O jovem garoto que procura respostas às suas inúmeras perguntas acaba desmaiando. A sua vontade de descobrir a verdade se confronta com a proteção que ele próprio criou. A auto preserva luta com a curiosidade, e esse confronto faz com que a consciência se vá e deixe o corpo em um estado febril. A porta do quarto que está trancada sofre com a angústia de quem está do lado de fora. Ela é forçada para abrir, mas o esforço parece ser em vão, inútil, ineficiente. Enquanto a porta emite os sons do desespero dos familiares ele sonha, se lembra, de vagos trechos do passado, pequenos pedaços que não seguem uma ordem. Que não formam uma memória inteira, nenhuma parte que faça total sentido.
Ele está preso dentro de si mesmo, amarrado em uma cadeira. A imagem de Mei vem a sua mente, tão real, ela lhe diz que não pode falar. Ela não sabe mais o que fazer, não tem mais o que contar, e sume. Apenas a voz de Mei ecoa por sua cabeça dizendo que não, que não pode, que não falará, que não aguenta mais.
Vidros se quebram, mesmo amarrado sentia que eles passam nele e o corta. Um peso em seu ombro lhe chama atenção, não há nada neles e o peso aumenta de acordo com a curiosidade de saber o que está causando este desconforto. Uma figura se forma no local, um rapaz desacordado, ele levanta e voa ao lado de Dan. Dizendo que ele não cupriu a promessa que fez de acabar com todos eles. A voz de Mei ecoa novamente dizendo que iria se vingar, ela prometeu se vingar.
- Vingança!!! - ambos gritam interrompendo todos os sons ao terminarem de falar.
Dan tenta falar, quer se explica, mas seu corpo não o obedece, quanto mais força ele faz, mais as cordas que em seus pulsos estão se apertam. Com a falta de reação dele, Mei e At pulam a seu encontro, suas mãos se tornam lâminas que marcam o ombro descoberto do loiro. Ele tenta gritar de dor, contudo nenhum ruído é emitido, o sangue escorre pelo seu braço formando uma poça no chão. Nela ele vê o próprio reflexo repetindo que Mei mentiu para ele, nada que ela disse é real. O reflexo da poça é mais jovem tão pequeno comparado ao atual que observa o próprio passado. O som de suas próprias lamentações o pertuba, trazendo um desconforto enorme.
Tentando se livrar do que lhe aflige se debate na cadeira, força seus braços para serem soltos, mas seus esforços são em vão. Nada acontece, somente a cadeira se movimenta com as ações ineficientes do rapaz. O choro aumenta, as acusações contra Mei se agravam, entretanto não é o assunto que mexia com ele e sim a voz sofrida de si mesmo. O menor implora por saber a verdade, anseia conhecer o próprio passado. A ínfima menção do ontem já o derrubava emocionalmente, algo de ruim aconteceu e era melhor que deixá-lo esquecido. Dan não podia suportar a dúvida de saber ou não do que lhe aconteceu junto com o próprio sofrimento, ainda mais que ele é tão pequeno na imagem, indefeso e com tanta dor guardada.
Em um último esforço tentou pular da cadeira, a fazendo tombar e mergulhar na poça de seu próprio sangue. Ele cai constantemente, ao chocar-se com o chão a cadeira se despedaça e ele é liberto. A criança, ou ele mesmo, contudo menor, ainda está lá, com as mesmas reclamações contra Mei. As perguntas retóricas aumentaram, o julgamento contra si próprio piora a cada segundo que ele escuta. Porém quanto mais ele grita para que pare mais se sente sufocado, nada sai de sua garganta. A única coisa que foi liberta de si foi as asas, que estavam brancas, puras como a luz que incide sobre eles.
- Por que que eu sou assim? Minhas asas são negras porque sou mal? - diz o pequeno com lágrimas nos olhos - Mei mentiu para mim, ela esconde várias coisas. Não diz a verdade para mim. E você! Por que você tem asas claras, por que se parece comigo, por que carrega esse ódio dentro de si? No que que eu me tornei? Sou uma pessoa boa? - a esperança nasce dentro dos olhos vermelhos do mais jovem.
Dan tenta dizer a ele que sim, que ele é um ótima pessoa. Que não precisava se preocupar. Mas e a verdade? Ele realmente alguém bom? O seu sangue ainda escorria pelo braço, ele não entende como isso é possível depois de perder tanto. Dentro desta nova poça que se formou tem uma família, feliz, mas que foi morta sobrando apenas uma criança que foi levada por Mei. O pequeno gritou novamente, chamado Dan de covarde, idiota, que ele não é ele mesmo, que ele iria acabar dentro de um poço vazio, que aos poucos seria cheio de água até sufocá-lo.
- Mei o ama, sempre o amou - falou sombriamente - mais que ama você. Aliás você só é um moleque que ela adotou, nem filho é realmente!
É verdade, não há mentira em suas palavras, contudo a verdade machuca e o ódio fez com que Dan silenciasse o menor com o objeto que aparece em sua mão, uma katana. Os sons cessaram, a calma voltou a si, não há mais choro, somente as próprias asas absorvendo todo o sangue que tem no local se tornando negras.
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A procura do Amanhã
CasualeDan, sempre foi uma criança e adolescente responsável, mas tudo mudou quando decide encarar o próprio passado e sem conhecê-lo não consegue olhar para frente. O futuro parece inviável diante a neblina que cobre o passados, mas será que o pequeno e i...