Capítulo 22

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Babaca, isso que eu fui, sabia disso, sempre soube. Não quis saber quem estava certo, só os meus sentimentos que importavam, somente a minhas dúvidas deviam ser respondidas, apenas a minha verdade deveria ser confirmada. Eu estava com a cabeça doendo, eu acertara um outdoor a poucos minutos a trás, pelo menos o que me pareciam ser minutos, pois já estava de noite e eu estava sem qualquer coisa que pudesse medir o tempo. Peguei meu caderno e comecei a escrever, coisas que há muito tempo esteve preso dentro de mim.

Depois de arrancar várias folhas, buscando a real expressão dos meus sentimentos, consegui transmitir um pouco, ou o resto, da minha sanidade.

"O dia nasce e junto a ele todos acordam, mas eles não sabem o que vieo antes deles abrirem os olhos. Estava escuro, ninguém vê nitidamente, apenas alguns conseguem ver contornos, silhuetas, formas, mas nem tudo é perfeitamente claro, real, como é no dia. Minha vida começou no final de uma noite muito escura, podia até não haver um lua e estar completamente nublado. Depois de um tempo minha vida passou a estar no dia, mas tenho medo de que o que aconteceu nesta negra noite. Tenho medo de que isso vai mudar tudo, tenho medo de descobrir que ao reconhecer o que houve na escuridão meu dia se torne nublado. E assim passo meu dia, em meio ao medo e tentando descobrir o que tanto desejo"

Dormi a luz imparcial da lua, passei meu aniversário de 14 anos sob a luz do luar fora de casa por puro egoísmo. Mas estava tudo tão bonito, as estrelas estava nítidas, o céu estava limpo sem nuvens. E não do modo que eu vi quando sai de casa, com a visão desfocada. Minha mente estava distraída a ponto de atropelar uma placa com luzes de 4x3 metros. Em um súbito momento as estrelas começaram a falhar, minha cabeça começou a latejar mais, estava doendo, mas ignorei este fato a adrenalina era maior.

As estrelas começaram a girar, a visão começou a falhar, a noite clara se tornou escura, cada vez mais escura e mais distante os sons da natureza que antes estavam tão nítidos. Até que os únicos sons que consegui ouvir foram da minhas respiração e do meu coração batendo, cada vez mais devagar... Fui perdendo a consciência, a cabeça começou a latejar menos, a dor diminuiu, meus sentidos sumiram tudo de repende e pausado.

...

...

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- Dan, acorde Dan - alguém gritava enquanto me chacoalhava - você precisa sair dessa, não morra.

Dan? Quem é Dan? Acho que sou eu, já que estão me sacudindo, mas como eu não sei quem sou? Deve haver alguma coisa errada, não há como não me lembrar das coisas. Resolvi abrir os olhos antes que quebrassem algum osso meu, a claridade incomodou a minha visão. Estava tudo branco, meus olhos se ajustaram a luz e percebi uma forma a minha frente, uma garota. Jade. Como sabia o seu nome? Isso agora não me importa, só importa em saber quem é essa pessoa que me lembro se eu não sei nem meu nome?

- Andem logo - ela gritou para o lado, quem é para andar logo? - ele está acordando!!!

Ainda um pouco atordoado olhei para ao lado e vi algumas pessoas correndo em minha direção e da menina, eu estava com a cabeça apoiada em seu colo, minhas asas estavam doloridas, talvez por ter dormido sobre elas. Eu tinha asas? O que eu sou? Esta menina que me segura e eu penso que se chama Jade também tem? Reparei nos quatro que chegavam a meu encontro, eram dois adultos, pareciam um casal, e dois adolescentes, talvez filhos deles. Não, eles não eram parecidos talvez os olhos deles, que me olhavam com desespero e aflição, ele tinha os olhos da possível mãe e ela o do possível pai, talvez um pouco mais avermelhados.

- Dan, você está bem meu filho? - a mulher falou colocando algo no meu braço e minha asas sumiram, parecia ser um bracelete - Ficamos preocupados, como veio parar tão longe?

- Eu não sei - respondi mais frio que eu queria, eu podia falar que não me lembrava deles? - só sei que estou aqui.

Eles me olharam com dúvida, analisando meus ferimentos, eu estava machucado, eu senti um desconforto, porém só quando fixaram o olhar em mim que percebi de onde vinha. Minha mão estava enfaixada, eu estava com alguns esfolados nos braços e alguns cortes nos ombros e possivelmente nas costas também. O garoto tinha um olhar frio sobre mim, não parecia muito contente com a situação que me encontrava, ao contrário dos outros que estavam com enormes sorrisos depois de constatarem que eu estava bem.

