Um intruso no ninho

73 14 99
                                    

⚠️ AVISO DE GATILHO: Menção de cicatrizes;
Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡
>> Tenha uma boa leitura:)


Diego encostou contra o batente da porta de entrada, arqueando as sobrancelhas em expressão quase irritada.
"...Trouxe remédio pro menino."
Murmurou Otto, encolhendo a cabeça entre os ombros e desviando os olhos verdes para o chão.
Tinha o nariz avermelhado, como se acabasse de chorar ou espirrar muitas vezes.
Os óculos retangulares escorregaram para fora do lugar, ajustados de maneira tímida e discreta.
"... E comida, porque eu aposto que você deu um pão com ovo pro coitado."
Provocou, recebendo um suspiro seguido da risada fraca de Diego.
"Tinha tomate e manteiga."
Corrigiu, dando espaço para que voltasse depois de outra discussão.
Otto levantou os olhos úmidos, aliviado pelo perdão silencioso.
"...Sem queijo?"
Diego sorriu torto e Otto entrou devagar, retirando os sapatos mesmo sem que lhe fosse pedido.

"'Que 'cê trouxe?"
Diego espiou por cima dos ombros da visita, que desempacotou as compras em cima da mesa.
"Tem uns remédios mais fracos e antitérmico também, não sei como ele tá."
Otto olhou discretamente para Diego, sorrindo com doçura quando seus olhares se encontraram.
"Eu trouxe uma coisa mais leve pra ele e pra você aquele hambúrguer que 'cê gosta."
Devagar, deixou os pacotes de comida de lado.
Diego acompanhava cada movimento com o olhar atento, mordendo a ponta de sua língua por dentro da boca.
"...E eu vou adivinhar que você não tem um termômetro."
Otto assumiu com ar sabichão, abrindo a embalagem de um novo termômetro eletrônico.
"Não tinha..."
Diego riu mais uma vez e então coçou a nuca, envergonhado.
"Vamo' no quarto, eu dou uma olhada nele pra você."
Otto sugeriu, retirando seu suéter amarelo-mostarda em um movimento lento, quase felino.
Diego observou em silêncio enquanto o outro ajeitava a peça com cuidado sobre uma cadeira, impedindo qualquer dobra desnecessária.
"Ele tá com... Com o braço infeccionado."
Comentou baixo.
"Eu compro alguma coisa pra isso depois. O que você já fez?"
Antes que Diego pudesse responder, Otto ajeitou seus óculos mais uma vez, selecionando das compras dois tipos de remédios além do termômetro e o que parecia uma cartela de adesivos.
"Ah, ele vai odiar isso aí."
Diego abriu um sorriso maior, Otto destacando uma das carinhas felizes amarelas e colando contra a testa do outro.
"Ele vai me amar."

Corrigiu ao atravessar a sala até o corredor dos quartos, graciosamente desviando da mancha vermelha escura no carpete.
Diego seguiu atrás, engolindo o sangue que agora brotava de sua língua em um lamento silencioso.
"Ele dormiu depois que eu dei uma dipirona, era umas... Onze."
Comentou, parado na porta do quarto enquanto observava Otto se curvar na direção do carpete.
Devagar, ele retirou uma regata suja do chão perto da segunda cama e então a colocou no cesto de roupas para lavar.
"Isso tá uma zona..."
Otto murmurou antes de se virar à cama em que Leo dormia.
Por mais segundos que o considerado confortável, manteve-se parado ao lado do garoto, observando-o se encolher com os cobertores até o queixo.
Diego não poderia ver seu rosto coberto pela franja castanho-avermelhada.
Respirou fundo.
Um calafrio arrepiou cada fio de cabelo escuro quando Otto encontrou seu olhar, novamente ajustando os óculos.
"'Cê tem certeza que ele é da idade do Kazinho?"
Perguntou, rindo.
"Ele é minúsculo."
Completou em tom travesso.
"Bom, não certeza, mas... Ele... Disse que precisa de um ano."
Diego respondeu, coçando o queixo.
"Um ano? Engraçado..."
Otto checou a caneca de leite vazia na cabeceira, torcendo o nariz.
"Pega água, vai. Pra ele tomar um remédio."
Lentamente acariciou a testa de Leo, verificando a temperatura do menino.
Mais uma vez, silenciou-se e encarou, expressão vazia por trás dos óculos.
"Eu acordo ele. E-Ele... Me conhece."
Diego respondeu de maneira trêmula e então se sentou ao lado de Leo, evitando o olhar de Otto.
"...Você já se apegou assim?"
Otto sorriu.
O mesmo sorriso doce e angelical de sempre, aquele que não chegava até os olhos.
Mais uma pergunta retórica.
O tom de voz sugeria a continuação...
"Patético."
E uma risada nasal.
Talvez também balançasse a cabeça, dando de ombros.
Diego não se pronunciou, fitando as costas de Otto enquanto este saía.
Seu modo de andar era lento: As costas eretas, postura perfeita e mãos dadas por trás do corpo apenas contribuíam com a energia arrogante de bom-moço.
Devagar, retirou o adesivo da testa e o escondeu no meio dos lençóis.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora