Turbilhão

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Temari Yamanaka traçava os últimos ajustes de seu golpe final. Havia uma imensidão de coisas que gostaria de fazer na vida, uma porção delas exigia muito dinheiro, mas esse nunca fora um problema para si. O que tinha de astúcia, também tinha de sagacidade e coragem, portanto, não foi difícil erguer-se com as próprias mãos.
Entretanto, o que lhe impedia de viver o que queria era uma única pessoa, se é que podia ser chamado assim: seu progenitor. Os embates entre eles se tornaram frequentes, ainda mais do que já era de costume. Agora que, supostamente, tinha um noivo, o mais velho lhe pressionava para que se casasse.
Inoichi não tinha ideia de que, na verdade, a loira estava mais perto de se casar com um cavalo do estábulo, ao invés do baronete Nara. Não podia negar, embora Shikamaru lhe parecesse um paspalho preguiçoso e presunçoso no começo, ela pôde constatar que ele não era apenas isso. A inteligência pela qual o moreno ficou conhecido nos círculos sociais se mostrou verdadeira, para a felicidade de Temari.
Assim, só restou à Yamanaka lapidá-la. Teve paciência e o instruiu da mesma forma que aprendera a lidar com os negócios. Um grave problema de Shikamaru era esperar que as outras pessoas jogassem limpo como ele próprio jogava. Temari ajudou-lhe a ter malícia e usá-la ao seu favor. Um homem de negócios deveria estar preparado para qualquer coisa.
Sua presença não era de todo ruim, tinha que admitir, só precisava se livrar de seu pai agora.
— Seu pai exige que eu marque uma data para o casamento — ele entrou no escritório, interrompendo os pensamentos da loira.
— Eu não sabia que já tinha permitido que meus empregados invadissem meu escritório sem permissão — arqueou uma das sobrancelhas, esticando as pernas sobre a mesa, cruzando o calcanhar em seguida.
— Se é assim, poderia ao menos atender a porta — rebateu, zombando dela.
Temari poderia colocá-lo em seu devido lugar, caso quisesse. Contudo, havia aprendido a gostar daquele homem à sua frente e do senso de humor ácido que ele possuía.
— Tem um ponto — a sala ficou em silêncio enquanto a Yamanaka se deixava cair num devaneio mais uma vez. Estava na hora de agir e ela não iria postergar o momento. — Então, Nara, quero testar o quanto você aprendeu nos últimos meses…
— Com essa sua cara, não sei se posso esperar algo bom… — ele riu, ladino.
— Você acha que eu faria algo ruim para alguém? — Ela rebateu, risonha.
— Se alguém ficar em seu caminho, coitado dele — deu de ombros, achando o joguinho um tanto divertido.
— Ah! Eu tenho uma pedra que sonho em tirar dos meus sapatos… e vou tirar do seu também, desde que você colabore — deixou a sugestão no ar, avaliando se ele conseguiria detectar sobre o que ela se referia.
— Está na hora de quebrarmos nosso noivado? — O Nara levou ambas as mãos ao peito, fingindo sentir dor.
— Oh, sim, querido noivo — ela zombou, entrando na brincadeira. — Então… chegou a parte em que você mata o sogro para ficar com a herança — ela gargalhou, ao passo que o riso dele cessou.
— Eu não serei cúmplice de assassinato, Yamanaka — interrompeu a brincadeira, resoluto.
Shikamaru pegou um charuto do bolso do paletó, acendendo-o e se perguntando em quanto tempo aquela mulher à sua frente o levaria para a cova. Não achava que duraria muito.
— E você acha que eu vou sujar as mãos com o idiota que doou esperma para me gerar? — Cuspiu ela. — Quando ele cair, será por culpa da própria arrogância e presunção. Eu só preciso que você consiga alguns documentos para mim e pronto. Estaremos bem perto da liberdade. Deixa o resto comigo, eu resolvo.
— Quais tipos de documentos seriam esses? Se fossem fáceis de obter, você não estaria pedindo para mim. Por que eu deveria arriscar a minha pele por você? — Ele soprou a fumaça, pensativo.
Temari o avaliou, gostando de ver os frutos do seu investimento aflorando. Era isso que esperava dele, uma rendição difícil. Não queria receber nada de mãos beijadas, afinal não gostava de dever favores.
— De fato, não são fáceis, mas nada que suas astúcias não resolvam — a loira se concertou na cadeira, colocando ambas as mãos sobre a mesa e lançando um olhar profundo para o baronete. — Além disso, há um amigo seu que se beneficiará com esses documentos… e você ganhará 10% de tudo isso aqui — Temari girou o dedo para demonstrar o que insinuava.
— 15 — rebateu com firmeza.
— 13 — a loira não se abalou.
— 15 — o Nara também não cedeu.
— 14% e nada além disso — arqueou uma das sobrancelhas.
— Fechado — apertaram as mãos e finalmente o moreno indagou: — Qual amigo e exatamente o que está em jogo? — Definitivamente, ela gostava do modo direto com o qual Shikamaru agia.
— O Lorde Uchiha não está correndo atrás da tutela daquele bastardo? — Soprou como se não significasse nada, embora soubesse que o Nara era leal às suas amizades. Na verdade, era exatamente por isso que usava o tom falsamente despreocupado.
— O que você sabe sobre o assunto? — Ele apagou o charuto, ficando muito sério. Oh, ótimo! As apostas de Temari eram certeiras.
— Meu pai era amigo do antes Duque Uchiha… muito próximo por sinal. Os dois são da mesma laia, ambos filhos da puta! — Disse com o mais profundo escárnio. — Além deles, também há o Arcebispo corrupto. Descobri um esquema criminoso entre eles, que envolve até traição à coroa.
— Traição?! — Assustou-se do modo que a Yamanaka previu. — Temari, essa acusação é grave demais! Seu pai pode ir à forca! Você tem certeza disso?
— Você acha que eu brincaria com algo assim? — Perguntou com seriedade. — Com as provas certas, eu fico livre do meu pai e o seu amigo consegue o que quer. Não precisa me responder agora, porém não demore para me dar uma resposta. Está dispensado.
Shikamaru não falou mais nada, atordoado demais com as informações recebidas. Temari não podia negar que também havia ficado atônita com quando descobriu aquelas coisas. Era baixo demais até mesmo para um verme como Inoichi Yamanaka.
— Espere! — Deteu o Nara quando ele chegou na porta do escritório. — Nenhuma palavra do que eu disse pode sair daqui.
— Claro.
Quando ele saiu, ela caiu mais uma vez nos pensamentos sombrios que atormentavam sua mente. Não importava o que lhe custasse, ia ser livre.

Amando o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora