Diego, Otto e Rato

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Notas; Ei! Tirei um bom tempinho pra atualizar esse cap, hein? Perdoem a demora, acho que o bloqueio pra NPI finalmente chegou depois de meses escrevendo só sobre eles sem alternar.
Apesar disso, a história secundária (Beijos na esquina da Rua Cintilante) tem ajudado bastante nessa questão e tô vendo um feedback bem legal nela! Fica aqui minha recomendação e vamos ao capítulo de hoje!


⚠️ AVISO DE GATILHO: Relação conturbada com os pais (mommy/daddy issues), relação abusiva;
Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)


Leo puxou o cobertor felpudo mais para si, o rosto apoiado contra a cabeça de Maia, que dormia encostada em seu ombro.
"Assim sai do meu pé."
Daniel reclamou baixo, sem pausar o jogo do celular.
"Ninguém mandou crescer, antes cabia."
Leo murmurou, devolvendo a manta para o lado do amigo.
O silêncio voltou a reinar, acompanhado pelo som calmante da chuva lá fora. Leo fechou os olhos outra vez, bocejando preguiçosamente conforme enfiava seus pés para baixo das coxas de Daniel.
"...Sério?"
Ele arqueou as sobrancelhas e expandiu as narinas.
"Tá frio..."
Leo justificou, meio sorriso nos lábios.
"Tô sabendo."
O outro revirou os olhos, bochechas vermelhas. Levou o olhar até a janela, espiando a chuva fora do apartamento.
"'Cê vai dormir aqui?"
Perguntou baixo.
"Preocupado...?"
Leo provocou, recebendo um empurrão nas pernas.
"Preocupado se eu vou ter que montar o seu colchão e ouvir você roncando a noite inteira, sim."
Daniel respondeu, irritado. Leo segurou a risada para não atrapalhar o cochilo de Maia.
"Deve parar alguma hora, não precisa me ouvir roncando nem arrumar o colchão."
Sorriu.
"...Deve parar o cacete, você vai ficar."
Daniel respondeu num rosnado.
"Já que 'cê insiste... Noite de filme então."
Leo pegou seu celular para avisar a mãe onde passaria a noite.
Não que algo mudasse com ou sem a localização compartilhada; O fazia para manter qualquer senso de normalidade na relação conturbada, quase como um protocolo formal.
"Noite de filme no Daniel"
Mandaria.
"Sem pizza, você já comeu outro dia."
Seria a resposta.
E então pediriam pizza.

"Escolhe o que 'cê quer ver, vai."
Diego sorriu, colocando a bandeja com o almoço de Leo sobre suas pernas. Leo piscou duas ou três vezes para voltar ao presente, seguindo os fios da televisão pelo chão da sala até a janela com as sobrancelhas arqueadas.
"...Tem canal de filme."
Adicionou, parecendo segurar sua risada.
Leo deu de ombros com um suspiro melancólico, empurrando o controle na direção de Diego, que se sentou ao seu lado.
"Vai, bichinho, há quanto tempo 'cê não assiste nada na TV?"
O garoto abaixou o rosto para seu prato e deu de ombros.
"...Vou colocar na minha novelinha então."
Provocou o mais velho, esperando qualquer reação. Colocou os pés sobre a mesa de centro e afastou uma caixa de bombons baratos vazia.
Leo sorriu fraco e Diego acompanhou.
"Novela?"
O menino observou de canto de olho.
"Sim, novelinha do século dezenove... A principal é uma menina desastrada e nada como as outras garotas... Ela quer ser escritora e não pode por causa do preconceito, então ela se apaixona por um-"
"Tá, isso é insuportável, tudo menos isso!"
Leo interrompeu com uma risada cansada.
"Então tá, você escolhe."
Diego sugeriu mais uma vez, estendendo-lhe o controle.
Leo suspirou, desviando o olhar para os pés de meias maiores do que o necessário.
"Coloca o filme mais pastelão que você achar aí."
Ele sorriu e Diego assentiu, navegando entre os canais em silêncio.

Algum tempo se passou, Diego cutucava suas unhas com o canivete azul escuro enquanto assistia a TV.
"É... Diego, então?"
Leo não levantou os olhos de seu prato, tom tímido ao mesmo tempo que cansado.
Um clichê sobre policiais atrapalhados passava na televisão, ainda que Leo esboçasse apenas eventuais risadas fracas pelo nariz.
"É, Diego."
O mais velho sorriu e deu de ombros.
"Mas eu não ligo 'pra como 'cê me chamar não, bichinho."
Leo assentiu.
bem melhor que Rato."
Diego gargalhou em resposta.
O garoto sorriu, ainda com olhar fixo na bandeja.
"Rato começou de piada, agora pegou. Fazer o quê?"
"...Não responder quando te chamam do que você não gosta."
Leo murmurou, expressão de repente perdida, como se viajasse dentro de suas memórias.
"E funciona?"
Diego questionou de modo terno.
"...Alguma hora sim. Dá certo, dependendo da... Teimosia."
Ele explicou com olhos transbordando saudade quando finalmente estabeleceu contato visual com Diego.
Fitaram um ao outro por alguns segundos antes de Leo voltar a seu prato, semblante vazio.
O olhar de Diego lhe parecia genuíno, quase como o de um assistente de classe novato, aqueles de humanas que lhe confortariam após notas ruins e estenderiam os prazos de lições para nota.
Sentia-se confortável ao seu lado, mesmo que ainda tão distante emocionalmente. Pela primeira vez poderia permitir à mente fazer seu caminho para casa através de memórias.
Diego parecia respeitar aquele silêncio.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora