão tantas horas de viagem que é melhor fazermos alguns alongamentos antes... - a mão do Uzumaki deslizou pelo corpo delgado da esposa, deixando claro o que ele pretendia fazer.
- Um alongamento não cairia mal... - ela ronronou de volta, envolvendo os braços ao redor do pescoço do marido.

No andar abaixo, os criados se entreolhavam um tanto corados pelos sons nada discretos que vinham do quarto dos recém-casados. Eram pagos para não notar coisas assim, mas era quase impossível ignorar os gritos como...
- Oh, Naruto, mais!
Ficaram ainda mais constrangidos. Havia boatos de que o lorde não sabia usar a ferramenta masculina, porém nos últimos meses estava difícil acreditar nessas inverdades, principalmente devido aos gemidos constantes do novo casal.
- Er... - um Iruka muito embaraçado cortou o momento de contemplação forçada. - Vamos organizar bastante mantas e almofadas, creio que os noivos ficarão cansados durante o trajeto.
Todos assentiram e voltaram ao serviço. Pelo visto, logo teriam crianças circulando por aquela imensa mansão.

☾☀

- E-eu não quero morrer - os olhos âmbares estavam abertos como pratos e as lágrimas manchavam o rosto acinzentado, que dava sinais do final da vida. Ele se sentia desesperado, o medo e a culpa duelavam para saber quem o destruiria primeiro.
- Você... você - a saliva grossa impedia sua voz de sair. A língua estava tão pesada que ameaçava o sufocar. - Você não vai morrer - forçou a dizer, ambos sabiam que isso era mentira. O cheiro fétido da morte a rondava, assim como o sangue da hemorragia incessante.
Não deveria chorar, certo? Então por que as lágrimas insistiam em tomar sua visão? Odiava não ter controle das coisas, odiava-se por não poder mantê-la segura e odiava, acima de tudo, os responsáveis por aquilo.
- Nós dois sabemos que eu vou morrer, Sasuke - ela suspirou. - Sinto tanto, tanto medo... mas nenhum medo é maior que o que pode acontecer com ele - o Uchiha sentiu o estômago afundar e um calafrio gélido subiu à espinha. - Proteja-o, Sasuke. Por favor, por favor... - o apelo foi interrompido por uma onda de tosse que a atravessou.
- Calma - ele pediu, desesperado. - Não fala, por favor.
- Eu tenho que falar, Sasuke, ele é tudo que eu tenho... - uma grossa lágrima escorreu do rosto dele, molhando as lágrimas dela. - Salve-o, por favor, Sasuke... Salve-o... Salve-o...
- K-Konan... - era possível ver a vida deixando aqueles olhos tão vividos, que o iluminara por tantos anos.
- Sasuke... - ela sorriu, com os lábios sangrentos. - O nome dele é Sasuke.
O Uchiha estancou no lugar. Como ela poderia dar esse nome a uma criança inocente?
- Konan, escute, você ainda tem a vida inteira pela frente. Você vai ver, vamos criar esse bebê e fazê-lo tão, tão feliz... - um soluço dolorido subiu-lhe à garganta e as lágrimas seguiram caindo copiosamente. - Você será uma mãe tão maravilhosa...
Ela já não falava nada e o sangue molhava a maca da enfermaria do hospital de caridade. Se fosse um médico caro, provavelmente poderia salvá-la... As pálpebras da jovem pareciam tão pesadas, se fechando constantemente.
- Konan, abra os olhos - ele pedia a cada vez que não via as órbitas. - Konan, por favor, não deixe meus olhos.
Toda a disciplina imposta na infância não parecia surtir efeito agora, talvez fosse por causa da influência da convivência com o Uzumaki ou pelo peso que ele não suportava mais carregar sobre si. Só queria ser ele mesmo e viver uma vida tranquila, por que isso parecia ser um sonho impossível.
A respiração dela se tornava mais difícil a cada instante que passava e o medo fincava as garras afiadas em suas entranhas, sentia-se dilacerado por dentro. Ela conseguiu manter as pálpebras abertas, o encarando sem desviar. Isso deveria servir de alento, mas foi o seu tormento pessoal quando, por fim, o brilho da vida deixou de residir ali e um ínfimo suspiro escapou dos lábios ensanguentados, decretando a sentença.
Ela se fora.
- Konan, por favor, acorda!! - Gritou ensandecido, com as palavras rasgando suas cordas vocais. De todos os pesadelos de sua vida, esse parecia ser o pior. - Konan, por favor... KONAN!