Eu estava deitado na minha cama pensando em como iria perguntar novamente para Mei sobre a minha árvore genealógica. Sempre tive este problema, desde criança, na minha certidão de nascimento só há o nome da minha mãe, Mei Ilun, mas mesmo ela, me disse que eu sou adotado sem me dar mais detalhes.
Quando menor era sempre a mesma coisa, minhas professoras insistiam em pedir esta maldita árvore e eu fazia uma onde Helena e Mei estavam como mãe, Guilherme como pai e Leandro, Jonathan como tios e irmãos. Depois colocava um círculo cortado e Helena e Guilherme como pais de Mei, resumindo fazia duas árvores genealógicas e nenhuma delas serviam.
Minha mãe, Mei, sempre disse que isso era bobagem e conversava com as professoras pedindo que não fizesse estas perguntas ou que não questionassem nossa família. Depois se desculpava por nossa família ser diferente e se culpava por ser assim, nunca entendi direito o por quê.
Nunca a culpei por não entender minha família, para mim ela seria minha mãe, Helena minha avó que sempre cuidou de mim, mas que logo me passou para Mei. Eu cheguei em um momento conturbado na história dos Eshy's, o grupo ao qual pertenço, e depois entrei definitivamente na vida de Mei em uma situação complicada para ela.
Ela havia se separado de um namorado que teve, por motivos que ninguém quis me contar, aliás o que uma criança de 10 anos pode entender da vida de adultos? Só sei que ele se chama Marco e algumas vezes eu o vejo e ele me trata super bem, até a minha mãe chegar e os dois se olharem estranho.
Decido me levantar e perguntar novamente a minha mãe como farei minha árvore genealógica, o último trabalho de ciências que faria no ano. Peguei uma folha e caneta e fui até a cozinha para lhe perguntar:
- 'Mãnhe, você pode me ajudar no meu trabalho de ciências?
- Claro - respondeu afagando meu cabelo - sobre o que é seu dever?
- Minha família - seu olhar vacilou, mas eu queria saber mais.
- Quem é sua família? Não sou eu, o John, Helena, Leo e Guilherme?
- É, mas, é que todos meus amigos tem pais, alguns são separados; outros não, mas eu não sei nada, só sei que tenho você. Podia me contar mãe.
- Não posso - ela estava com lágrimas nos olhos - eu queria te dizer quem é seus pais, mas eu não sei. Me desculpe, me desculpe por não ser o suficiente, é culpa minha sua vida ser assim, mas eu tentei fazer o meu melhor.
- Você é a minha família - a abracei e ela também, ficamos assim, como se eu fosse o mais velho - eu te amo, mamãe.
- Também te amo, quando souber mais - falou limpando algumas lágrimas - de seu passado eu te conto, ou quando tiver mais idade para isso. - sussurrou a última parte para que eu não ouvisse, mas eu entendi, talvez eu não devia perguntar mais - Você quer um sorvete?
- Sim!
Saímos para tomar sorvete, não entendia porquê ela não tinha um namorado, apesar de saber pouco sobre o mundo a considerava bonita, jovem e inteligente e percebia que ela atraia alguns olhares. Depois do último namoro ela esteve sozinha, com 26 anos estava solteira e com um filho por motivos misterioso para mim.
- Que lindo menino - falou uma senhora que passava na rua - os olhos dele são diferentes, não?
- Não são - Mei respondeu normalmente, apesar de não gostar destas perguntas, podiam descobrir que sou um Eshy - talvez seja a luz, mas realmente ele é bonito.
- Oh, claro, hoje está um dia tão claro, que o castanho dos olhos dele me pareceu ser vermelho, na tonalidade de vinhos.
Mei me colocou para trás e segurou sua espada que ficava sempre de modo estratégico em sua mochila que nunca saia sem. A senhora seguiu seu caminho até um beco, nós fomos ao caminho contrário, o risco dela descobrir quem eu sou era grande, mas na época eu não entendia que o preço a se pagar caso ela soubesse. Seria uma luta e, talvez, minha vida e a vida da minha mãe.
Perdi meu sorvete, mas consegui distrair minha mãe, ela estava muito preocupada. E por minha causa um pouco triste, não entendia o por quê não falar para mim qual era o meu passado, como que ela me encontrou, quem me levou para Helena me cuidar e se eu não era filho legítimo da Mei.
Sempre estranhei ter meu nome resgistrado como filho dela e não ser. Talvez o tal ex-namorado, Marco, fosse meu pai, mas minha mãe Helena me jurou que não. Eu tinha muitas dúvidas para uma criança como eu.
No fim sempre enterrava minhas dúvidas em um canto qualquer dentro de um caderno que Marco me entregou secretamente. Por algum tempo, logo que eu foi para casa da Mei, à uns 4 anos atrás, ele passava todo dia na porta de casa.
Começamos a conversar, ele dizia que não aprovava a vida da minha mãe, mas que isso não era conversa para criança. Quando aprendi a ler e escrever ele me deu um caderno e pediu que eu escrevesse nele tudo que achasse importante. Na hora que eu terminasse este era para lhe entregar que ele me dava um novo em branco e outro escrito por ele.
Minha mãe descobriu que ele rondava nossa casa e o expulsou, assim estou com um livro completo cheio de perguntas e um novo esperando pelo dia em que Marco me visse novamente. Queria perguntar muitas coisa, se ele era meu pai, se ele sabia qual era meu passado, afinal eu só era uma criança e tinha muitas dúvidas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A procura do Amanhã
AcakDan, sempre foi uma criança e adolescente responsável, mas tudo mudou quando decide encarar o próprio passado e sem conhecê-lo não consegue olhar para frente. O futuro parece inviável diante a neblina que cobre o passados, mas será que o pequeno e i...