Senti um jato de água gelado sobre mim, me desprendendo do sonho que tive. Tudo era confuso demais para fazer com que eu me lembrasse totalmente dos acontecimentos. Antes de sair de casa e ser encontrado no meio do nada eu briguei com Mei. Nossa relação estava sendo boa a um tempo, só isso que eu tinha certeza. O restante era apenas vultos, sombras de algum pensamento, mas ainda via Mei falando comigo, nada que ela dissesse seria cem por cento real.
- Acorda! - At gritou me empurrando, com o que parecia ser o seu pé - Precisamos conversar!
- E pra que me molhou? - perguntei confuso - Podia só ter falado.
- Eu falei, mas não me escutou - replicou me jogando uma toalha - o que tanto sonhava?
- Não sei - disse me virando e tirando a roupa molhada - algo comum, nada de importante.
- Vou fingir que acredito. - respondeu tomando um ar sombrio - Nós vamos tentar entrar para os FN's? Posso fazer isso sozinho se quiser.
- Ok - falei lembrando que esse grupo tinha uma grande importância, só não sabia qual - vamos entrar.
- Amanhã arrumos as coisas para nós, então - sua voz possuia um tom de ódio, minha percepção sobre isso era melhor com os seres alados como eu.
- E seus pais? - perguntei por instinto, não sabia nada sobre eles - Estão bem?
- É mesmo você ficou este tempo desacordado... - sorriu de canto em meio as palavras - Estão bem, como humanos agora e não Eshys, eles estão se acostumando com a falta das asas. A isso me lembra que vou sair da sua casa e vou voltar para minha.
- Você vai embora então? - respondi como achei que seria o normal - Foi bom enquanto esteve aqui.
- Talvez - seu expressão era totalmente outra - o seu jantar está na mesa. E mais uma coisa Sam também vai embora, irá morar na escola - disse saindo do quarto.
Tudo bem, me senti mal por não ficar chateado com a ida dos dois. Eles possivelmente eram pessoas importantes para o Dan antes dos 14 anos, outro fato interessante que eu descobrira. No dia em que eu sai de casa e atropelei um outdoor era meu aniversário de 14 anos e como presente perdi a memória. Tentei ficar triste, achar razões para isso, mas nada me veio a mente. Nada relacionado aqueles que estavam mais perto de mim. Foi jantar e comecei uma pesquisa no meu smartfone, não quis procurar o que aconteceu e sim por que que eu não lembro.
O nosso cérebro tenta manter o corpo em perfeito estado. O hipotálamo é o responsável pela maioria se reações químicas que acontecem em nós. Ele que controla a nossa temperatura, porém há um momento que ele perde o controle e a temperatura sobe muito, nos deixando com febre alta. Há casos que nossa mente inibe a dor, por ela ser extrema, em outros ela apaga ou esconde memórias. Neste acontecimento o cérebro tenta disfarçar episódios traumáticos sofridos pela pessoa. Na maioria das vezes é somente a perca de anos, dias ou até décadas, mas não achei nenhum relato dizendo que esqueceram de pessoas próximas.
Minhas suspeitas me levaram a pensar que como eu possivelmente já tinha um problema com episódios ruins, um trauma fez com que meu cérebro se reorganizasse para um recomeço, encobrindo a causa do que me atormentava. Terminei de jantar e fui deitar e tentar dormir, as vozes do sonho voltaram a minha mente. Mei mentiu para mim, mas por que amava Marco e não assumia para si mesma? O ódio não é aversão ao amor, é a negação de que possa senti-lo. Melhor pensar que nada é sentido do que sofrer. Pensei que ter perdido a memória não foi tão ruim assim, pelo menos agiria friamente, ou sem influências do passado. Analisando a verdade, ou pelos menos parte dela, a que eu agora vejo.
- Desculpe-me - disse na porta do quarto de Mei - eu não deveria ter agido daquela forma. Você não me deve explicações Mei - um deslize, ela é minha mãe não?
- Tudo bem - falou me abraçando e retribui por reflexo - a culpa é minha. Sempre o amei, mas a raiva que sentia dele encobria meus pensamentos. Eu que lhe peço desculpas, já que a errada sou eu.
- Ok, agora vou para o meu quarto - respondi me virando e indo embora, o ar de lá não me agradava muito.
- Dan - chamou com a voz trêmula - se puder volte a me char de mãe, me sinto mal quando te escuto me chamando de Mei...
- Como quiser - eu não a chamo de mãe? - boa noite... mãe?
- Boa noite - me respondeu e uma pergunta surgiu na minha cabeça, e aquele bebê quem era?
Avistei os garotos que vira a algum tempo atrás e fui falar com eles. Todos me cumprimentaram, mas sem abaixar a guarda, o único que veio sem receios foi Eliot, o único também que eu lembrava. Este nome era familiar, eu já conhecia outra pessoa com este nome, só não me recordava quem era, nada de diferente do restante das coisas. Tudo era somente impressões, nada de concreto.
- O que você quer com a gente? - um deles perguntou sério - Veio se desculpar novamente ou para brigar?
- Nenhum dos dois. - respondi analisando que o grupo estava ferido assim como eu. Brigamos? - Vim saber se posso andar com vocês.
- Não.
- Sim.
- Como sim?! - o loiro perguntou indignado - Eliot e Jonas não podemos deixar ele andar com a gente e muito menos deixar ele entrar no FN.
- Calado Rafael - Eliot disse friamente - eu sou o irmão do Gabe, portanto quem manda aqui sou eu.
- Não querendo me intrometer - falei interrompendo os dois que se olhavam com ódio - mas intrometendo. Eliot qual é a origem do seu nome? Tenho a impressão que conheço, mas não seu...
- É uma homenagem a um amigo da família, ele morreu uma semana antes deu nascer. Gustavo meu outro irmão foi contra, mas como foi embora nunca teve muito contato comigo.
- Desculpa ter perguntado. Então posso entrar ou não?
- Motivos? - Jonas começou a me interrogar
- Nenhum.
- Por que lutou contra nós?
- Não sei.
- Diz a verdade?
- Até o momento que minha vida dependa da mentira.
- Vai nos trair.
- Só depois da sua traição.
- Nos defenderá?
- Se for recíproco.
- Não tenho nada contra - concluiu.
- Também não teria motivos para ser, eu decido. Sim Dan você está com a gente agora.
Um problema a menos a se pensar, eu comecei a fazer parte do grupo dos FN's, mesmo sem saber o que significa essa sigla. Conquistei novas amizades, visto que eu tinha brigado com eles e ambos os lados saíram feridos. At aceitou bem a minha atitude, mas não conseguiu entrar, Jonas devia ter feito todas as perguntas que fizera comigo. As feições dele dizia que ele havia sido sincero, não totalmente, mas o suficiente para não o querem em grupo. Mesmo sem memória eu sabia que Mei não gostaria nada de saber que eu entrei na FN, Gabe, o tal irmão mais velho de Eliot, também era um empecilho. Quem era Gustavo? Eu o conheço, porém não sei mais nada a seu respeito. Sinto que estou no meio de uma luta, sem informação nenhuma, sem um exército definido, nada em mente. Um soldade perfeito, facilmente moldado, intendentemente de qual dos dois lado será levado, este era eu, sem uma trajetória traçada.
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A procura do Amanhã
AcakDan, sempre foi uma criança e adolescente responsável, mas tudo mudou quando decide encarar o próprio passado e sem conhecê-lo não consegue olhar para frente. O futuro parece inviável diante a neblina que cobre o passados, mas será que o pequeno e i...