- Vamos para casa - o homem disse - eu irei de moto com a Jade ou com a Sam?

- Vai com o Dan - a mulher respondeu, um nome me veio a mente, Mei - o At e as garotas vão comigo, vocês têm que conversar. Em casa nos encontramos Marco - eu acavara de descobrir seus nomes, não seria tão difícil fingir que não perdera a memória.

Me deram uma blusa e jaqueta, e em seguida eu segui aquele que chamaram de Marco, vi os outros seguirem para o carro em silêncio, mesmo tendo perdido a memória era bem estranho a recepção deles. Era possível que eu sumi e eles acabaram de me achar, mas no fim nem todos estavam felizes, ou aliviados. Eu conhecia aquela moto, me trazia certa lembrança, eu caira dela quando menos, mas só isso, sem informações a mais, aquele homem era meu pai?

- Você deixou todos bem preocupados quando saiu daquela forma - falou enquanto estavamos na estrada, estávamos bem longe da cidade - foram dois dias te procurando.

- Sim - respondi seco, eu sumi por dois dias?

- Nunca pensei que ficaria assim quando nos visse beijando, afinal você sabia que a um tempo atrás eramos namorados - ele não era o meu pai, algo me dizia que ele era o contrário do meu progenitor.

- Acho que devo desculpas - respondi no automático, seria mais fácil dizer que não me lembrava de nada - irão me levar a algum hospital?

- Sim, eu vou te levar para ver se tá com algum problema, afinal foram dois dias - para mim foi a minha vida e só agora eu acordei - depois vamos para casa.

Fiz todos os exames que me foi solicitado, eu estava um pouco desidratado e com febre. Não estava fora do quadro esperado para aqueles que ficaram sumidos por dois dias. Perguntaram-me o que tinha feito nestes dias e eu respondara que nada, não menti, só omiti o fato que estava desacordado todo este tempo. Marco me olhava com preocupação, devíamos ser bem próximos, contudo o máximo que eu conseguia fazer era olhá-lo com um pouco menos de indiferença. Fui medicado e mandado retornar para casa, não me importando de onde fosse, mas pelo comportamento do Marco ele esperava que eu iria embora sozinho.

- Você me leva? - perguntei sem demonstrar real interesse, afinal não sabia onde era - Se você não quiser ir, vou sozinho.

- Pode deixar que eu te levo, ainda temos que conversar e estou com a moto da sua mãe, não viu? - falou mudando o seu semblante, ele me trazia uma sensação de preocupação.

Seguimos para a moto, que era da minha mãe, em silêncio. Chegando no final do caminho senti que uma familiaridade com o local podia segui-lo de olhos fechados, que algo me dizia que eu chegaria em casa. Marco não entrou na casa que paramos na frente, me esperou na porta com cara dr preocupação. Não dirigi a palavra a ele, mantive meu olhar indiferente, não importava o que eu tentava fazer não me lembrava de quem era. Todos pertenciam a uma vida que agora era minha, e eu agiria como dono de tal.

- Dan, eu gostaria de saber se não há problema de eu e sua mãe ficarmos juntos? Quando você era menor nós dois éramos tão próximos a ponto de nos encontrar escondidos da sua mãe... E eu pensei que ficaria feliz em ver eu e Mei juntos.

- Que seja - respondi sincero, para mim, pelo menos no estado o qual estava, não faria muita diferença - se for o que ambos querem.

- Sabia que você concordaria - falou sorrindo me apertando contra si em um abraço, vamos que sua mãe deve estava preocupada.

Entramos em casa como pai e filho, Marco estava com um dos braços passando pelo meus ombros. Mei sorriu com a cena e foi para a cozinha com ele para conversarem, na sala estava somente At, que me transmitia paz. Ele me disse que as meninas estavam conversando para explicar à Jade o do porque de nós termos asas, queria perguntar quem seriam o Nós que ele dissera, mas preferi o silêncio. Podia ter perdido a memória, mas algo em mim dizia que era melhor me preocupar com o amanhã e deixar o passado para trás. Era tão estranho não saber quem é, da onde veio, mas saber falar, saber o nome de quase tudo que o cerca. Eu só não fazia relações entre objetos, pessoas e suas histórias, porém isso não era totalmente ruim.

A procura do AmanhãOnde histórias criam vida. Descubra agora