Faces da dor

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Konan era tão bonita que fazia seu pequeno coração se encher de sensações estranhas. Agora, Sasuke tinha dez anos e sua vida era muito melhor. Ele tinha Konan quando estava ali, sendo castigado com o escuro. Ainda tinha medo do escuro, mas os olhos amarelos eram a luz que faltava ao redor. Além disso, a melhora tinha outro motivo: Naruto Uzumaki.

Agora, Sasuke ia à escola para garotos num internato das redondezas. Ele passava todos os dias da semana ali — que ele costumava chamar de dias felizes — e os finais de semana em casa — dias tristes —. Na verdade, já não eram tão tristes assim, pois tinha a companhia da menina de cabelos roxos. Desde que ficasse longe dos olhos do pai, tudo ficava bem.

Por falar em pai, o menino suspirou. Ele continuava o mesmo de sempre, por isso, Sasuke fazia de tudo para esconder a amizade com Konan. O duque costumava falar para ele que criar laços era inútil e que só enfraquecia um homem. Quando o pequeno reproduzir a mesma fala para o menino Uzumaki, ele só riu e falou que seu pai era um tolo.

Desafortunadamente, num surto de coragem ou burrice, Sasuke falou exatamente isso para seu progenitor, quando as palavras foram proferidas mais uma vez. Foi nessa ocasião que o Uchiha recebera o pior dos castigos: o ferro quente. Ao escutar as palavras insubordinadas e impertinentes de seu herdeiro, o duque enfureceu-se.

Veja bem, se fosse em outra situação, outro contexto, talvez ele não se importasse. Se o moleque fosse arrogante do modo certo, seria parabenizado pelo duque, mas, não. Parecia que o trabalho e tempo gasto ao longo dos anos estavam indo "por água abaixo". Aquele desgraçado estava virando um maldito molenga.

— Oh, então você quer me desafiar, hum? — Uma careta grotesca formou-se no rosto cruel. — Veremos se você aguenta, garoto.

Então, uma coisa assustadora aconteceu: o duque sorriu. Sasuke nunca vira seu progenitor sorrir antes, não com todos os dentes à mostra e os lábios esticados ao máximo. Não era um sorriso de felicidade, pelo contrário, era a personificação de como um predador faminto encontrava uma presa frágil. Um arrepio de horror se alastrou pelo corpo do moreno.

Com um instinto de sobrevivência implorando, ele pôs-se a correr. Sentia medo em suas veias como o próprio sangue e, para sua pura infelicidade, ouvi as gargalhadas frias de seu pai. Não era o mais inteligente que poderia fazer, porém, algo dizia a Sasuke que ele morreria se o duque o punisse daquela vez.

Ele queria ser devoto, pois, caso rezasse, Deus poderia tirá-lo daquele tormento, certo? Mas há anos não tentava, afinal o alívio terreno acontecia quando o moreno se mostrava livre de qualquer fé, crença ou laços. Deveria ser vazio ou de nada serviria ao pai. Estava tão cansado de ser punido, que fazia qualquer coisa por um instante de paz.

Pensando bem, talvez a morte fosse um alento, contudo, ainda assim, ele procurou um esconderijo. Seu pai não o mataria. Ele era meticuloso demais para fazer algo assim. Por mais que não nutrisse feição alguma por ele, Sasuke continuava sendo o herdeiro que carregaria seu legado. Ele precisava somente disso: um herdeiro, que não precisava, necessariamente, estar inteiro.

Escondeu-se entre as roupas em um baú num quarto qualquer dentre aquelas dezenas de portas daquela mansão. O moreno amaldiçoava o próprio coração por bater tão alto e cobria a boca com as mãos na boca para se impedir de deixar escapar qualquer som. Se emitisse algum barulho, estaria perdido.

O silêncio do lado de fora só aumentava a tensão dentro daquele pequeno baú. Por mais que tentasse pensar em outra coisa, Sasuke só conseguia se concentrar no riso que ecoava pelos corredores, tão sádico que fazia seu estômago embrulhar. Apertou ainda mais as mãos para se impedir de denunciar a localização sem querer.

Amando o inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora