A adoção de Thiago

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⚠️ AVISO DE GATILHO: "Daddy issues" (/Relação problemática e tóxica com o pai), Piadas sexuais (Se isso contar)
Prossiga com cuidado!
Colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

"Eiiiiii, Thiago ..."
A voz desconfortável de Daniel cumprimentou através de um áudio, falha e claramente desafinada.
Raramente o amigo mandava qualquer mensagem, algo parecia errado.
"É ..."
"Pergunta como ele tá."
A voz de Maia sussurrou ao fundo, impaciente.
"E como você tá...? Muito frio aí...? É ... Aqui tá ok ..."
Daniel engoliu ruidosamente, nervoso.
"Eu... Tô escrevendo bastante e... Jogando e... A Maia quer falar com você."
"Eu não- Thigo! Eu queria mesmo saber de você, como 'cê tá? Aqui tá tudo igual, Niel tá o chato de sempre e tamo assistindo muito filme de terror pastelão!"
Thiago respirou fundo o vapor que saía da banheira do hotel, água o mais quente quanto poderia suportar, pouca espuma. Sorriu, soltando ar pelas narinas.
"Ah, me faz um favor! Se você tiver tempo, e eu tô mandando você ter, 'cê pode ir em alguma livraria daí e me mandar foto? Eu quero foto de tudo, claro, mas principalmente das livrarias. Aproveita e compra algo pra você, hein? Tá tarde e você não deve tá acordado, mas quando ouvir isso você responde em áudio também, viu? A gente te ama, bonitão! Beijooooos! Fala tchau, Daniel."
Há um barulho de luta entre os dois ao fundo e logo Daniel ofega, novamente perto do próprio celular.
"Se cuida."
"Fala beijo."
"Me dá meu celul-"
O áudio acabou.
Ele sorriu, fitando a tela úmida do aparelho por um tempo, logo suspirando ao deixá-lo de lado, sua música calma substituindo as vozes dos amigos, em conjunto do som de água corrente e eventuais pingos da torneira.

Thiago checou o horário no relógio digital ao lado de sua cama, suspirando de cansaço. Os números diziam 23:40, talvez fosse por isso que estivesse esgotado, como sempre.
"Ei, dois patetas."
Ele começou seu áudio de resposta, sorrindo para o teto ao se deitar.
"Tá tudo bem aqui, é frio mesmo, mas o quarto do hotel tem aquecedor. Eu... Tava no banho, na verdade. É estranho que nas férias eu durmo menos do que nos dias letivos."
Thiago deslizou o dedo para a esquerda, excluindo o áudio que fazia.
"Boa noite...! Tá tudo bem por aqui, é bem frio mesmo, mas o... O quarto do hotel tem aquecedor e uma cama maravilhosa! Eu tava tomando banho quando vocês mandaram, então dá pra responder ainda hoje."
Riu, suspirando e então tentando excluir sua mensagem novamente, apenas para enviar sem por engano.
"Ah."
Choramingou.
"Maia, assim que eu conseguir, eu vou em alguma livraria pra você, eu vi várias nos bairros por aqui. Prometo que te compro alguma coisa legal... Pros dois. E eu, se der."
Completou em um segundo áudio, disfarçando o cansaço com sua voz ansiosa habitual.
"Eu tô indo pra cama agora, e façam o favor de não madrugar pelo menos um dia da semana."
Enviou antes de bloquear sua tela e colocar o celular para carregar. Mais uma vez suspirou, deitando na enorme e confortável cama de cobertores pesados.
"Vou ler só um pouco, e durmo."
Pensou consigo, abrindo um dos livros cuidadosamente colocados em sua cabeceira, sua história de conforto, mesmo que o final não chegasse nem perto de ser considerado feliz para a personagem principal. Os olhos esverdeados escorregaram pelas palavras, pesando progressivamente, os intervalos entre suas piscadas diminuindo até deixar o livro aberto sobre o peito. Aconchegou-se nos travesseiros, rosto voltado para o lado em posição não tão favorável para sua frequente dor nas costas.

