Gato, Rato e Lebre

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⚠️ AVISO DE GATILHO: Gore, descrição de caça esportiva, pesadelos.
Prossiga com cuidado, colocarei sinalizações nas partes necessárias! ♡

>> Tenha uma boa leitura:)


⚠️  Conteúdo sensível, colocarei outro sinal quando terminar! ⚠️

Leo era pequeno.
Não como um garoto abaixo da altura média para sua idade, mas assustadoramente minúsculo em comparação ao resto do mundo pelo qual percorria.
O mato ultrapassava sua cabeça por vários metros, espesso e resistente a cada impulso para aumentar a distância do que quer que lhe perseguia. O chão machucava seus pés descalços, pedregulhos e cascalho se espalhavam pela terra escura.
Sentia que, conforme avançava pela paisagem desconhecida, misturava a corrida entre usar as duas pernas e também se impulsionar com os braços em estilo quadrúpede.
"Como uma presa."
A cínica e suave voz em sua cabeça disse.
O coração pulsava tão perto da garganta que poderia se ver, a qualquer momento, vomitando o órgão em agonia.
A trilha de repente se dividiu em dois caminhos de terra seca, ainda cercada pelo mato alto. Leo levantou a cabeça, utilizando o apoio de uma mão contra o chão.
Em poucos instantes, avaliou as opções. Para a direita, o céu parecia mais claro, mesmo que ainda nublado.
A luz lhe atraiu como uma mariposa ingênua, cambaleando diretamente ao destino aguardado perto da lâmpada "mata insetos".
Apressou-se, dolorosamente respirando o ar gelado por entre os dentes.
Os pulmões ardiam ao tentar acompanhar o ritmo da corrida desesperada.
O mato parecia dissipar, cada vez mais baixo e escasso.
Por um momento, a vista do céu não lhe parecia mais agradável. Se pudesse ver acima de sua cabeça, o caçador também poderia.
Era como manter contato visual através de um espelho.
Enquanto conseguisse ver qualquer coisa além de mato e cascas de caracol abandonadas, seria encontrado.

Tentou diminuir o ritmo, freando com as patas da frente tarde demais.
Afundou a mão em uma plataforma de metal, engatilhando a armadilha.
Seus dentes afiados se fecharam na junta do braço do Coelho, atravessando o osso com facilidade.
Berrou. Apenas um guincho desafinado lhe escapou.
Leo deu cambalhotas, ainda lutando contra a arapuca afiada presa em seu cotovelo. Rolou até o fim da trilha, agora exposto ao céu totalmente cinza.
Encontrava-se no penhasco mais alto que já presenciara.
A alguns metros de si, apenas o abismo.
Mar escuro, pedras afiadas e ondas salgadas.
Levou o olhar aterrorizado de volta para a trilha.
Os "creck creck" do cascalho sendo pisado com suavidade e calma eriçaram até o último fio de cabelo, finalmente podendo ver, contra a luz ofuscante, um par de olhos verdes destacando contra a silhueta tão mais alta.
"...Ah, olha ele ."
Apontou a voz debochada.

⚠️ Sinalização! Já é seguro pra ler! ♡ ⚠️

Leo abriu os olhos com um ofego, o rosto suado.
Sentia-se gelado, mesmo debaixo de tantos cobertores.

Demorou alguns segundos até focar na forma de Diego, que abria as persianas da janela entre as camas.
Grunhiu.
"Ah, eu te acordei, bichinho? Tá cedo ainda, ia só deixar um pouco de luz entrar 'procê não acordar no escuro..."
Ele sorriu, olhos brilhantes em preocupação.
Leo engoliu com dificuldade, respirando de maneira trêmula.
"...Ô, Juno, que foi...? Não era pra 'cê tá com febre mais..."
Diego se aproximou, ajoelhando ao lado da cama.
"Ei, menino, fala comigo, vai... 'Que foi?"
Perguntou, afastando os cabelos da testa do menor para medir sua temperatura novamente.
Ele não respondeu.
"...'Cê tá é gelado, bichinho."
Diego riu, confuso.
Leo levantou as mãos fracas e segurou os dedos do outro contra sua cabeça.
Seu toque era pavorosamente frio.
Ele tremia, ainda sem se pronunciar. Não mantinha contato visual, fechando os olhos escuros para controlar a própria respiração angustiada.
Diego não se afastou.
Devagar, o sorriso foi substituído por lábios comprimidos em preocupação.
Permaneceram em silêncio por alguns minutos confortáveis, ainda naquela posição. Diego pousou o olhar nos pelos cor de vinho do cobertor, contando as bolinhas de tecido soltas.
"Ele sente falta de carinho, é óbvio. Há quanto tempo eu já não sei, mas pelo menos desde que foi parar na rua."
Pensou consigo, olhos tristes vagando por cada falha, furo e desfiado no cobertor surrado.

No próximo invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora