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Kiba sair em missão era horrível.
Shino cresceu acostumado ao marasmo e à calma de seu lar paterno; mas uma vez que se tem um "Kiba" na vida, silêncio deixava de ser bem-vindo.
Então visitava o pai, passeava com Akamaru (tentando vencer o ciúme magoado que via nos olhos do cão), dividia algumas refeições com Tsume.
A diferença daquela vez estava no novo trabalho que recebeu. Como parte da prática do estágio observava algumas das salas de aula, desempenhando o papel de professor auxiliar que muito em breve poderia ser seu em tempo integral!
O estagiário servia para segurar pontas e ajudar em situações inesperadas, como na vez em que o professor do primário sentiu-se mal e Shino teve que ficar com a sala cheia de pirralhinhos!
Foi uma experiência assustadora, mas que trouxe uma sensação incrível para Shino. Quando ele conseguiu conquistar a sala e a atenção de cada criança, sentiu que escolheu a profissão certa. E que daria conta do recado quando assumisse sua própria classe.
Então quando chegou ao estagio e o coordenador correu para recebê-lo à porta, nem se surpreendeu:
— Bom dia, Aburame-kun! Estávamos esperando por você!
— Bom dia.
— O professor do Jardim de Infância teve um imprevisto e não vai chegar a tempo, você pode ficar com a sala? Tenho uma cópia do planejamento do dia, sei que dará conta.
Shino cncordou com um gesto de cabeça. Já não temia que seus longos casacos, óculos escuros e jeito sombrio assustassem os alunos. Começava a usar a postura rígida para despertar a curiosidade dos pequeninos, e o jeito firme logo arrecadava respeito.
A sala tinha vinte e cinco alunos, com idade entre cinco e seis anos. Todos se levantaram, olhando espantados para o moço alto e esquisito que entrava e era apresentado como o professor substituto. Shino devolveu a atenção, analisando rapidamente cada um dos rostinhos infantis. Já aprendia a avaliar a natureza humana e em como isso se refletia nas relações de uma classe.
Mas nada no mundo o preparou para o que descobriu. No fundo da sala, sentada com os olhos um tanto apáticos, estava uma menina com cabelos longos de um tom muito exótico, presos em duas tranças que mal lhe passavam dos ombros.
Shino foi imediatamente transportado de volta para a guerra, para a imagem daquele bebê que povoou seus pesadelos secretos, alguns tão medonhos que ainda não tinha coragem de colocar em palavras.
Aqueles olhos que lhe miravam de volta. Sim, estavam mais velhos, mais focados... inconfundíveis no tom que encarou por tantas e tantas noites após a guerra, perseguido pela culpa resultante das escolhas que fez.
Perdeu um segundo paralisado pela surpresa, então deu um passo a frente, entrando na sala.
— Cumprimentar! — a criança responsável do dia deu a ordem e todos reverenciaram de leve.
Shino parou atrás da mesa e respirou fundo, quando entreabriu os lábios para responder ao cumprimento, sentiu como se as correntes invisíveis que o prendiam à guerra se rompessem.
Finalmente. Finalmente seus fantasmas foram exorcizados.