"Ahá!"
Thiago saltou de seu lugar ao lado da pia, esmigalhando a metade do sanduíche de geléia que tinha em mãos e então grunhindo ao perceber que o recheio agora era espremido entre seus dedos. Antes de olhar para a porta do banheiro secreto do ginásio tentou raciocinar uma saída rápida para qualquer situação indesejada, sem sucesso.
"Quando me disseram que você vinha pra quadra no recreio eu tive que passar três dias procurando por TODAS as quadras dessa escola!! E você se esconde na do banheiro que ninguém usa?! Esperto! Não tem medo das lendas da Irmã Sangrenta, então?"
Aquele garoto baixinho que usava óculos do dobro do tamanho de seu rosto se apoiou no batente da porta, sorriso sapeca brotando nos lábios.
"Irmã... Sangrenta?"
Thiago balbuciou, arrepiando-se não só pelo nome macabro da lenda famosa na escola.
Leo, Thiago recordava-se de seu nome na chamada, tinha energia, extroversão e aparência totalmente exóticos, alguém admirável por sua habilidade social, persistência e paixão sobre o que parecia gostar.
Saber que dentre todas as pessoas, ele passara dias procurando especificamente por Thiago, fez seu estômago revirar em cócegas geladas.
"Tô te enchendo. Isso aí é geléia de que? Melhor lavar antes que fique todo pegajoso!"
Riu, aproximando-se de Thiago e saltando sobre a pia para sentar no granito, praticamente equivalendo suas alturas.
Thiago assentiu, lavando as mãos em silêncio após jogar seu sanduíche comprimido na lixeira que não parecia ser esvaziada há meses.
"Então?"
Thiago voltou seus olhos castanho-esverdeados para Leo e logo desviou novamente, não suportando contato direto.
"Todo mundo fala que você é bem misterioso, né? Na verdade acho que não tinha ouvido sua voz antes de hoje!"
"...Desculpa..."
Thiago murmurou, limpando as mãos úmidas em seus jeans.
"Desculpa nada! Vamo, conta aí! Que tanto faz todo dia no banheiro?"
Leo sorriu grande, com um brilho levemente malicioso.
"Você não...-"
"Eu tomo lanche...! Ouço música! Só!"
Exclamou em resposta, bochechas queimando.
"Ah. Entediante."
Leo revirou os olhos, mas logo riu.
"Então, tô te adotando, tá ok? Vamo, você vai 'tomar lanche' e 'escutar música' comigo agora, se é isso que faz mesmo... Se não for, vai ser meio esquisito, mas tô dentro também!"
Cutucou Thiago com o cotovelo, rindo de sua expressão atordoada.
"O que...? Adotou? Eu? Você? Lanche?"
Thiago gaguejou, pálido. Sentia-se estúpido ao repetir cada palavra de Leo, mesmo que o fizesse para tentar processar tanta informação. Aquele garoto falava muito, e extremamente rápido.
"É, eu fiz assim com o Niel e a Maia! Na verdade, eu meio que seguia eles pra todo quer lugar, então não era bem assim, mas... Ah, você entendeu! Vem, a gente ainda tem uns dez minutos! Como você chega aqui tão rápido?"
Leo mudava de assunto tão veloz quanto falava, descendo da pia com um salto e puxando Thiago pelo cotovelo, o maior tropeçando em seus pés antes de ir atrás do novo amigo.
"Você não precisa falar muito não, eu posso puxar assunto! Só é meio deprimente te ver sozinho toda aula! Haha! Eu nunca passei por isso não, no caso. Você gosta de sanduíche de geléia, então? É a sua mãe que faz? A minha não prepara meu lanche faz uns anos, cara! Você traz um pra mim, né? Ah, tá sol hoje! Eu gosto do calor!"
Tagarelava, pressionando minimamente o braço de Thiago para guiá-lo, o garoto não parecendo conseguir acompanhar o assunto fluido.
"Caladão! A gente se completa mesmo! Ah, e aí é menos gente pra irritar o Niel, você não quer ver ele bravo não! Ei, uma pomba!"
"Niel é quem mesmo?"
Thiago balbuciou, tentando seguir o olhar de Leo ao procurar tal pomba.
"Ah, cara! Agora ele me mata mesmo! Você não tem problema com gente queer, né? Ah, claro que não, olha a sua cara! Niel é o que senta do meu lado! A Maia é a menina de cabelo loiro oxigenado! Já falei pra ela pintar de verde, ela não quer."
"Queer...? Minha cara...?"
Thiago parecia cada vez mais atordoado, tentando recordar-se de quem sentaria ao lado de Leo além de uma garota alta que sempre andava de gorro.
"Você deve ser novo nisso! Não se preocupa, segredos são comigo mesmo! E gaydares também!"
"...Gaydar..."
Thiago repetiu baixo, confuso, porém fascinado de certa maneira.
"'Cê tem muito pra aprender, com certeza!"
Leo piscou para Thiago, que abriu um sorriso trêmulo e genuíno, deixando o novo amigo guiar e dando seu melhor para acompanhar seu passo.

Thiago abriu os olhos, deitado de bruços ao lado de seu livro, rosto no colchão e travesseiros em cima da cabeça. O sol entrava pela fenda das cortinas, direcionando um feixe certeiro em sua face.
Suspirou, esfregando o nariz e piscando devagar antes de se sentar.
"Como um sonho dura tanto tempo...?"
Choramingou, saltando da cama ao checar o horário.

⚠️ Conteúdo sensível, colocarei outro sinal quando terminar! ⚠️

"Eu já ia mandar a polícia invadir seu quarto. Sério? Nove e meia? Você perdeu o café do hotel."
Thiago quase trombou com seu pai ao abrir a porta, sentindo a pressão despencar.
"O café acaba às dez e meia."
Murmurou, abaixando o olhar.
"Não quando você tem compromisso às... Nove. E você perdeu isso também."
Elias arqueou as sobrancelhas, mostrando seu relógio elegantemente caro.
"Desculpa."
Thiago resmungou, ainda olhando para os próprios sapatos.
"Não vai se repetir."
"Eu sei que não."
O pai afagou seu ombro de maneira apática.

⚠️ Sinalização! Já é seguro pra ler! ♡ ⚠️ ...Mas acabou :(

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora