Com quantos flocos de neve é criada uma avalanche?

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Palavras de baixo calão e só!

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)

"E é fevereiro outra vez. Logo mais o aniversário do Niel chega, dia dezoito.
Acho que essas notas já viraram mais um diário do que realmente cartas, mas mesmo assim é bom sentir que eu ainda tenho um jeito de te atualizar de tudo o que acontece por aqui... Quer dizer, algum dia, né? Quando você voltar.
O Niel e o Thigo andam mais próximos que nunca (inclusive me sinto meio de fora às vezes) e eu acho que tem alguma coisa que eles não me contaram.
Não um namoro. Com certeza não é um namoro.
Eles não me deixariam de fora disso. Espero."

"Você 'tá... Olhando as suas contas?"
Maia perguntou em tom surpreso, batendo na porta de Daniel com os nós dos dedos antes de entrar. Sorriu de modo genuíno e orgulhoso, suas bochechas rechonchudas produzindo rasas covinhas pelo gesto.
Ela vestia uma regata branca e saia rendada verde-musgo em seu habitual estilo hippie, brincos de pressão pretos nas orelhas.
Seus cabelos tingidos de loiro começavam a mostrar as raízes castanhas outra vez, um pouco mais compridos do que normalmente deixava os cachos chegarem antes de os cortar no banheiro de seu apartamento.
Daniel levantou o olhar e deu de ombros, suspirando ao colocar o notebook de lado na cama.
"É. Uma hora eu tinha que falar 'pros meus seguidores que foi só o Leo que sumiu."
Ele respondeu com certo sarcasmo cínico na voz.
Maia pausou, perdendo o sorriso e desviando os olhos castanhos para a janela atrás da cama.
"...Mals."
Resmungou o irmão.
Desde o desaparecimento de Leo, a presença ativa de Daniel em suas redes sociais havia diminuído ao zero. A conta principal, fora do alcance de colegas de classe, possuía, em sua maior parte, fotos da cidade e gatos vira-latas, em conjunto de alguns poucos vídeos onde Daniel tocava violão com a câmera propositalmente desfocada de sua figura.
Sua conta secundária, mais "apresentável", contava com poucas fotos recentes em trio e uma ou outra ao lado da família para datas especiais.
"Eu vou dar uma saída 'pra comprar umas canetas coloridas. Acho que vou passar na livraria perto da escola."
Maia avisou, sorrindo torto como se esperasse que o irmão se oferecesse para lhe acompanhar.
"'Tá. Vou sair com o Thiago."
Respondeu Daniel, tom neutro e olhos azuis fixos na tela outra vez.
"Ah. Okay."
Ela abaixou o olhar, brincando com suas mãos rechonchudas em expressão decepcionada.
"'Quê?"
Daniel arqueou as sobrancelhas, entortando o nariz para a irmã de coração.
"Nada. Eu tenho que arrumar amigas."
Maia murmurou, ajeitando sua bolsa de pano no ombro e saindo do quarto com os pés arrastados.

Era uma livraria antiga, que passara por reforma havia pouco tempo para adicionar uma varanda de madeira ao Café afiliado e prateleiras novas, mantendo a arquitetura de pontes suspensas em cada andar para levar a mais e mais livros.
Maia ouvia a seleção de suas músicas favoritas de uma banda Indie, como se estivesse em uma dimensão completamente diferente da do resto das poucas pessoas na livraria, olhos castanhos ainda de brilho tristonho.
Passeava pelas pontes de metal, alheia às crianças berrando na sessão infantil ou ao barulho irritante que a máquina de café expresso fazia no térreo.
Momentos como aquele eram um dos poucos em que conseguia desligar a mente dos pensamentos intrusivos, com o teclado suave e batidas distantes nos fones, apesar da realidade em que vivia nos últimos vários meses.
"Apesar de ter não só perdido meu melhor amigo, como meu irmão e o meu outro introvertido de estimação."
Suspirou.
Passou a mão pelos livros que julgava interessantes, a voz doce cantando longe, como se os fones de ouvido estivessem pendurados em sua blusa, não nas orelhas.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora