Capítulo 32

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Ponto de vista do Jungkook

Receio que meu maior medo fora viver uma vida em vão, desprovida de emoções que nos fazem querer levantar da cama todos os dias. No entanto, surpreendi-me no momento em que descobri uma paixão oculta pela música aos meus quinze anos, anteriormente havia descoberto a boa e famigerada fotografia, a qual tenho um apreço incomparável.

Ainda na flor da idade, apesar de todas as alegrias proporcionadas por uma adolescência bem vivida ao lado dos meus amigos de Busan, perdi meus pais. Foi aí que me vi em direção ao cômodo obscuro e frio para o qual sempre tive medo de ir. Claro, é natural que as pessoas partam daqui para outro plano, mas eu não esperava que isso aconteceria com meus pais da maneira que foi: repentina e de uma só vez.

Pensando nisso, vejo que me esqueci que uma vida recheada de emoções não nos traz apenas as boas, mas também as amargas e duras. A depressão me derrubou de maneira abrupta. Em alguns dias pensamentos agressivos comigo mesmo iam e vinham, mas já eram o bastante para me deixar com a consciência pesada. Acordar havia se tornado um sacrifício e ter objetivos de vida, sem sentido.

Olheiras eram notórias debaixo dos meus olhos e a magreza foi me domando aos poucos, minha autoestima passou a esmorecer. Antes eu poderia comer uma pizza inteira sem esforço, naquela época, um pedaço era capaz de me satisfazer. A casa em que eu morava com meus pais tornou-se vazia, só para mim, eu podia jurar escutar minha mãe me chamar ou meu pai balbuciar alguma coisa, mas nada. Meu corpo doía pelo sedentarismo, mas também pelo excesso de pessimismo.

Esse período da minha vida foi marcado por puro desânimo e escuridão, como se uma nuvem cinza acima da minha cabeça me acompanhasse para aonde quer que eu fosse. Alguns amigos da família tentaram me ajudar e, assim, depois de muita insistência acabei aceitando ir à terapia. Comecei a tomar antidepressivos e, sem qualquer motivação, a fazer exercícios físicos. Isso tudo gradativamente.

Foram cerca de dois anos intermináveis de batalha contra essa doença. A oportunidade de cursar Jornalismo em Seul me surpreendeu de inúmeras maneiras: foi intempestivo, iluminou ideias em minha mente apagada e me recordou a estadia dos meus tios fora do país, portanto teria uma moradia disponível — e à quem recorrer.

Posso garantir que não foi sorte, foi luta. Muita luta. Mas a depressão tem saída. Minha alma contém resquícios agonizantes que carrego desde então, mas consigo ocultá-los diante do sorriso que hoje esboço, tudo devido à Park Min-Young e as mudanças que ela trouxe para minha vida. Por mais que vir à Busan me traga uma série de lembranças, tenho força para enfrentá-las com tranquilidade. Isso porque quero ser feliz novamente.

Uma semana depois

Min-Young e eu retornamos para Seul e finalmente voltamos aos corredores da universidade que há tempos não nos via. Os estudantes dali não miravam-nos com olhares de julgamento mais, depois que Da-Hyun foi desmascarada, todos voltaram a nos ver como um casal comum que frequentava o lugar. Além disso, quem estava perto no dia em que eu conversei com a garota viu que eu não estava para brincadeiras em relação às polêmicas, principalmente se tratando de humilhações e calúnias sobre minha namorada.

O primeiro trabalho que fizemos juntos, que também rendeu nossa primeira noite de sexo, resultou em uma nota ótima e que nos livrou das recuperações por conta do quanto faltamos. Recebemos muitos elogios do professor e de alguns amigos, assim como olhares invejosos de outros. Reencontramos Hoseok depois de um bom tempo sem nos vermos, devido aos empecilhos da vida, e marcamos de sairmos com um pessoal à noite.

Hoje não fiquei muito tempo com Min-Young, fora dos horários de aula, porque ela decidiu ir à biblioteca da faculdade para colocar todas as matérias em dia. Eu, particularmente, não tenho muita paciência para fazer isso tão organizado do jeito que ela faz, mas uma hora sei que isso será preciso. No entanto, não será hoje.

Your Eyes Tell | Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora