O jogo de perguntas, batatas fritas e antidepressivos

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Violência, sangue, depressão, menção de suicídio.

Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)


"Capricharam na maionese do seu, não é justo..."
Rato reclamou ao colocar na mesa a bandeja com dois sanduíches monstruosos, batata frita e duas latas de refrigerante, além dos vários pacotes de condimentos baratos.
"Viu, lata fechada, sem boa noite, Cinderela pra você."
Ele entregou a lata e um canudo de plástico para Leo, esperando que pegasse seu sanduíche e batatas para posicionar a bandeja no chão ao lado da mesa.
Leo não agradeceu nem se pronunciou. Observou o sanduíche com certo fascínio dolorido antes de morder em um suspiro, saboreando cada tempero e sabor no lanche.
Após a primeira mordida, seu estômago pareceu afundar pela fome, comendo avidamente sem paradas para respirar.
"Come devagar, Jesus! Parece um bicho!"
Rato riu, empurrando o saco de batatas para que Leo lembrasse de sua existência e pudesse alternar entre o que comia.
"Pensou nas suas...-"
Rato interrompeu a pergunta, apenas observando Leo comer, sobrancelhas arqueadas em expressão divertida. Suspirou e pegou o próprio sanduíche, jantando em velocidade normal.
"Quero saber..."
Leo começou de repente em voz baixa, de boca cheia.
"Quero saber o que é 'dar uma de Otto', e o que tem a ver comigo."
Rato sorriu, parecendo calcular suas palavras enquanto olhava ao redor distraidamente.
"Não é nada interessante pra gastar suas perguntas, é só uma piada interna por aqui.
O Otto tem um irmão mais novo, tipo da sua idade, e aí sempre que aparece alguém com uma cri- ... Alguém mais novo, a gente fala assim.
Não é pessoal contigo não."
Ele deu de ombros, limpando o molho que caía de seu sanduíche com uma batata frita.
"A minha pergunta é-"
"Eu tenho outra, você disse duas."
Leo interrompeu.
"Eu disse duas, e 'cê fez duas."
Rato corrigiu, novamente arqueando suas sobrancelhas.
Leo resmungou, porém não se opôs, voltando a comer.
"A minha pergunta é... Há quanto tempo que 'cê tá na rua?"
Houve alguns segundos de silêncio antes que Leo levasse o olhar do canivete até Rato, novamente se fechando.
"Você não sabe se eu tô na rua. Eu posso ter casa."
Sugeriu, defensivo.
"Eu não sou imbecil, e nem você, mas vamo' fingir que todo adolescente com casa e família anda por aí todo... Com essa cara aí. E então, a minha pergunta muda; Por que 'cê tá na rua?"
Rato insistiu, apertando o olhar para Leo com um sorriso. O garoto demorou alguns segundos a mais para pensar, franzindo o cenho.
"Eu sou bom em pegar mentira, hein?"
Rato avisou, rindo.
"Você tá muito interessado em mim pra alguém que só quer a merda do canivete de volta."
Leo sibilou, deixando seu sanduíche de lado, irritado.
"Sou muito curioso, e o canivete é importante, se não você não tinha pegado. Não vai acabar isso aí não?"
Rato casualmente apontou para o resto do lanche de Leo, que o puxou mais para si, defensivo.
"Vou. Escuta, Rato, eu tô... Aqui... Porque preciso.
É menos de um ano, e tô de volta pra minha casa. Porque eu tenho casa.
Só... Não posso voltar agora."
Leo diminuiu a voz gradualmente, conforme a esperança em suas palavras caía e a dor no peito parecia crescer.
"Você é de menor."
Rato supôs, colocando mais batatas na boca já cheia.
"Por um ano. Até abril do ano que vem."
Leo murmurou, baixando a guarda.
"Justo."
O outro deu de ombros, sem sorrir. Vira situações como a de Leo muito mais de perto do que deveria.
"Quero saber qual é a da cicatriz aí na sua cara."
Leo levantou o olhar novamente, sorrindo da expressão surpresa de Rato.
"Ai. Pessoal."
Ele reclamou, percorrendo o cabelo com os dedos.
"Você quis começar com isso."
"...Tá, tá, geraçãozinha chata do cacete..."
Rato resmungou, voltando as mãos à mesa.
"Fizeram em mim."
Respondeu de maneira seca, Leo arqueando as sobrancelhas.
"Ah, jura?"
Perguntou sarcasticamente.
"Juro."
Rato respondeu em tom ambíguo, impossível de identificar se estava sendo sarcástico ou apenas reservado.
"Você é um hipócrita...! Fica me perguntando coisa e aí não quer responder quando eu pergunto!"
Leo abriu um sorriso pela primeira vez, mesmo que não soubesse por que ria, o outro acompanhando e também sorrindo.
"Ah, ele sabe rir!"
"De desespero, rindo pra não chorar."
Leo passou as mãos no rosto, suspirando e retomando a expressão fechada.
"Bom, de qualquer jeito não é uma história pra menores de dezoito."
Rato retomou o assunto com a provocação, fixando o olhar em um ponto vazio na mesa, ainda sorrindo levemente.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora