Memórias de olhos dourados

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Relacionamento abusivo, dissociação, conteúdo sexual;

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡
>> Tenha uma boa leitura:)


"E-Eita, menino!"
Diego exclamou, uma mecha de cabelo escuro se soltou da franja lambida, caída sobre os olhos.
As íris cor de mel se fixaram nas de Leo, que balbuciou um pedido de desculpas baixo ao levar o dedão até seus lábios, tentando impedir o sangramento apesar de odiar o gosto metálico do líquido vermelho.
"Ei..."
O mais velho riu, desacelerando sua respiração. O brilho voltou a ambos os olhos dourados por um momento, e não apenas o direito.
"'Cê deu um berro!"
Ele tocou a mão de Leo, silenciosamente pedindo permissão para lhe examinar.
"Doeu."
O garoto balbuciou, nariz avermelhado pelo susto.
"Como 'cê fez isso só com a mão...? Caceta, Juno..."
Leo abaixou seu olhar, de bochechas coradas.
Apesar de diferente, o clima parecia quatro vezes mais desconfortável com toda a atenção da sala voltada a si.
"Eu não sei se é pior tomar banho na pia do mercado ou morar com esse esquisito tendo a chave do apartamento."
Pensou ao fungar.
"Eu vou pegar um...-"
Otto tomou iniciativa e barrou a passagem de Diego, estendendo a mão com um lenço de tecido azul-bebê.
"Pronto, Juno, não precisa chorar..."
Disse com a risada debochada disfarçada pelo tom doce.
Leo hesitou, fitando o lenço com olhar perturbado.
"Ei, não vai sangrar no meu sofá não."
Diego brincou, pressionando o pano contra o ferimento ao perceber que não o faria por si próprio.
Seu olho esquerdo, o da cicatriz, voltava a apresentar o vazio esbranquiçado de sempre.
"'Cê terminou de comer, né?"
Perguntou, agradecendo quando Otto lhe estendeu um band-aid rosa claro.
Leo assentiu, confuso.
Havia deixado o prato de lado quando Otto chegou ao apartamento, Diego sabia disso.
"Fechou então, a gente pode ir."
Diego levantou o olhar do curativo recém feito, sorrindo ao menino.
"Ir? Onde 'cês vão?"
Otto perguntou em tom neutro, mantendo o sorriso educado.
"Eu prometi pro Bichinho que ia mostrar tudo por aqui quando ele conseguisse ficar de pé sem tombar."
Explicou, afagando as costas de Leo agressivamente.
O garoto entortou o nariz.
"A gente não ia...-"
Pausou.
Diego manteve seu sorriso natural conforme Otto observava.
"'Tá doido, é? Eu falei que ia te mostrar o caminho até a padaria pelo menos.
Ou 'cê tá cansado...?"
Perguntou com gentileza, apertando o ombro de Leo.
Ele balançou a cabeça em negativa.
"A gente ia passar na padaria, 'cê me prometeu uns sonhos."
Confirmou.
"Ah, prometi."
Diego gargalhou, levantando-se do sofá.
Leo estendeu o lenço de volta, de pé, em frente à poltrona.
Mesmo sentado, Otto quase alcançava sua altura, olhos baixos ao pano azul.
Fitou o tecido suave, tingido de vermelho escuro, antes de o recolher.
Devagar, forçou um sorriso.
"Mas o menino vai ficar?
E ele precisa mesmo ver tudo por aqui agora? Sem morar aqui, eu não acho que ele precise de um tour."
Levantou-se, abotoando seu sobretudo cinza escuro, olhos baixos conforme seus óculos escorregavam pelo nariz comprido.
"Eu vou."
Leo respondeu de prontidão, observando Diego abrir a porta do apartamento devagar.
"Ele vai se trocar e a gente sai, né, Bichinho?
...A gente se vê por aí, Otto."
Despediu-se, mantendo o sorriso neutro.
Otto pausou em sua frente, parecendo analisar cada detalhe da expressão corporal de Diego.
"Mais um pouco de energia negativa e a cicatriz dele vai arder perto desse ruivo paraguaio, que desgosto."
Leo pensou, sobrancelhas franzidas.
Diego não quebrou o contato visual, apesar de ter estremecido quando Otto abriu outro sorriso, checando os botões do casacão mais uma vez.
"...A gente se vê por aí então, Rato.
São Paulo é bem menor do que parece."
Afirmou, mãos estendidas para ajeitar delicadamente a blusa de Diego, colocando parte da barra para dentro e a folgando para maior estilo.
"Eu vou querer um sonho também."
Concluiu com dois tapas leves no peito de Diego.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora