Thiago volta para casa

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Luto geral, descrição de ferimentos, crise de pânico/ansiedade, menção de sangue;
Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)


Maia levantou o corpo, cabelos encaracolados ainda sobre os olhos enquanto verificava as correspondências, entre contas, anúncios promocionais e um bilhete mal-educado reclamando da música alta vinda do apartamento.
Antes que pudesse voltar ao sofá, novas batidas na porta foram ouvidas.
Daniel arregalou os olhos, confuso.
"Cacete, você manifestou o morto."
Sussurrou, Maia abrindo a porta com um movimento exaltado.

"Sobre o... Thiago."
Leo disse de repente, olhos fixos nas páginas de sua comic.
"...Eu sei."
Maia afirmou antes que continuasse, também sem desviar o olhar do desenho que fazia.
Outro retrato de Leo, o quinto da semana.
"Tá, deixa o meu momento virar sobre você então, Má."
O amigo entortou o nariz, provocando-lhe um sorriso.
"Eu não ia falar o que 'cê tá pensando."
Explicou.
"Mas...?"
Ela brincou.
"Sem mas."
Leo suspirou, retirando seus óculos para limpar as lentes desnecessariamente.
"As vezes eu sinto que... Eu acho que ele acha que tudo o que ele tem socialmente é... Sei lá, por minha causa."
Maia franziu as sobrancelhas, levantando os olhos cor de mel de seu caderno.
"E isso deve ser uma insegurança do cacete, gostar de...
...Achar que... Não é bom o suficiente pra...-"
Leo engoliu com dificuldade, desistindo de botar os pensamentos em palavras.
Recolocou os óculos, brincou com o marca-páginas de seu livro, e então completou o contato visual de Maia.
"...Eu 'tô doido?"
"Não. Não sei.
Não."
Compartilharam um sorriso triste.
"Ele é inseguro, Leo, não é só nesse aspecto social."
Maia afirmou.
"E eu sei, mas é- ... Ele é melhor do que ele acha."
A amiga assentiu em resposta.
"E você?"
Perguntou.
"Eu o quê, besta?"
Leo sorriu outra vez, de maneira mais genuína, soltando o marca-páginas.
"'Cê... É o suficiente, Leo. Também."
Maia disse, contexto ambíguo.
O amigo fechou a expressão em surpresa, bochechas avermelhadas.
"E é em qualquer sentido que 'cê precise ouvir isso, porque eu só sei que tem muitos.
Você é tão suficiente quanto 'cê acha que o Thiago é... Ele merece as coisas boas que ele tem, e você também."
Ela aproximou o rosto de seu caderno, atenção totalmente voltada ao detalhe das sobrancelhas escuras de Leo.
"Aí 'cê me quebra, flor."
Ele murmurou em resposta, olhar perdido, mãos dobrando o canto de uma página até o papel amolecer e se soltar em seus dedos.

"Deuses, é você!"
Maia exclamou, lançando-se aos braços de Thiago, que devolveu o gesto de maneira envergonhada.
"Oi..."
Ele cumprimentou, voz trêmula. Afundou o rosto nos cabelos da amiga, suspirando.
"A gente 'tava tão preocupado, 'cê nunca volta mais cedo e eu queria ir te ver e- Que máscara é essa?"
Maia finalmente se afastou, e por instinto, segurou suas bochechas entre as mãos.
Thiago tinha olhar cansado, parecendo ainda mais calado do que o habitual. Observou a amiga no fundo de seus olhos, sem responder.
Expressava incapacidade de verbalizar a agonia que Maia via refletida diretamente nas íris esverdeadas.
"Eu tô doente."
Sua voz falhou.
"Thiago..."
"Eu só quero ficar com vocês um pouco, em silêncio, que nem a gente faz.
Só um pouco."
Ele interrompeu, dentes rangendo conforme as batidas de seu coração eram audíveis por Maia.
A garota assentiu, calando-se.

Daniel observou conforme Thiago se sentava no mesmo sofá a uma distância respeitosa.
"...'Cê tá... Tremendo."
Murmurou ao amigo, olhos caídos e acinzentados.
"O Leo ia saber animar essa merda de clima.
Além disso, ia saber o que tem debaixo dessa máscara. Da física e da metafórica."
Pensou consigo, levando as mãos ao próprio colo e então cutucando uma cutícula dolorida em sua unha.
"...É da virose."
Thiago gaguejou, conforme instruído.
"Se 'cê não quer falar o que aconteceu tá ok, 'cê fica quieto, mas eu não gosto que mintam pra mim, Thiago."
Daniel impôs, cerrando sua mandíbula.
"Eu prefiro ficar quieto então."
Thiago respondeu baixo. Daniel assentiu em resposta, olhos fixos em seus pés.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora