⚠️ AVISO DE GATILHO: Violência, assalto, nictofobia (Fobia/Medo do escuro) dissociação, armas;
Prossiga com cuidado!
Colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡O inverno finalmente havia abatido São Paulo, devolvendo o título de "Terra da garoa" da capital.
Era madrugada, o chuvisco fino e gelado pinicava qualquer pedaço de pele exposta ao mesmo tempo que a umedecia de um jeito dolorido.
Leo parecia tentar aparentar postura relaxada e malandra, sem muito sucesso, ao ponto de que até o mais distraído dos bandidos do subúrbio, observando por mais de alguns segundos poderia notar sua tensão e tremedeira, não só causadas pelo frio da noite. Procurava qualquer telhado ou toldo para se encolher debaixo e chamar de conquista em sua luta diária pela sobrevivência.
Sentia-se uma presa fácil, seu tamanho e expressão insegura atraindo atenção por onde passava. Apesar disso, seguindo sua regra de sobrevivência número dois, não se daria o luxo de dormir à noite e agir de dia. Trazia consigo uma mochila pequena e surrada, além de um casacão de inverno muito maior do que seu tamanho, ambos furtados de um achados e perdidos numa galeria qualquer.
Em seus bolsos mantinha apenas o mais importante, o chaveiro-lanterna de coruja que servia também como alarme para caso precisasse, uma caneta encontrada no chão para defesa pessoal, algumas balas que enganavam a fome e três ou quatro moedas, as quais serviam como estímulo sensorial e calmantes ao serem chacoalhadas ou deslizadas entre os dedos.
Leo passou discretamente pela praça mal iluminada e caindo aos pedaços na rua de trás de prédios residenciais em condição não tão superior. Procurava qualquer toldo ou canto minimamente privado para se manter alerta durante o resto da noite, tendo em vista que fora expulso da escadaria de um mercado e quase perseguido ao ser notado como um menor de idade sem-teto, com cabelos sujos e olhar cansado.
Sua aparência provavelmente estava pior do que uma semana atrás, quando o único problema eram as gazes enroladas em seus braços começando a incomodar. Os cabelos castanhos pareciam obviamente mais escuros e oleosos, a única coisa que não podia lavar facilmente em um banheiro público.
Talvez devesse.
Lavar a cabeça com sabão líquido era melhor opção do que simplesmente não fazê-lo, pensou consigo em alguns momentos de distração.⚠️ Conteúdo sensível, colocarei outro sinal quando terminar! ⚠️
Leo estremeceu quando o poste de luz disponível na entrada da praça piscou duas ou três vezes, apertando o passo para qualquer lugar que não fosse tão escuro quanto aquela rua.
Odiava a escuridão, definitivamente. Ao mesmo tempo, sabia que a luz atraía atenção indesejada à noite. Leo apertou entre os dedos a estrutura fina e resistente da caneta em seu bolso, sentindo-se pronto para qualquer desafio que a madrugada traria.Perto dali, mesclando-se às sombras, uma figura esguia avistou o garoto solitário, analisando seus sapatos e casaco maiores do que as medidas corretas, respiração trêmula e a geral postura de um alvo fácil aos predadores do subúrbio.
Ao passar por baixo de um outdoor qualquer, as luzes iluminando a placa piscaram e se apagaram, deixando a nova presença mais uma vez misturada ao escuro.
Leo olhou atrás de si, toda a extensão de sua boca até a garganta parecendo secar em um único segundo. Mais uma fonte de luz se fora, e apesar da ausência de óculos, poderia identificar uma discrepância fluida e quase imperceptível nas cores mórbidas entre preto, cinza e roxo sombrio que a rua atrás de si tomava sem a iluminação forte no outdoor da loja fechada.
Ele coçou um olho, depois o outro, comprimindo-os para enxergar apropriadamente, porém o que quer que se mexesse no escuro, já havia desaparecido.Resmungou um palavrão, apertando a mão em volta da caneta em seu bolso, tentando absorver qualquer resquício de segurança que o objeto pudesse lhe passar.
"Grande ideia, andar de noite por aqui, seu imbecil."
Murmurou e logo parou no lugar em que estava, os pelos da nuca se eriçando quando ouviu o "creck" de uma embalagem vazia sendo amassada contra o chão logo atrás de si.
A mão segurando a caneta parecia mole, como se não lhe pertencesse, Leo simplesmente petrificado ao sinal de perigo iminente pela primeira vez na vida das ruas.
Tentou inspirar fundo, o ar gelado passando por entre os dentes e machucando a garganta em uma dor aguda.
Não se virou.
Ouvia quem quer que fosse a centímetros de si, sentia sua presença e respiração contra o topo da cabeça.
Era consideravelmente mais alto.
"Ok, guri, 'cê vai passar o que tiver aí no bolso, e a mochila também, fechou?"
A voz não parecia ser de um homem velho, mas não era a de um adolescente. Era grossa, porém áspera, esganiçada e de sotaque engraçado, como se saísse de um filme dublado de bang-bang.
Leo não se mexeu, sua garganta queimando em nervosismo.
"Eu vou falar de novo. ...A mochila, e o que tiver no bolso, moleque."
Repetiu o assaltante, encostando delicadamente algo pontudo, como uma faca pequena ou canivete, contra a base da coluna de Leo, logo abaixo de sua mala.
Leo assentiu devagar, tentando recobrar qualquer controle de seu corpo antes de se virar devagar, escorregando a mochila por um ombro.
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No próximo inverno
Romance⚠️ HIATUS INDEFINIDO ⚠️ Esta história, apesar de ainda estar em produção, vai ser inteiramente revisada antes da sua finalização, tendo em vista que começou a ser escrita há mais de dois anos atrás! Por isso, estando ainda disponível para a leitura...